quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Jovens mais sensíveis para a discriminação





"Crescer sem Discriminar" é um programa que a UMAR acaba de lançar para sensibilizar as crianças e jovens nas escolas para a problemática da discriminação. Rita Ferreira, psicóloga da UMAR, considera que ainda há muito por fazer nesse domínio.

A UMAR-Açores tem um novo programa denominado "Crescer sem Discriminar" que se destina aos alunos do ensino básico e secundário. Quais são os objetivos desse programa que visa a promoção da cidadania e igualdade?
O objetivo principal deste programa é sensibilizar os alunos e alunas para a não discriminação das pessoas independentemente do seu género, etnia ou cultura, orientação sexual ou situação de deficiência.
A ênfase é dada na questão do género, uma vez que é esta a especificidade da UMAR e se trata de uma questão transversal a todas as outras.
Uma pessoa imigrante, pertencente a uma minoria sexual ou portadora de deficiência sofre mais discriminação se for mulher do que se for homem.
Este programa surge do alargamento das áreas de intervenção do Centro de Informação, Promoção e Acompanhamento de Politicas de Igualdade, entidade gerida pela UMAR-Açores, na Terceira.

De que modo a que as escolas podem receber o vosso programa. Quais as ações que estão programadas?
O nosso programa tem sido divulgado nos órgãos de comunicação social e junto das escolas. Está adaptado para diversos contextos de ensino: básico, secundário ou até profissional.
Quem estiver interessado, pode contactar-nos e solicitar a realização do programa integralmente ou apenas algumas sessões conforme as necessidades do público-alvo.
Estão programadas quatro sessões sobre prevenção da discriminação em função do género, orientação sexual, etnia ou cultura e deficiência. Poderá ser realizada uma sessão extra, dirigida a educadores, professores, pais ou mães, encarregados de educação, onde explicamos o trabalho que será desenvolvido com os educandos.

As crianças e jovens são hoje mais tolerantes com a diferença e para a igualdade ou há ainda um longo caminho a percorrer nesse sentido?
Verifica-se que ainda há um caminho longo a percorrer porque fenómenos como o bullying são disso exemplo. As crianças são por vezes bastante cruéis umas com as outras e em determinadas situações, mesmo que subliminarmente, passam comportamentos de discriminação.
Outro fenómeno que se verifica é a grande incidência de violência no namoro, o que se pode de certa forma relacionar com a violência de género.
A intervenção no sentido da prevenção da discriminação e promoção da igualdade é uma área premente, e a população jovem por revelar maior abertura e recetividade apresenta-se como um público-alvo prioritário e privilegiado para a intervenção.

Outro programa desenvolvido pela UMAR destinado a crianças e jovens das escolas tem como temática a educação sexual. Como está a decorrer esse programa?
Este programa de Educação Afectivo-Sexual tem vindo a ser implementado desde o ano letivo de 2007/2008 e veio de certa forma dar uma resposta que não existia nas escolas, apesar da Educação Sexual estar prevista na legislação, desde 1984.
Trata-se de um programa bastante completo, uma vez que veio introduzir além da educação sexual por si só, a componente afetiva, de sentimentos, de desenvolvimento emocional, a componente de igualdade de género, tentando desconstruir já junto das crianças estereótipos sexistas ainda muito presentes na sociedade e também a componente de prevenção do abuso sexual de menores.
Ao longo dos últimos três anos letivos recebemos inúmeras solicitações para realizar o programa, primeiro nas escolas primárias com o primeiro ciclo, depois adaptando e alargando ao terceiro ciclo, ensino profissional e outros contextos como a Associação Cristã da Mocidade (ACM), junto de uma população-alvo com necessidades especiais.

Situação das mulheres

Sendo a UMAR uma associação vocacionada para a proteção dos direitos das mulheres como se caracterizar a situação da Terceira nesse domínio tendo em conta a vossa experiência?
A UMAR é uma associação vocacionada para a defesa dos direitos das mulheres e para o seu empoderamento enquanto pessoas. Temos também como missão alertar para as situações de discriminação, promovendo uma maior consciência social e dar visibilidade ao papel da mulher nas várias áreas da sociedade, como é por exemplo o trabalho das mulheres na pesca.
Relativamente à situação da Terceira, verificamos que a maioria das mulheres ainda permanece muito centrada na esfera privada do lar, da família, de modo que há um longo caminho ainda a percorrer para que a sua participação na esfera pública da sociedade terceirense se assemelhe à dos homens.
Outra das nossas vertentes é intervir na problemática da Violência de Género e Violência Doméstica, uma vez que recebemos mulheres vítimas no nosso Centro de Atendimento, a quem prestamos apoio jurídico, psicológico e social.
Também chegamos a receber situações de discriminação no trabalho. Na Terceira, verificamos que ainda há uma grande incidência de violência doméstica sobre as mulheres, o que se trata na verdade de uma questão de violação de direitos humanos.
Neste sentido, é importante trabalhar na prevenção e na sensibilização para a denúncia, uma vez que se trata de um crime.

Entrevista Publicada no Jornal Diário Insular de 3 de Outubro de 2010

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