quinta-feira, 12 de novembro de 2020

Vamos ao tribunal




“Vamos ao tribunal!”


Apenas o verbalizar esta afirmação, na maior parte dos casos, gera uma espécie de “nervoso miudinho”. Além de ser uma situação, por norma, atípica é também um sítio que automaticamente associamos à lei e a quem a transgride.

A maior parte de todos nós não necessitamos de recorrer a esta instituição pública muitas vezes ao longo da nossa vida e quando isso acontece esperamos que não seja por motivos muito difíceis de resolver.

As vítimas de violência doméstica são, infelizmente, expostas a este gatilho de ansiedade e grande parte destas nunca teve quaisquer razões para entrar num tribunal, sendo por isso uma razão para se sentirem altamente desconfortáveis e até com sentimentos de vergonha e culpa. Por esse motivo é importante desmistificarmos alguns conceitos, principalmente aqueles associados aos diferentes intervenientes que poderão estar presentes numa ida ao tribunal.

Primeiro é necessário desmantelarmos a ideia de que só vai a tribunal quem comete algum crime. Esta afirmação enraizada na nossa cultura e sociedade está bastante errada, ora vejamos:

No tribunal trabalham diferentes pessoas em diferentes cargos e serviços, fazendo coisas bastante distintas e todas elas ajudam para que sejam tomadas decisões justas e adequadas a casa caso.

Oficiais de justiça são profissionais que trabalham no tribunal e são responsáveis por chamar as diversas pessoas para a sala, pela colocação dos microfones, gravação de áudio ou vídeo das audições, e também por escrever aquilo que é dito por todos.

É também no tribunal que são ouvidas as pessoas que querem contar o que se passou com elas em diferentes situações, que estiveram envolvidas ou das quais tiveram conhecimento. No caso das vítimas de violência doméstica é aqui que serão ouvidos os seus depoimentos e relatos daquilo que têm vivido/já viveram.

Diferentes técnicos podem estar também presentes em tribunal, no caso das vítimas de violência doméstica, por vezes os/as psicólogos/as e/ou os/as técnicos/as de apoio à vítima que as acompanham poderão ser chamados a intervir fazendo um depoimento também ou apenas a acompanhar as vítimas para que se sintam mais confortáveis.

Quem são as pessoas que questionam e ouvem os diferentes depoimentos:

O/A procurador(a) é quem defende os direitos e interesses da pessoa e que, por essa razão, no processo de audição (audiência), também poderá fazer-lhe perguntas.

Os/As advogados(as) são os profissionais que defendem os seus clientes, fazendo perguntas às várias pessoas envolvidas no processo, tentando sempre defender os direitos e interesses dos seus clientes.

O/A juiz(a) é o/a profissional que, depois de ouvir todos os intervenientes de um processo, toma uma decisão final e para que essa decisão seja justa e adequada às diferentes situações que possa ter conhecimento faz muitas perguntas.

Ora de forma muito generalizada percebemos que o tribunal trata-se de um local público onde as pessoas procuram resolver os seus problemas, com a ajuda do juiz, do procurador e dos advogados. Quando alguém é acusado de ter feito alguma coisa (ex: acusado de cometer o crime de violência doméstica) também tem o direito de ser ouvido e julgado com imparcialidade. Se forem reunidas provas de que é o responsável pelo crime, será considerado culpado. É por esta razão que contar a verdade e tudo o que sabem/viveram em tribunal é muito importante.

Como vimos a esmagadora maioria dos intervenientes que estão num tribunal não cometeram crimes, apenas estão lá para ajudar. Portanto se vamos ou procuramos ajuda junto de um tribunal não nos devemos sentir ansiosos, envergonhados ou culpados. Vamos procurar ajuda indicada no local indicado.

 

(Baseado em “O João vai ao Tribunal” de Eunice Guerreiro, 2016 – Ordem dos Advogados|Conselho Regional de Lisboa)

 

 

Raquel Costa

Psicóloga, UMAR Açores – Delegação da ilha Terceira


Publicado na Página IGUALDADE XXI no Jornal Diário Insular de 19 de Setembro de 2020


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