sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

“És mesmo deficiente!”

 
 
És, acredita. Ora vê, já todos ouvimos falar dos conceitos oficiais da deficiência, que é preciso melhorar as acessibilidades, mas poucos se preocupam em saber como nós, deficientes, nos vemos. Muitos até acreditam que não temos noção do mundo. Hoje viemos apresentar o nosso próprio conceito, a nossa auto-imagem. Então foram questionadas umas quantas pessoas na ACM, tanto utentes como colaboradores, e colocamos a questão: O que é para ti ser deficiente? Um dos que respondeu foi o Duarte. Quem passou pela ACM já o deve conhecer. Ele disse: “Deficientes são pessoas como eu”, e “Como tu és?”, perguntamos. “Eu sou normal. Eu como, eu vou à casa de banho, faço a minha vida, faço tudo.” Insistimos: “Então por que achas que és deficiente?”, “Porque eles disseram”. Eles, no caso, outros deficientes, claro. Nenhum de nós quer estar sozinho. Chamamos mais um utente, o Valentim, e repetimos a pergunta. “Ser deficiente é ser igual a mim”.

E questionamos novamente: “Como tu és?”, “Não sou direito das pernas”. Para o Valentim e para o Telmo, outro dos nossos, não importa se a pessoa tem trissomia 21, autismo ou se lhe falta um braço, para eles, ser deficiente é andar sobre rodas. (E tu? Andas sobre rodas? perguntamos-te). A Lúcia, também utente, ao contrário dos outros, não se considera deficiente por usar rodas. À pergunta: “Ó Lúcia, achas que alguém aqui é deficiente?”, ela respondeu sem delongas: “Sim, és tu!”. E riu, porque sabe que tem razão. O Roberto disse que todos ali, sem exceção, são deficientes.

Entretanto a Carmen respondeu que ninguém ali o era. “Então por que achas que estás aqui e não numa escola?”, perguntamos-lhe. “Por causa do braço e da perna”, querendo dizer que são mais curtos de um lado que do outro. “E se não estivesses aqui, onde gostarias de estar?”, ela disse que na escola, mas que no entanto preferia estar na ACM. Perguntamos-lhe por quê. “Porque na escola eles chamam-me de deficiente”. Eles, mais uma vez. Ela aprendeu, a duras penas, que o termo ‘deficiente’ é considerado uma palavra feia, usado para ofender. Se nos chamam deficientes é porque querem dizer que somos feios e tortos, que nos babamos, que não servimos. Mas esquecemos o fato de que se sabes ler e não lês eficientemente, és deficiente. Se todos os dias usas rodas para te locomoveres de casa para o trabalho e do trabalho para o supermercado, és deficiente − ou te tornarás muito em breve. E se não sabes ouvir, não compreendes os outros, se não te consegues fazer compreender, diz, em que te diferes dos cegos, dos surdos, dos mudos? Foi-se o tempo em que os deficientes ficavam trancados em casa, quase escondidos, devido à ignorância, vergonha ou medo. Atualmente, nós vamos à escola, vamos ao trabalho, amamos, chateamo-nos, gargalhamos, dizemos mal uns dos outros − nenhum de nós é santo, convenhamos. Portanto, nada de olharmos para outro deficiente e dizer ‘Coitadinho!’. Não somos coitadinhos. Nada de dizer que um deficiente não serve para nada. Nós podemos fazer muitas coisas. Na ACM, por exemplo, andamos a cavalo, fazemos yoga, jogamos boccia, praticamos vela, vamos à piscina, pintamos quadros, ajudamos na cozinha, na lavandaria, praticamos jardinagem, cuidamos da horta, tomamos conta do bar, usamos o computador. Vá lá, tu és deficiente, mas consegues perceber que, como disse o Duarte, somos pessoas normais, não somos?

 
Bianca Mendes / Vanessa Dias
Técnicas Superiores da ACM – Associação Cristã da Mocidade
 
 
Publicado na Página IGUALDADE XXI no jornal Diário Insular de 21 de Dezembro de 2013.
 

