sexta-feira, 13 de setembro de 2013

DESTAQUE DO MÊS DE AGOSTO DE 2013

MARTA SILVA
 
Fotografia: Fernando Reis

Fotografia: Luís Nunes
 
 
Marta Silva nasceu a 25 de Julho de 1970 e é uma jornalista bem conhecida de todos/as nós, pois frequentemente “entra” em nossas casas informando-nos sobre as realidades da região.
Marta trabalhou como contabilista durante 3 anos em S. Jorge, o que a fez ganhar autonomia, mas descobriu que o jornalismo era a sua verdadeira vocação por se relacionar mais com a sua maneira de pensar. Então decidiu continuar a estudar e licenciou-se em Ciências da Comunicação pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas na Universidade Nova de Lisboa.
Sobre o jornalismo refere que é uma profissão aliciante, porque sentimos muitas vezes que estamos a contribuir para dar a conhecer realidades, e é a soma dessas realidades que nos dá o conceito do mundo em que vivemos. O jornalista ajuda a construir a tal aldeia global, é um narrador de factos, que fazem a História. A informação, com tudo o que possa ter de bom e de mau, gera pensamento, e ideias, e é muitas vezes o motor da mudança. Sobretudo em democracias doentes, o jornalismo, ainda é um espaço que permite dar voz às minorias e respeita o pluralismo.
Como é trabalhar num mundo maioritariamente masculino?
Em algumas redações já começa a ser ao contrário, o predomínio é de mulheres. No meio televisivo, e na RTP-Açores, o trabalho técnico e de imagem está muito mais associado ao mundo masculino, por isso, é natural que a maioria dos colegas, sejam homens. Confesso que me abstraio disso, sempre lidei com os colegas de igual para igual. Em reportagem ou em gravações, somos todos elementos de uma equipa, não há distinções, em função do género. Ao final de 17 anos no meio, é bem provável que tenha ganho o sentido pragmático dos homens. Não digo que não.
Como foi a sua integração? Quais as principais dificuldades que sentiu / enfrentou?
Vinha da experiência de um estágio integrado, na TVI, onde tive a oportunidade de colaborar com reportagens para o Jornal da Uma, na altura apresentado e coordenado pela Clara de Sousa e pela Ana Lourenço.
Da adrenalina da informação diária, passei, na RTP-Açores, a um ritmo mais calmo, como colaboradora do programa Arquipélago, apresentado e coordenado pelo José Gabriel Ávila. Fazia uma reportagem alargada, por semana, ao estilo da produção, que também aprecio. Só mais tarde passei a trabalhar para os noticiários.
Da forma que o mercado de trabalho está agora, posso dizer que fui uma privilegiada, porque deram-me a oportunidade de fazer o que gosto.
Alguma vez sentiu que, no exercício da sua actividade, não lhe era dada a devida credibilidade por ser mulher?
Já, mas aprendi a lidar bem com isso. Também me sei colocar em bicos de pés, quando é preciso. As mulheres, muitas vezes pecam, por não se revelarem à altura dos desafios. Para reivindicar direitos é preciso mostrar deveres. A legitimidade só se ganha quando se dão provas. Embora, continue a achar que o sexo feminino tem de esforçar-se 20 vezes mais, do que os homens, para derrubar preconceitos.
Já alguma vez sentiu que era discriminada pelo facto de ser mulher?
Sim. Mas não admira, numa sociedade ainda profundamente machista, é natural que essas situações aconteçam.
É preciso ver que a história da libertação da mulher é recente. As várias ondas dos movimentos feministas que levaram a alcançar direitos, como o direito ao voto, ou à igualdade no trabalho, têm menos de um século. As próprias mulheres não souberam lidar com isso, cairam muitas vezes em exagero. E os homens habituados a uma série de privilégios e mordomias, tiveram dificuldade em adaptar-se.
As sociedades não se transformam num click. Há formas de pensar e tradições que ficam arreigadas. E as principais responsavéis pela perpetuação da corrente machista, são as próprias mulheres. São elas que têm um papel determinante na educação dos filhos, são elas que lhe transmitem valores e princípios, e que podem contibuir para a mudança de mentalidades.
Como acha que são vistas as mulheres vítimas de violência doméstica pela sociedade em geral?
Infelizmente são ainda encaradas como um elo fraco. Daí, que algumas, levem demasiado tempo a ganhar coragem, para denunciar as situações de violência.
A sociedade não vê a questão como um problema social e muitas vezes alheia-se de tentar ajudar. Mesmo quando a Organização Mundial de Saúde começa a considerar a violência doméstica, uma “epidemia global”.  
Acha que as associações feministas desempenham um papel importante na nossa sociedade actual?
Sem estas associações, muitos casos de violência doméstica seriam silenciados. O facto de existirem, leva a que as vítimas denunciem os casos a tempo de não tomarem proporções extremas.
Acho que a UMAR tem tido um papel chave no acompanhamento das vítimas com apoio psicológico e a garantir a autonomia, com encaminhamento para as casas abrigo e na procura de emprego. No longo prazo, as campanhas de prevenção são as que maior peso têm na mudança de mentalidades. Acho que a UMAR tem sabido fazê-lo com eficácia.
O que é que gostava de ver mudar neste século?
Menos Economia, mais Humanismo, melhores Lideres.
 
Publicado na Página IGUALDADE XXI no Jornal Diário Insular de 24 de Agosto de 2013.
 

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