quinta-feira, 20 de setembro de 2018

REALIDADE DOS NOSSOS DIAS ...


O meu trabalho exige que me desloque pelas ilhas dos Açores contatando com muita gente de vários estratos sociais, idades e géneros. Por essa razão já vivenciei casos de alegada violência doméstica, desigualdade entre géneros e supressão de um membro em relação ao outro. Quando me foi proposto por um membro da UMAR escrever um pequeno texto sobre a minha opinião e a minha perspetiva em relação aos problemas referidos anteriormente não hesitei e entre os muitos casos optei por dois dos mais comuns e que têm vindo a aumentar atualmente.

Durante essas deslocações tenho observado nos últimos anos um aumento da emigração, sobretudo do Brasil, fruto de relacionamentos online, onde mulheres saem do seu país, acompanhadas muitas vezes por filhos menores, sem terem bem a noção do que vão encontrar. Quando chegam ficam sem trabalho e as suas habilitações literárias não são reconhecidas no nosso país. Por vezes encontram-se em relações abusivas para si e para os filhos, sem recursos financeiros para poderem regressar ao seu país ou sair dessas relações.

Ao contatarem comigo procuram uma valorização profissional de modo a alcançarem uma vida mais estável e independente, no entanto encontram-se economicamente dependentes dos companheiros que muitas vezes as controlam tanto financeiramente como socialmente, evitando contatos e amizades com outras pessoas fora do âmbito familiar. Muitas vezes sinto o medo das crianças face aos companheiros da mãe que são agressivos, (na minha presença), verbalmente com elas.

Tento sempre incutir-lhes a necessidade de se tornarem independentes e de pedirem ajuda familiar, mas muitas vezes a situação familiar é também muito instável e o fator económico não permite um apoio financeiro para poderem voltar ao país de origem, ou planearem uma vida independente para si e para os seus filhos.

Outra das situações que me choca é que cada vez mais sou confrontado com situações de abusos entre os jovens.

Apesar de toda a informação existente, tanto nas escolas, como meios de comunicação social, espanta-me ver jovens na dependência de namorados que lhes controlam os telemóveis, o dinheiro e as suas decisões. Por vezes a opção de realizar uma formação recai sobre eles, que decidem o que elas devem ou não fazer. Algumas jovens acabam por se afastar dos amigos e vivem em função dos relacionamentos sem ter em conta as repercussões que isso terá no futuro.

Em alguns casais, continuo a notar que apesar de ambos trabalharem, as decisões são muitas vezes tomadas de forma unilateral, recaindo sobre o elemento masculino a palavra final.

Como conclusão gostaria de fazer uma chamada de atenção a todas as mulheres e jovens: apostem na sua formação e valorização profissional de forma a poderem ter um meio de se sustentarem a si e aos seus filhos. Quanto mais uma mulher possuir independência financeira, menor a probabilidade de se ver presa numa relação abusiva e de ser tratada de forma desigual.

E.J.Cabral
 
Publicado na Página IGUALDADE XXI no Jornal Diário Insular de 18 de Setembro de 2018
 

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