O
Sr. Manuel vive com o filho e a nora na casa destes. Tem 78 anos de idade e
padece de diabetes, sendo insulino-dependente, com uma periodicidade de três
injecções diárias.
Para
poder beneficiar de uma atenção constante, principalmente no que concerne à doença
crónica de que padece, passou a residir com o filho e a nora, tendo sido
pressionado por estes para vender a sua casa.
Depois
que concordou com a venda da casa e passou a residir definitivamente com o seu
filho e nora estes passaram a ser negligentes, não só relativamente à ajuda com
a sua higiene diária, mas e principalmente na aplicação das injecções de
insulina, que tinham a sua periodicidade (três vezes ao dia).
Várias
vezes foi hospitalizado, devido às falhas nas injecções de insulina de que estava
a ser vítima.
Mais
recentemente, o Sr. Manuel depois da última ida ao hospital, falou com o filho,
queixando-se exactamente das falhas da insulina e da falta de apoio na sua
higiene diária.
O
filho desculpou-se com a falta de tempo, pois tanto ele como a mulher
trabalhavam fora e nem sempre tinham disponibilidade para cumprir com as suas
exigências. O Sr. Manuel então sugeriu, que falassem com a Casa de Povo da sua
freguesia, para estes se deslocaram à residência de ambos, para pelo menos lhe
cuidarem da sua higiene e lhe poderem auxiliar
numa toma de insulina.
O
filho negou tal assistência, pois não queria estranhos na sua casa.
No
entanto, o Sr. Manuel tomou a iniciativa de contactar telefonicamente com a
referida Casa de Povo, que se mostrou de imediato disponível para o que fosse
necessário.
Nesse
mesmo dia confrontou o filho, com a disponibilidade demonstrada pela mencionada
Casa de Povo, tendo o filho ficado muito exaltado e aos gritos disse ao pai que
o proibia de telefonar para onde quer que fosse, tendo inclusivé passado a
fechar à chave o quarto onde estava o telefone fixo.
Como
o Sr. Manuel não possuía telemóvel, ficou impossibilitado de contactar com o
exterior.
Os
vizinhos moravam a alguma distância, que o Sr. Manuel devido à sua idade e
doença, não conseguia percorrer sozinho.
Certo
dia, depois do jantar, resolveu falar com o filho e com a nora, tentando
chamá-los novamente à razão, pois as injecções de insulina continuavam a falhar
e nova ida para o hospital seria apenas uma questão de tempo. Lembrou-lhes
então, que com a sua pensão de 600,00 € (seiscentos euros), podia pagar a uma
pessoa, com alguns conhecimentos de enfermagem, que estivesse com ele pelo
menos da parte da tarde.
De
salientar, que a pensão estava a ser gerida pelo filho, sem prestar qualquer
satisfação ao pai e sem que este tivesse acesso a qualquer dinheiro.
O
filho então começou a maltratá-lo verbalmente, chamando-o de ingrato, velho
tolo, que não passava de um inútil, que tinha muita sorte de não estar num lar
como os outros ou mesmo viver na rua e terminou dando-lhe uma bofetada, que o
atingiu na face direita, o que o
desiquilibrou provocando a sua queda no chão.
Como
resultado da actuação do filho, o Sr. Manuel ficou com um hematoma na face
direita e como caíu sobre o lado esquerdo, com vários hematomas no braço e
perna esquerdas e com muitas dores.
No
dia seguinte, o Sr. Manuel com muita dificuldade dirigiu-se à janela e ficou à
espera que passasse alguém que o pudesse socorrer.
Por
volta das onze horas da manhã, passou o carteiro e o Sr. Manuel fez-lhe sinal
que entrasse. O carteiro então aproximou-se da casa, tendo o Sr. Manuel aberto
a porta, para aquele entrar.
Então
contou tudo o que se tinha passado ao carteiro, tendo este se disponibilizado
de imediato para o ajudar, começando por chamar a ambulância, tal era o estado
do Sr. Manuel.
Depois
de receber o tratamento devido, o carteiro levou o Sr. Manuel à P. S. P. de
Angra do Heroísmo, pois este pretendia apresentar queixa.
Este
é um caso fictício. Mas nos dias de hoje, existem casos semelhantes e ainda
mais graves, de violência sobre os idosos e de total abandono e desinteresse
por parte dos filhos em relação aos pais. Estas situações devem ser combatidas
e estes comportamentos denunciados e severamente punidos.
Xénia
Leonardo Jurista
da UMAR Açores
Publicado na Página IGUALDADE XXI no jornal Diário Insular
de 5 de Fevereiro de 2014.
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