 

Programa de sensibilização da UMAR Açores Volta à Ilha pela Igualdade


Volta à Ilha pela Igualdade

 Imagem de Sara Ataíde

Está a chegar ao fim o programa de sensibilização da UMAR Açores entidade gestora do CIPA – Centro de Informação, Promoção e Acompanhamento de Políticas de Igualdade para a ilha Terceira, intitulado Volta à Ilha pela Igualdade. Ao longo do ano de 2013 a equipa técnica, estagiárias e voluntárias da delegação da associação percorreram as trinta freguesias dos concelhos de Angra do Heroísmo e Praia da Vitória.

Através do contacto directo com a população e de uma forma informal, pretendeu-se sensibilizar e informar para a realidade actual da violência de género / violência doméstica.

No âmbito desta actividade foram distribuídos cerca de 8500 panfletos e afixados 50 cartazes com informações úteis no que aos serviços de apoio à vítima de violência doméstica diz respeito.


Publicado na Página IGUALDADE XXI no jornal Diário Insular de 21 de Dezembro de 2013.
 
 

Boas Festas - Feliz Natal


Publicado na Página IGUALDADE XXI no jornal Diário Insular de 21 de Dezembro de 2013.
 
 

terça-feira, 26 de novembro de 2013

XII Noite de Igualdade Homens contra a violência sobre as Mulheres

XII Noite de Igualdade na Oficina d´Angra - Casa do Sal
 
XII Noite de Igualdade na Oficina d´Angra - Casa do Sal
 
Com o objectivo de assinalar o dia 25 de Novembro – Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, realizou-se no passado dia 22 de Novembro no espaço da associação cultural Oficina d´Angra Casa do Sal a XII Noite de Igualdade intitulada “Homens contra a violência sobre as Mulheres”.
Esta iniciativa, organizada pela UMAR Açores / CIPA e integrada nos 16 Dias de Activismo Contra a Violência de Género, teve o apoio da Oficina d´Angra Associação Cultural.
Participaram como oradores o Enf.º Eduardo Azevedo (docente na Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo e especialista em enfermagem e saúde mental e psiquiátrica), o Dr. Luís Carvalho (Juiz de Círculo do Tribunal Judicial de Angra do Heroísmo), o Dr. Nelson Lourenço (Licenciado em Filosofia e docente na Escola Básica e Integrada Francisco Ornelas da Câmara) e o Dr. Nuno Machado (licenciado em Psicologia).
Através de uma conversa informal, abordaram-se diversas questões relacionadas com a temática, desde a violência no namoro, passando pelo contributo das escolas para a erradicação da violência, bem como pela dificuldade que existe na produção de prova quando a vítima de violência doméstica opta por não prestar depoimento em audiência de julgamento. Concluiu-se que esta opção, resulta do controlo e poder que os agressores exercem sobre as vítimas, seus familiares e amigo/as.
Para além dos oradores também o público presente colocou algumas questões que enriqueceram o debate, sugerindo boas práticas com o objectivo de promover a erradicação de todas as formas de violência sobre as Mulheres.
 
Publicado na Página IGUALDADE XXI no jornal Diário Insular de 26 de Novembro de 2013.
 


