Workshop
Ser Feliz no Singular - 9 de Maio de
2014 na UMAR Açores
As
relações, sejam elas de que tipo for, são por si complexas. Não fossem elas
compostas por mais do que uma pessoa, isto é, por mais do que uma
personalidade, mais do que um sentimento ou pensamento. Mas as relações
amorosas são especiais. São elas que nos dão “borboletas no estômago”, um
sentimento de pertença ao mundo dos enamorados, experienciar emoções de amar e
ser amados e de ter os contributos sociais e
psicológicos (filhos, ser desejado, enaltecimentos das qualidades) de estar
numa relação. Contudo, bonitos contos de fadas podem não acabar felizes para sempre.
Experienciar
o fim de uma relação é passar por um processo de luto doloroso e invisível.
Invisível porque sente-se um turbilhão de sentimentos e emoções muito
semelhantes a uma perda real. Numa relação perdemos a expetativa de viver
felizes para sempre; a cumplicidade, a confiança, o afeto daquela pessoa e uma
rotina diária sempre pensada a dois e nunca a um. Estas foram algumas das
razões que Renascer – Grupo de Apoio ao Luto foi fundado. Como o nome indica é
um grupo que pretende apoiar a comunidade em luto e que é constituído por
psicólogas. Quando ouvimos falar em luto, automaticamente pensamos em morte,
mas o luto vai para além disso. O luto é a reação a uma perda que pode ser real
ou simbólica. Ao longo da vida vamos sofrendo perdas inevitáveis, quer seja a
morte de um ente querido, uma separação ou até mesmo uma perda de expectativas.
Há pessoas que conseguem fazer o luto sozinhas mas há outras que necessitam de
algum apoio e é nessas alturas em que o Renascer pode intervir. Dado o
interesse comum na temática, realizou-se um workshop no dia 9 de Maio
intitulado “Ser feliz no singular”, decorrente da parceria do Renascer com a
Umar – Delegação Açores, onde foi abordado o luto nas relações e de que forma
isso pode afetar a autoestima das mulheres.
Quando
estamos numa relação que não é suficientemente boa ou até mesmo quando temos um
companheiro abusivo, a nossa autoestima e autoconceito ficam debilitados.
Embora a autoestima seja a forma como nós nos vemos e a opinião que temos sobre
nós mesmos e sobre as nossas ideias, atribuindo-lhes assim sentimentos
negativos ou positivos, também há uma influência dos outros, pois para
construirmos essa ideia de nós mesmos temos de o fazer através das experiências
que vamos tendo ao longo da vida e no meio em que estamos inseridos, que é
formado pelas pessoas que nos rodeiam.
Estar
numa relação abusiva faz com que o processo de luto se inicie ainda mais cedo.
Desde a primeira agressão que iniciamos o luto das expetativas entre o que
esperávamos da relação e o que realmente recebemos dela. É o lutar contra
sentimentos de frustração, tristeza e revolta e pensamentos incansáveis para
perceber de quem é a culpa e porque aquilo aconteceu. São esses, e muitos mais,
pensamentos e sentimentos característicos das fases do luto numa relação.
Inevitavelmente, a primeira fase é a negação
em que o sentimento de incredulidade acerca do que está acontecer é
predominante. Os sentimentos de confusão
e revolta denominam a segunda fase do luto numa relação. É a falta de
controlo perante o desmembramento da sua relação que causa esses sentimentos,
principalmente quando a pessoa nada fez para causar o fim da relação ou para o
seu detrimento. De seguida é esperança de conseguir reconstruir ou dar mais uma
nova oportunidade à relação. Racionalização
é a terceira fase pela qual as pessoas passam. Contudo quando isto não tem
efeito chega à fase da depressão e
percebe que tudo o que tentou trabalhar não resultou e o desfecho será mesmo a
separação. Sintomas de depressão podem, então, surgir. Não é fácil sair desta
etapa e chegar à tão esperada aceitação.
Aqui não pedimos que a pessoa esqueça o seu parceiro (a), muito menos os tempos
de convivência e cumplicidade, mas há que aprender a viver e conviver com a
perda da relação.
Renascer – Grupo de Apoio ao Luto
Publicado na página IGUALDADE
XXI no Jornal Diário Insular de 4 de Junho de 2014
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