MARTA SILVA
Fotografia: Fernando Reis
Marta Silva nasceu a 25 de Julho de 1970 e
é uma jornalista bem conhecida de todos/as nós, pois frequentemente “entra” em
nossas casas informando-nos sobre as realidades da região.
Marta trabalhou como contabilista durante
3 anos em S. Jorge, o que a fez ganhar autonomia, mas descobriu que o
jornalismo era a sua verdadeira vocação por se relacionar mais com a sua
maneira de pensar. Então decidiu continuar a estudar e licenciou-se em Ciências
da Comunicação pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas na Universidade
Nova de Lisboa.
Sobre o jornalismo refere que é uma profissão aliciante, porque sentimos
muitas vezes que estamos a contribuir para dar a conhecer realidades, e é a
soma dessas realidades que nos dá o conceito do mundo em que vivemos. O
jornalista ajuda a construir a tal aldeia global, é um narrador de factos, que
fazem a História. A informação, com tudo o que possa ter de bom e de mau, gera
pensamento, e ideias, e é muitas vezes o motor da mudança. Sobretudo em
democracias doentes, o jornalismo, ainda é um espaço que permite dar voz às
minorias e respeita o pluralismo.
Como
é trabalhar num mundo maioritariamente masculino?
Em
algumas redações já começa a ser ao contrário, o predomínio é de mulheres. No
meio televisivo, e na RTP-Açores, o trabalho técnico e de imagem está muito
mais associado ao mundo masculino, por isso, é natural que a maioria dos
colegas, sejam homens. Confesso que me abstraio disso, sempre lidei com os
colegas de igual para igual. Em reportagem ou em gravações, somos todos
elementos de uma equipa, não há distinções, em função do género. Ao final de 17
anos no meio, é bem provável que tenha ganho o sentido pragmático dos homens.
Não digo que não.
Como
foi a sua integração? Quais as principais dificuldades que sentiu / enfrentou?
Vinha
da experiência de um estágio integrado, na TVI, onde tive a oportunidade de colaborar
com reportagens para o Jornal da Uma, na altura apresentado e coordenado pela
Clara de Sousa e pela Ana Lourenço.
Da
adrenalina da informação diária, passei, na RTP-Açores, a um ritmo mais calmo,
como colaboradora do programa Arquipélago, apresentado e coordenado pelo José
Gabriel Ávila. Fazia uma reportagem alargada, por semana, ao estilo da
produção, que também aprecio. Só mais tarde passei a trabalhar para os
noticiários.
Da
forma que o mercado de trabalho está agora, posso dizer que fui uma privilegiada,
porque deram-me a oportunidade de fazer o que gosto.
Alguma
vez sentiu que, no exercício da sua actividade, não lhe era dada a devida credibilidade
por ser mulher?
Já,
mas aprendi a lidar bem com isso. Também me sei colocar em bicos de pés, quando
é preciso. As mulheres, muitas vezes pecam, por não se revelarem à altura dos
desafios. Para reivindicar direitos é preciso mostrar deveres. A legitimidade
só se ganha quando se dão provas. Embora, continue a achar que o sexo feminino
tem de esforçar-se 20 vezes mais, do que os homens, para derrubar preconceitos.
Já
alguma vez sentiu que era discriminada pelo facto de ser mulher?
Sim.
Mas não admira, numa sociedade ainda profundamente machista, é natural que
essas situações aconteçam.
É
preciso ver que a história da libertação da mulher é recente. As várias ondas
dos movimentos feministas que levaram a alcançar direitos, como o direito ao
voto, ou à igualdade no trabalho, têm menos de um século. As próprias mulheres
não souberam lidar com isso, cairam muitas vezes em exagero. E os homens
habituados a uma série de privilégios e mordomias, tiveram dificuldade em
adaptar-se.
As
sociedades não se transformam num click. Há formas de pensar e tradições que
ficam arreigadas. E as principais responsavéis pela perpetuação da corrente
machista, são as próprias mulheres. São elas que têm um papel determinante na
educação dos filhos, são elas que lhe transmitem valores e princípios, e que
podem contibuir para a mudança de mentalidades.
Como
acha que são vistas as mulheres vítimas de violência doméstica pela sociedade
em geral?
Infelizmente
são ainda encaradas como um elo fraco. Daí, que algumas, levem demasiado tempo
a ganhar coragem, para denunciar as situações de violência.
A
sociedade não vê a questão como um problema social e muitas vezes alheia-se de
tentar ajudar. Mesmo quando a Organização Mundial de Saúde começa a considerar
a violência doméstica, uma “epidemia global”.
Acha
que as associações feministas desempenham um papel importante na nossa sociedade
actual?
Sem
estas associações, muitos casos de violência doméstica seriam silenciados. O
facto de existirem, leva a que as vítimas denunciem os casos a tempo de não
tomarem proporções extremas.
Acho
que a UMAR tem tido um papel chave no acompanhamento das vítimas com apoio
psicológico e a garantir a autonomia, com encaminhamento para as casas abrigo e
na procura de emprego. No longo prazo, as campanhas de prevenção são as que
maior peso têm na mudança de mentalidades. Acho que a UMAR tem sabido fazê-lo com
eficácia.
O
que é que gostava de ver mudar neste século?
Menos
Economia, mais Humanismo, melhores Lideres.
Publicado na Página IGUALDADE
XXI no Jornal Diário Insular de 24 de Agosto de 2013.
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