Como me libertei da violência doméstica

 
“Passados três anos venho aqui dar o meu testemunho, com todo o prazer, de como é possível sair de uma situação de violência doméstica.
Nos primeiros tempos, foi muito difícil, com dois filhos menores e o pai sempre a tentar manipulá-los, sempre a usá-los como arma para me atingir, foi muito duro mas valeu a pena todo o esforço, todo o sofrimento, o mais difícil foi dar o primeiro passo, ou seja, sair de casa porque infelizmente como diz o ditado “quem está mal é que se muda” e em Portugal as leis parecem favorecer sempre os agressores.
Não foi fácil deixar para trás o trabalho de dezoito anos e recomeçar tudo do zero, mas com a ajuda da minha família e de todos os profissionais da UMAR, a quem agradeço tanto à minha família como à UMAR todo o apoio e a ajuda que sempre me deram, foi bem mais fácil ultrapassar isto tudo.
Com o passar do tempo sinto-me cada vez melhor, tenho uma liberdade fantástica que não imaginava que existisse, é tão bom não ter ninguém a controlar-me os passos, as palavras, enfim, tudo aquilo que eu fazia.
Hoje sou uma mulher feliz e gostava de deixar aqui o meu conselho ou opinião, como quiserem entender, a todas as pessoas que vivem situações de violência doméstica, o mais frequente é serem mulheres, nunca fiquem presas a uma casa ou a uma relação que não vale a pena e também não arrastem essa relação por causa dos filhos, ou por qualquer outra razão, não vale a pena. Sei bem do que estou a falar sofri muitos anos por todos estes motivos e mais alguns, lutem sempre pelo melhor para os vossos filhos, foi o que eu fiz e agora é muito gratificante ouvi-los dizer “estamos muito melhor assim, foi o melhor que a mãe fez”, sei que é muito difícil mas vale a pena os sacrifícios que temos que fazer para poder viver em paz e liberdade sem agressões físicas e verbais. Não se deixem acanhar pelas consequências que possam surgir não vivam aterrorizadas e lembrem-se sempre que ninguém merece viver assim.
E a quem já viveu situações de violência deixe o passado para trás, bem sei que não é fácil mas acreditem que é o melhor, vivam o presente com toda a intensidade que puderem e façam um favor a si próprias e sejam felizes.
Aproveitem ao máximo e acima de tudo sejam livres porque têm esse direito e a vida é muito curta para viver em sofrimento e nunca se esqueçam que o tempo cura tudo.”
 
Utente da UMAR Açores
 
Publicado na Página IGUALDADE XXI no jornal Diário Insular de 26 de Novembro de 2013.
 


terça-feira, 19 de novembro de 2013

XII Noite de Igualdade “Homens contra a violência sobre as Mulheres”

CONVITE
 

 
XII Noite de Igualdade
“Homens contra a violência sobre as Mulheres”
 
Com o objectivo de assinalar o dia 25 de Novembro – Dia Internacional pela Eliminação da violência contra as Mulheres, realiza-se no próximo dia 22 de Novembro de 2013 (6ª feira) pelas 21:30H no espaço da associação cultural Oficina d´Angra Casa do Sal a XII Noite de Igualdade intitulada “Homens contra a violência sobre as Mulheres”.
 
Esta iniciativa, organizada pela UMAR Açores / CIPA tem o apoio da Oficina d´Angra Associação Cultural.
 
A actividade, de entrada gratuita e aberta ao público em geral, terá como oradores Eduardo Azevedo (Saúde), Luís Carvalho (Direito), Nelson Lourenço (Ensino) e Nuno Machado (Psicologia).
 
Através de uma conversa informal, pretende-se sensibilizar para a eliminação de todas as formas de violência contra as mulheres.
 
Participe com a sua presença e ajude-nos a divulgar.
 
Obrigada
 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

CAMPANHA DE RECOLHA DE ROUPA INTERIOR PARA MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA

 
PARTICIPE
 
 
A UMAR Açores, Organização não Governamental sem fins lucrativos, vem por este meio solicitar a sua contribuição através da divulgação e participação numa campanha de recolha de roupa interior para mulheres vítimas de violência doméstica.
 

Esta iniciativa acontece, porque muitas mulheres vítimas de violência são encaminhadas para casas de abrigo e saem de casa em situações urgentes, levando consigo apenas a roupa que têm vestida. Nas referidas casas de abrigo existem peças de vestuário suficientes, no entanto a maior dificuldade prende-se com a necessidade em disponibilizar roupa interior.
 

Assim esta campanha pretende colmatar essa falta, convidando todas as pessoas, associações, empresas e comerciantes locais a participarem, oferecendo peças de roupa interior.
 

