sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Destaque do Mês de Setembro de 2009

D. Carina Martín

Carina Mariela Martín nasceu no ano de 1972, na província de Santa Fé – Argentina, descendente de Terceirenses (família materna) e de Italianos e Espanhóis (família paterna).
A Carina chegou à Terceira em 1991, tendo na altura 19 anos, para trás deixou um curso de professora primária que ficou incompleto, mas tirou a carteira profissional de oficial de cabeleireiro feminino e fez uma formação de maquilhadora profissional. Já aqui na Terceira em 1995, abriu o seu próprio negócio, sendo empresária desde então. Neste momento é proprietária de um salão de cabeleireiro – Martín Cabeleireiro’s – em sociedade com o seu irmão.
Nos tempos livres tem um hobbie artístico: pintura a óleo (sobre a qual fez uma formação na Oficina de Angra – Casa do Sal), e gosta praticar desporto como a natação e a patinagem.
Ao vir para cá, a Carina refere que não sentiu muitas dificuldades com a língua, pois os seus avós maternos sempre falaram português em casa, as maiores dificuldades verificaram-se na adaptação à sociedade e a um meio pequeno comparando com a cidade de onde veio: Rosário tem três milhões de habitantes. Na altura residiam poucos imigrantes na Terceira, comparando com a actualidade, mas a Carina sente que foi bem acolhida e cita Jorge Luís Borges (escritor argentino – Prémio Nobel): "Qualquer destino, por mais longo e complicado que seja, vale apenas por um único momento: aquele em que o Homem compreende, de uma vez por todas quem é".
Sobre a imigração, Carina pensa que devem equacionar-se políticas que assentem no respeito e na dignidade humana e promovam a igualdade entre as pessoas, independentemente do lugar onde nasceram. A este respeito refere “a Europa da vergonha” e as politicas de imigração que tem sido adoptadas pela União Europeia, que não defendem os direitos dos imigrantes, tornando-se estes alvos de preconceito ao serem responsabilizados pela insegurança, pelo desemprego ou até pelo terrorismo.
Os Açores dadas as suas condições geográficas tem sofrido o fenómeno do isolamento, e a imigração ajuda a combatê-lo. Actualmente nos Açores residem pessoas provenientes de 70 países diferentes, o que deve ser valorizado como enriquecedor a nível cultural. A imigração é fundamental no processo de globalização.
Abrir um negócio por conta própria não foi fácil, na altura não haviam apoios, associações, não se falava em micro-crédito. Não existiam os meios tecnológicos que existem hoje em dia, de modo que foi necessário muito esforço e dedicação para ultrapassar diversas dificuldades. Para Carina, ser empresária e empreendedora passa por ter um espírito activo e positivo, para assumir riscos e compromissos, desafiando o mercado e o sistema. É nas crises que devemos recorrer ainda mais à nossa capacidade de trabalho, refere citando uma frase de Simone de Beauvoir: “o trabalho poupa-nos de três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade”.
Como cabeleireira, nota que as mulheres estão mais exigentes e mais preocupadas com a sua imagem, porque a sociedade assim exige, o trabalho exige uma boa aparência, e se a pessoa se sentir bem, tem mais segurança e uma maior auto-estima que a ajudam a enfrentar as vicissitudes da vida. Carina diz adorar a sua profissão, pois sabe o quão ela é importante para as mulheres.
Em termos de género, verificam-se diferenças entre homens e mulheres transversais à imigração, uma vez que elas sofrem mais assédio sexual e moral no emprego, enfrentam longas jornadas de trabalho ao terem de conciliar vida profissional e familiar, uma vez que ainda hoje, em muitos casos as tarefas não são divididas. Para Carina, as mulheres passaram de um regime de invisibilidade, para um de visibilidade “indiferente”, em diversos aspectos. As mulheres são fundamentais no crescimento da economia dos países, o seu trabalho é gerador de riqueza, de modo que devem existir leis que as protejam e assegurem condições de trabalho justas e igualitárias.
Para finalizar, Carina deixa uma mensagem a todos/as os/as imigrantes: “Não te esqueças de que tu contas, a tua música conta, o teu idioma, a tua comida, os teus sentimentos, a tua cultura… contas TU aqui na sociedade.”

Rita Silva

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 8 de Setembro de 2009

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