O meu trabalho exige que me desloque pelas ilhas
dos Açores contatando com muita gente de vários estratos sociais, idades e
géneros. Por essa razão já vivenciei casos de alegada violência doméstica,
desigualdade entre géneros e supressão de um membro em relação ao outro. Quando
me foi proposto por um membro da UMAR escrever um pequeno texto sobre a minha opinião
e a minha perspetiva em relação aos problemas referidos anteriormente não
hesitei e entre os muitos casos optei por dois dos mais comuns e que têm vindo
a aumentar atualmente.
Durante essas deslocações tenho observado nos
últimos anos um aumento da emigração, sobretudo do Brasil, fruto de
relacionamentos online, onde mulheres saem do seu país, acompanhadas muitas
vezes por filhos menores, sem terem bem a noção do que vão encontrar. Quando
chegam ficam sem trabalho e as suas habilitações literárias não são
reconhecidas no nosso país. Por vezes encontram-se em relações abusivas para si
e para os filhos, sem recursos financeiros para poderem regressar ao seu país
ou sair dessas relações.
Ao contatarem comigo procuram uma valorização
profissional de modo a alcançarem uma vida mais estável e independente, no
entanto encontram-se economicamente dependentes dos companheiros que muitas
vezes as controlam tanto financeiramente como socialmente, evitando contatos e
amizades com outras pessoas fora do âmbito familiar. Muitas vezes sinto o medo
das crianças face aos companheiros da mãe que são agressivos, (na minha
presença), verbalmente com elas.
Tento sempre incutir-lhes a necessidade de se
tornarem independentes e de pedirem ajuda familiar, mas muitas vezes a situação
familiar é também muito instável e o fator económico não permite um apoio
financeiro para poderem voltar ao país de origem, ou planearem uma vida
independente para si e para os seus filhos.
Outra das situações que me choca é que cada vez
mais sou confrontado com situações de abusos entre os jovens.
Apesar de toda a informação existente, tanto nas
escolas, como meios de comunicação social, espanta-me ver jovens na dependência
de namorados que lhes controlam os telemóveis, o dinheiro e as suas decisões.
Por vezes a opção de realizar uma formação recai sobre eles, que decidem o que
elas devem ou não fazer. Algumas jovens acabam por se afastar dos amigos e
vivem em função dos relacionamentos sem ter em conta as repercussões que isso
terá no futuro.
Em alguns casais, continuo a notar que apesar de
ambos trabalharem, as decisões são muitas vezes tomadas de forma unilateral,
recaindo sobre o elemento masculino a palavra final.
Como conclusão gostaria de fazer uma chamada de
atenção a todas as mulheres e jovens: apostem na sua formação e valorização
profissional de forma a poderem ter um meio de se sustentarem a si e aos seus
filhos. Quanto mais uma mulher possuir independência financeira, menor a
probabilidade de se ver presa numa relação abusiva e de ser tratada de forma
desigual.
E.J.Cabral
Publicado na Página IGUALDADE XXI no Jornal Diário
Insular de 18 de Setembro de 2018
Sem comentários:
Enviar um comentário