A recolha será feita pela UMAR Açores, que posteriormente entregará as peças de roupa interior angariadas às casas de abrigo existentes na ilha Terceira.

 
Para mais informações poderá contactar-nos na nossa delegação da ilha Terceira no Edifício da Recreio dos Artistas na Rua da Rosa s/n 1º Andar em Angra do Heroísmo através dos seguintes contactos: telefone – 295 217 860; telemóvel – 968687479 ou e-mail - umarterceira@gmail.com. Participe e ajude-nos a ajudar! Obrigada


 
Publicado na Página IGUALDADE XXI no jornal Diário Insular de 26 de Outubro de 2013.
 
 

Testemunhar – Uma Responsabilidade

 
Muitas pessoas entendem, que podem recusar o seu testemunho legitimamente. No entanto, testemunhar é um dever e não uma opção. Ninguém pode recusar-se a testemunhar, quanto mais não seja por uma questão ética. As pessoas muitas vezes esquecem-se que vivem em sociedade e que todos nós temos deveres e não apenas direitos. A recusa em testemunhar pode colocar em causa uma decisão de direito, prejudicando ou beneficiando os intervenientes numa ação judicial.

No caso típico e demasiado frequente dos acidentes de viação, se as pessoas que assistiram a todo o sucedido optarem por ignorar a situação, argumentando quando confrontadas com os fatos que nada viram, estarão a inviabilizar que se faça uma correta avaliação da situação e em última instância, que se faça justiça.

Também em situações muito mais graves, nomeadamente de violência doméstica e até mesmo de pedofilia, não podem os conhecedores de todas estas situações, alearem-se da sua responsabilidade.

Todos estes comportamentos, além de não serem legítimos são imorais! Não se pode ignorar, fechar os olhos ou virar a cara aos problemas, que os nossos semelhantes estão a enfrentar e recusar colaboração com a justiça.

Somos todos seres humanos, que vivem em sociedade e colaboram no processo diário, que é a vida e as vicissitudes desta.

Por isso, quando o vosso vizinho, o vosso amigo ou até mesmo um desconhecido, lhes pedir que testemunhe, aceite a responsabilidade. A sua intervenção na resolução de um litígio pode ser determinante para o resultado a atingir. Mesmo nos casos em que o seu testemunho seja meramente abonatório.

O dever de testemunhar está previsto no artigo 131º  do Código de Processo Penal e os artigos seguintes, estipulam os direitos e deveres das testemunhas.

A responsabilidade de um testemunho verdadeiro é fundamental para uma decisão judicial esclarecida. Razão pela qual prestar falso testemunho é crime, punível com pena de multa ou pena de prisão.

É exigível aos membros de uma sociedade civilizada, que assumam as suas responsabilidades, colaborando com a justiça, de forma isenta e verdadeira, permitindo assim, que se obtenham decisões judiciais esclarecidas e justas.

Xénia Leonardo – Jurista da UMAR Açores


Publicado na Página IGUALDADE XXI no jornal Diário Insular de 26 de Outubro de 2013.
 
 
 

Sessões de sensibilização UMAR Açores / CIPA


Estamos no inicio do ano lectivo 2013/14 e como tal a UMAR Açores/ CIPA arranca mais uma vez com as suas sessões de sensibilização para a não discriminação. As temáticas a trabalhar são a discriminação baseada no género, etnia / cultura, orientação sexual e deficiência. Vamos continuar a realizar sessões de prevenção da violência doméstica / conjugal como é nosso apanágio.

Estas sessões são dirigidas a um público-alvo alargado, podendo ser solicitadas por escolas de vários níveis de ensino, ou mesmo outras instituições que achem pertinente. 

Também numa perspectiva de promover a igualdade de género, este ano a Associação disponibiliza novamente acções de esclarecimento sobre direitos dos/as trabalhadores/as e boas práticas de conciliação entre a vida familiar e a profissional, dirigidas a sindicatos e a outras associações / organizações que se mostrem interessadas.

