terça-feira, 8 de junho de 2010

Destaque do Mês de Maio de 2010

Professora Alice Silveira

"A verdadeira solidariedade começa onde não se espera nada em troca."
(Antoine De Saint Exupery )

Com formação na área do ensino (1º Ciclo), a professora Maria Alice Costa Silveira, teve sempre o “bichinho da actividade física” portanto, quando surgiu a oportunidade de realizar uma formação na área de Educação Física, não hesitou, tendo leccionado nessa área até 2006.
Para além do ensino, esteve sempre ligada à actividade física através de diferentes modalidades desportivas, pois, foi sempre uma área que a “fascinou”, confessa. Foi jogadora da 1ª equipa de basquetebol feminino do Lusitânia e integrou numa equipa açoriana que participou nos famosos Jogos Sem Fronteiras, uma experiência que descreve como “fantástica”. Mais tarde, entrou no mundo da patinagem de velocidade onde, foi treinadora, durante 7 anos, assim como seleccionadora nacional, durante uma época desportiva, outra experiência que a marcou pela positiva.
Desde 13 de Dezembro de 2005, é presidente da APACDPV – Associação de Pais e Amigos da Criança com Deficiência da Praia da Vitória, uma área com a qual nunca havia tido anteriormente, um contacto directo, mas afirma que “tem sido um desafio muito interessante”. O CAO – Centro de Actividades Ocupacionais da APACDPV, situa-se numa antiga escola primária nas Amoreiras – Santa Rita. Esta foi totalmente adaptada e reformulada, em equipamentos e na sua estrutura, estando o espaço “fantástico, muito acolhedor e simpático”, onde se realizam inúmeras actividades. No entanto, revela que há a “necessidade de aumentar para dar cobertura a outros utentes que estão em casa”, por este motivo, de momento, a direcção está a caminhar num novo projecto, o de “crescimento”.
“Toda a gente tem a ideia de que um deficiente não é capaz de fazer nada e ver o crescimento e ver as capacidades destes utentes a fazerem coisas extraordinárias e a progredirem tem sido uma experiência muito gratificante”, afirma. Confessa que por vezes acaba por se esquecer do tempo e ficar por lá todo o dia, pois “eles contagiam-nos”, “é mesmo viciante”. Na sua perspectiva, considera que ainda há muita discriminação por parte da sociedade para com esta população. Por vezes, nota “quase que uma repulsa e aquele género do coitadinho”, atitudes estas que a incomodam bastante. Põe esta razão, convida a todos a irem conhecer “as actividades deles, o bem-estar que nos conseguem proporcionar”. Apela à sensibilidade dos cidadãos dizendo que “as pessoas não têm que ter pena, esse sentimento não faz bem a ninguém”, pelo contrário “convivam com eles, falem com eles que eles irão responder-vos, eles adoram”.
De salientar, que as actividades e os eventos em que participam os/as utentes da APACDPV são publicados mensalmente, no jornal “O Amigo”. ”Eles têm imensas actividades, temos muito bom acompanhamento e estão muitíssimos bem, felizes da vida”. Sente que existe uma grande união entre todos. Para além disso, para esta direcção, é muito gratificante o reconhecimento dos pais pelo “bom trabalho que se tem feito”, devido, principalmente, à “equipa fantástica” que trabalha com os/as utentes, fazendo com que todos gostem do trabalho que realizam e “sinceramente, acho que eles merecem que as pessoas se dediquem a que este trabalho tenha sido feito”.
Como pessoa dinâmica e humanitária que é, o seu desejo de dar de si ao outro não poderia ficar por aqui. Para além deste trabalho, a professora dedica-se também ao voluntariado, há aproximadamente 4 anos. Às Segundas e Quartas-feiras, faz voluntariado na Academia da 3ª Idade, na Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo, com aulas de psicomotricidade. Nunca havia trabalhado com este tipo de população e descreve a experiência como sendo “formidável”. É uma aula muito movimentada “quer física, quer mental, quer socialmente”, em que se conversa sobre tudo, “nós partilhamos as dores, as alegrias, é um grupo extraordinário e o bem que esta academia traz às pessoas que a frequentam”. Convidada pela Liga dos Amigos do Hospital, faz também voluntariado às Quintas-feiras na urgência do Hospital de Angra do Heroísmo, “outra experiência magnífica”.
Para esta ser voluntária “é ter tempo disponível! Há quem precise de nós? Vamos!”. Apesar de achar que existem muitas pessoas a fazer voluntariado, considera que a sociedade ainda tem de ser “mais solidária”, visto que “se todos nós dermos um bocadinho, a sociedade fica menos agressiva, menos violenta, e eu acho que faz bem quer a quem recebe, quer a quem dá”, é uma questão de “pensar um bocadinho nos outros, às vezes somos um bocadinho egoístas”, mas se as pessoas experimentarem “vão ver o resultado desse impulso e vão ver como depois sentem vontade de fazer mais alguma coisa”.
Em tom de curiosidade, quisemos saber o que a motiva para se dedicar tanto ao voluntariado. Não nos soube dizer! Segundo ela não costuma pensar nisso, “é necessário, eu tenho disponibilidade, vou, sem pensar na motivação, sem pensar no porquê de… não sei”. Após a reforma sentiu a necessidade de continuar a trabalhar e a dar de si. Foi à procura e descobriu a possibilidade de realizar voluntariado nestas áreas e agarrou a oportunidade. Diz, sentir-se “feliz, gosto muito” é uma sensação “extraordinária”.
Caros/as leitores/as, considero que um testemunho como este nos levará a todos à reflexão. O desejo genuíno de ser útil a quem, por vezes, já nada mais possui senão a boa vontade de um estranho, poderá ser um passo para tornar a nossa sociedade mais humana e menos materialista.

Carla Garcia

Publicado na Página Igualdade XXI do Jornal Diário Insular de 5 de Junho de 2010

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