sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Destaque do Mês de Novembro de 2009

Maria Clara Dias Costa

Natural da freguesia do Raminho, Maria Clara Dias Costa, de 13 anos, começa por nos recordar “Turlu”, nome artístico de Maria Angelina de Sousa, que foi até hoje, a mais reconhecida mulher Cantadeira ao Desafio na Ilha Terceira. Entusiasmada com este exemplo, a jovem comparte as suas andanças pelo mundo do desafio.
Sensivelmente à dois anos, durante o Pezinho Regional, os Mestres do Improviso, como é tradição, bateram-lhe à porta, para dar graças ao Criador da casa, neste caso ao seu pai, pelo contributo ao Divino Espírito Santo. Surpreendidos ficaram, quando Maria Clara, na altura com apenas 11 anos de idade, respondeu-lhes ao desafio. Animados por estas duas cantigas, convidaram-na posteriormente, com o consentimento dos pais, a participar num Desafio que iria decorrer numa festa de Natal. No entanto Maria Clara considera que “as portas das cantigas ao desafio se abriram” quando António Mota e Marcelo Dias a convidaram a participar na Festa do Cantador, aonde diria uma cantiga. Pensou ela “estarão lá 10 ou 9 cantadores, cada um dirá a sua cantiga e eu terei tempo para pensar na minha”, acabando por aceitar o desafio. Durante o almoço de domingo, antes da actuação, subitamente, António Mota subiu ao palco e propôs à jovem um desafio: “Não sei o que me passou pela cabeça, levantei-me e fui, (…), e graças a Deus, não sei como, não me enrasquei em nenhuma cantiga, conseguindo responder a tudo”, conta Maria Clara. Convictamente afirma a sua paixão pelo palco, a multiplicidade de sensações que este oferece, as palmas recebidas, os risos do público e o “brilho no olhar das pessoas”, “não há sensação melhor”, acrescenta.
Mais a sério a sua primeira actuação foi nas Festas do Raminho no dia 1 de Setembro 2009 com o Cantador Marcelo Dias, “mas não correu assim tão bem”, comparativamente com a experiência anteriormente referida. “Cada desafio é um desafio, não há um desafio igual, nunca sabemos que tema ou assunto vamos cantar”. A tarefa árdua desta arte é, por exemplo, quando o outro cantador ”está a cantar os primeiros dois versos de um tema, e começamos a pensar numa cantiga para esse tema; depois nos últimos dois versos ele faz uma pergunta e nós temos que esquecer completamente aquilo que tínhamos pensado e responder”, sendo que, temos aproximadamente três segundos, tendo em conta o acorde da viola, antes de responder.
Considera que o facto de ser a única jovem mulher entre tantos Cantadores até é “original”; “é como se fossemos uma grande família, tentamos sempre ajudar-nos uns aos outros (…) são todos fantásticos”.
Maria Clara aprecia e escreve poesia, o que lhe ajuda a melhorar, cada vez mais, esta arte de rimar, assim como as aulas de Português. Enfatiza que tem sorte por poder estudar visto que a maioria dos Cantadores não teve essa oportunidade. “A juventude hoje em dia não se interessa por estas coisas”, embora os seus amigos/as achem “piada” à amiga Cantadora. Maria Clara apenas conhece um outro jovem jorgense de 18 anos que se interessa pelo improviso. Ciente diz: “não quero deixar morrer a tradição, (…), se a juventude não se interessar, muitas tradições vão-se perder, (…), deve-se incentivar não só as mulheres mas os mais novos”, e oferece-nos as seguintes quadras:

Não canto apenas por cantar
Tal como alguns conseguem ver
Eu faço-o por disto muito gostar
E para tentar a tradição manter.

Há anos morreu Maria Angelina
A única que se atreveu aos palcos entrar
Agora, apareceu esta menina
Para fazer com que o nome das mulheres volte a brilhar

Para fazer um desafio, há que saber!
E o palco em nossas vidas, é sempre tão bom
Mas o desafio, não se ensina, nem se pode aprender
Porque é algo que nasce connosco, considera-se um dom!

Da Terceira eu sou filha
Até nem por muitas razões
Mas o que seria da nossa ilha
Sem as suas divinas tradições?

Oh bela rima, espero que sirvas!
Para os nossos jovens alertar
Se as tradições querem manter vivas,
Por elas têm que se interessar!

E sem muito mais a adiantar
Esta quadra, aqui fica
Agradecimentos dou ao Diário Insular
E a toda a sua equipa.

O/A leitor/a interessado/a poderá encontrar um conjunto de compilações de Canções ao Desafio, entrevistas, entre outras imagens, com Maria Clara Dias da Silva no espaço comercial Sapateia em Angra do Heroísmo.

Carla Garcia
Raquel Fontes

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 4 de Dezembro de 2009

Sem comentários:

Enviar um comentário