A equipa técnica é constituída por uma jurista, um sociólogo e uma psicóloga e o agendamento das sessões pode ser efectuado para os contactos da associação.
 
Publicado na Página IGUALDADE XXI no jornal Diário Insular de 26 de Outubro de 2013.
 
 

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Violência sobre as mulheres


Hoje diz-se que o homem e a mulher vivem numa sociedade moderna, civilizada, justa onde todos em conjunto usufruem dos mesmos direitos e privilégios.

No entanto, em lares a violência doméstica ainda é um problema que afeta crianças, idosos, sobretudo mulheres. Elas são vítimas nas mãos dos seus maridos, companheiros que as agridem com murros, pontapés, que as insultam e humilham, que as forçam a torturas sexuais, só porque se julgam donos dos seus corpos e almas. Estes homens cruéis e desumanos não se lembram, ou não querem lembrar-se, que a violência doméstica é crime.

Para eles as suas mulheres são apenas meros objetos que eles utilizam a seu belo prazer e que quando estão fartos as deitam fora (põe de lado). No meu ponto de vista a mulher de hoje deve ser encarada da mesma forma que o homem. Ela não pode, nem deve ser vítima de qualquer violência, seja ela física, sexual ou psíquica. Ela não pode ser violentada nos seus direitos de mulher, de esposa, de mãe e de trabalhadora. O seu trabalho deve ser merecedor do mesmo respeito que o homem. E se ela se vir humilhada e insultada, deve recorrer de imediato ao tribunal da sua localidade de residência, para que este a possa defender.

Infelizmente também já passei por isso, e às vezes dou por mim a pensar como fui capaz de deixar alguém pensar que tinha todo o direito de espancar, violar, agredir física e psicologicamente. Fui vítima de violência doméstica durante 13 anos e sempre calada, sempre assustada e não podia dizer a ninguém porque era ameaçada de morte. Mas finalmente consegui libertar-me desse homem. Mas as recordações, a dor e a angústia continuam bem presentes.

Hoje aprendi uma grande lição: ninguém me volta a maltratar. Tenho muito orgulho na mulher que me tornei pois consegui ultrapassar tudo isso e apoio qualquer mulher que denuncia o seu agressor, nunca se deixem vencer pelo medo porque nós mulheres somos mais fortes do que imaginamos. Mas não convém esquecer que também há muitos homens que sofrem de violência doméstica e que também tem vergonha ou medo de denunciar suas agressoras.

Utente da UMAR Açores

Publicado na Página IGUALDADE XXI no jornal Diário Insular de 3 de Outubro de 2013.
 
 

Pensão de Alimentos - Trâmites

            Sempre que um casal se divorcia ou quando cessa a união de fato e existem filhos menores em comum, torna-se essencial regular as responsabilidades parentais destes.
 
As decisões importantes referentes aos menores, devem em regra ser da responsabilidade de ambos os progenitores, mas será sempre necessário decidir com qual dos progenitores os menores passarão a residir, estabelecer o regime de visitas relativamente ao outro progenitor e fixar a pensão de alimentos devida aos menores por este último.

            Estas questões podem ser reguladas por acordo entre ambos os progenitores ou então na falta deste, de forma ligitiosa pelo tribunal.

            A questão que levanta mais dificuldade de conciliação é a relacionada com a pensão de alimentos devida aos menores, pelo progenitor não residente com estes.

            O progenitor que fica com os menores após a separação, no caso de não existir acordo, tem de intentar uma ação em tribunal para fixar a regulação das responsabilidades parentais, nomeadamente a pensão de alimentos.

            Esta ação dá entrada no tribunal competente, que no caso é o do concelho da área da residência dos menores e segue os seus trâmites.

            Ambos os pais são notificados para estarem presentes na conferência de pais, juntamente com o Sr. Procurador-Adjunto do Ministério Público, que é presidida pelo  Sr. Juiz.

