Rosa Carvalhal – Vice-Presidente da Direcção da UMAR
Açores
A UMAR Açores
está a organizar com a federação de Krav Maga um curso de defesa pessoal para
mulheres. Que realidades justificam esta iniciativa?
Muitas mulheres são vítimas de violência doméstica, de
violação, de furtos e de roubos, devido à sua frágil constituição física. Publicitam-se
cartazes, sobre a violência exercida sobre os idosos, as crianças e as
mulheres. Analisando cada grupo por si, constatamos que apenas a mulher é
sempre vítima, porque a qualidade de idoso e de criança é sempre temporária e
representa apenas um estado da vida. Por essas razões, a mulher tem de aprender
a defender-se, não só enquanto criança e idosa, mas sempre enquanto mulher.
Sendo que a
iniciativa se integra no Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra
a Mulher, em que medida as duas coisas se podem interligar?
A violência só poderá ser justificada, quando é exercida
em legítima defesa, seja própria seja de terceiros. O agressor é tendencialmente
cobarde, aproveitando-se da fragilidade física das suas vítimas e retirando, muitas
vezes, prazer do medo que incute sobre as mesmas.
Se constatar que a vítima tem capacidade para se defender
e que já não tem medo, é capaz de repensar a sua actuação, uma vez que esta já
não o satisfaz da mesma forma.
O fenómeno da
violência contra as mulheres parece ser endémico nos Açores. Há uma nova
mentalidade a despontar ou, pelo contrário, a realidade reproduz-se?
Haverá uma nova mentalidade, porque as vítimas nos Açores estão
mais informadas tanto dos seus direitos, como da existência de associações como
a nossa, resultado do trabalho de sensibilização realizado nos últimos quinze
anos. Neste contexto, as mulheres começaram a ter coragem para denunciar os seus
agressores, contudo ainda é necessário desmistificar alguns estereótipos, para
se chegar a uma real protecção para as vítimas.
Um exemplo concreto é o facto de na maioria das vezes, ser
a vítima obrigada a abandonar o seu lar, para se afastar e proteger do
agressor. Por sua vez, o agressor fica confortavelmente a aguardar o resultado
da sua conduta, legalmente punível, inclusive em algumas situações, recebendo
apoios sociais.
O crescimento
da violência, sobretudo em contexto familiar, pode estar associado a situações
de crise como a que vivemos. O que está a acontecer entre nós que possa ser
associado ao actual contexto de crise?
É verdade que o contexto de crise
actual poderá potenciar a violência, contudo não podemos minimizar este
fenómeno, estabelecendo um paralelismo entre precariedade económica e índices
de violência doméstica. O trabalho diário no terreno, demonstra que a violência
doméstica e de género é um fenómeno transversal a todas as classes sociais.
Publicado no Jornal Diário Insular de 8 de Novembro de 2014
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