sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Destaque do Mês de Janeiro de 2010

Dra. Paulina Oliveira

“A Igualdade de Oportunidades não significa igualizar as pessoas, ou seja apagar as diferenças e as identidades, mas antes proporcionar condições para que cada pessoa possa desenvolver o seu talento e as suas capacidades”

In Igualdade de Oportunidades no Trabalho e no Emprego; Texto: Maria Amélia Paiva pp.34


Sendo a UMAR - Açores uma associação que defende os direitos da mulher na lei e na vida, bem como, a promoção da igualdade de género, esta procura que homens e mulheres beneficiem das mesmas oportunidades, promovendo assim, uma sociedade mais justa. Embora a nossa sociedade tenha evoluído muito em termos de mentalidade, a luta para a igualdade de género continua a ser diária e muitas mulheres ainda se sentem vítimas de um preconceito sexista que afecta o acesso a profissões, ainda consideradas por muitos, como sendo destinadas aos homens.
A aceitação crescente, por parte da sociedade, de que no mundo do trabalho, não existem profissões de domínio masculino, permite que muitas mulheres possam triunfar em várias áreas profissionais, como foi o caso da Dra. Paulina Oliveira de 56 anos, natural da freguesia de Vila Nova na Praia da Vitória, licenciada em Direito.
Tendo sido influenciada, desde cedo, pelo Advogado, Dr. Valadão, devido “ao que ele transmitia”, a seguir a carreira de advocacia, a Dra. Paulina Oliveira começou a exercer a sua profissão aos 27 anos de idade. Foi a primeira advogada a exercer na Ilha Terceira, numa altura em que esta profissão, na ilha, era apenas exercida por homens.
Não fazendo nenhuma distinção entre trabalhar com homens e mulheres, afirma que, desde o início, teve sempre ajuda de todos os seus colegas. Confessa nunca ter sentido que houvesse “o mínimo de problemas ou que ficasse prejudicada pelo facto de ser mulher”.
Apesar de ter conhecimento de que muitas mulheres vivenciavam esse tipo de situações no seu local de trabalho, nunca compreendeu muito bem, porque lhe perguntavam como era trabalhar num mundo maioritariamente de homens. Para ela era uma situação natural e nunca sentiu “qualquer tipo de discriminação pelo facto de ser mulher”. Na sua perspectiva, manteve sempre uma boa relação com os seus colegas e supõe até que, nos primeiros tempos, estes viam-na como “uma irmã que é preciso ajudar”.
No exercício da sua profissão nunca sentiu que não lhe era dada a devida credibilidade por ser mulher, na verdade, “via que as pessoas recorriam a mim, como recorriam aos meus colegas e actualmente também”.
Como nunca sentiu qualquer tipo de discriminação não pode afirmar que nos dias de hoje o acesso a esta profissão seja mais fácil para uma mulher, mas na sua opinião, considera que a sociedade actual encara a mulher nesta profissão como qualquer outra mulher em outra função.
Em tom de curiosidade, e uma vez que a UMAR também intervém ao nível da violência doméstica, questionámos a Dra. Paulina se alguma vez havia trabalhado num caso desta natureza. A sua resposta foi negativa. Nas suas palavras, seria necessário muita força, por parte da mulher, para prosseguir com este tipo de queixa. Para além disso, estas nunca chegariam a julgamento, visto que na altura este tipo de situações, não era considerado crime público. Todavia, com a alteração que a lei sofreu, “agora as coisas tem de ir até ao fim e de certeza absoluta que deverá haver uma diminuição acentuadíssima da violência doméstica (…) isso foi das coisas muito boas que apareceu na nova lei”. No entanto, viveu intensamente, durante muitos meses, um caso de maus-tratos, em âmbito de instituição, que a marcou profundamente. Eram pessoas conhecidas e amigas que estavam a ser acusadas. Para a Dra. Paulina, esta situação não tinha fundamento e afirma que para si “a liberdade é a pedra fundamental da vida”.
Passados 30 anos de carreira, a Doutora Paulina considera-se uma privilegiada por nunca se ter sentido discriminada, referindo, “só tenho a agradecer aos meus colegas. Tive na verdade muita sorte”
Histórias de sucesso são o que todos nós procuramos. No entanto, nem sempre encontramos. Cabe a cada cidadão/ã, contribuir para que testemunhos deste tipo sejam uma realidade e não apenas um desejo para muitas mulheres que, diariamente, se vêem confrontadas com o preconceito e a discriminação.

Carla Garcia

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 29 de Janeiro de 2010

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