            Quando se consegue chegar a um acordo com os pais, que salvaguarde os interesses dos menores o processo finda aqui, sendo o acordo homologado pelo Sr. Juiz.

            No caso contrário, é fixada uma regulação das responsabilidades parentais provisória e o processo segue os demais trâmites, com as alegações dos progenitores e o consequente julgamento, sendo decidida no final por sentença a regulação das responsabilidades parentais definitiva.

            Claro que todos estes trâmites levam o seu tempo e resta-nos perguntar quem se responsabiliza pela alimentação, vestuário, medicamentos, consultas médicas, mensalidade do colégio, despesas com material escolar, até se ter uma decisão definitiva.

            Isto porque, nem sempre o progenitor não residente com os menores, cumpre  com a pensão de alimentos fixada provisoriamente.

            O que também acontece quando já houve uma decisão definitiva e o progenitor não residente com os menores opta por não pagar a pensão de alimentos.

Surge-nos então mais uma situação, que tem de ser resolvida em tribunal através de uma ação de incumprimento. Que obviamente também segue os seus trâmites e também demora o seu tempo.

            Neste último caso o tribunal irá tentar encontrar bens penhoráveis, nomeadamente o vencimento do progenitor responsável pelo pagamento da pensão de alimentos. Caso nada encontre, então será acionado um fundo de garantia especial para estas situações.

            Todos estes trâmites levam meses até mesmo anos e até lá, quem é responsável pelos menores e o cuidado destes? O progenitor com quem estes residem.

            Porque as necessidades dos menores não podem aguardar a resolução destes litígios, porquanto aqueles comem todos os dias e têm outras despesas que não se coadunam com esta espera.

            Não haverá uma forma de acelerar todo este processo?

            Não se pode estar sempre a culpar o sistema, nem as pessoas que nele intervêm, sejam os advogados, os juízes ou os funcionários judiciais. Os processos são muitos, demorados e estes últimos estão sempre sobrecarregados de trabalho.

            Razão pela qual, há que chamar a atenção do legislador, para criar alternativas mais céleres e eficazes que acautelem acima de tudo os interesses dos menores, que são as principais vítimas de todas estas questões e as mais inocentes e evitar que a responsabilidade recaia na sua totalidade sobre o progenitor com quem os menores residem.

            Xénia Leonardo – Jurista da UMAR Açores
 
Publicado na Página IGUALDADE XXI no jornal Diário Insular de 3 de Outubro de 2013.
 
 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

DESTAQUE DO MÊS DE AGOSTO DE 2013

MARTA SILVA
 
Fotografia: Fernando Reis

Fotografia: Luís Nunes
 
 
Marta Silva nasceu a 25 de Julho de 1970 e é uma jornalista bem conhecida de todos/as nós, pois frequentemente “entra” em nossas casas informando-nos sobre as realidades da região.
Marta trabalhou como contabilista durante 3 anos em S. Jorge, o que a fez ganhar autonomia, mas descobriu que o jornalismo era a sua verdadeira vocação por se relacionar mais com a sua maneira de pensar. Então decidiu continuar a estudar e licenciou-se em Ciências da Comunicação pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas na Universidade Nova de Lisboa.
Sobre o jornalismo refere que é uma profissão aliciante, porque sentimos muitas vezes que estamos a contribuir para dar a conhecer realidades, e é a soma dessas realidades que nos dá o conceito do mundo em que vivemos. O jornalista ajuda a construir a tal aldeia global, é um narrador de factos, que fazem a História. A informação, com tudo o que possa ter de bom e de mau, gera pensamento, e ideias, e é muitas vezes o motor da mudança. Sobretudo em democracias doentes, o jornalismo, ainda é um espaço que permite dar voz às minorias e respeita o pluralismo.
Como é trabalhar num mundo maioritariamente masculino?
Em algumas redações já começa a ser ao contrário, o predomínio é de mulheres. No meio televisivo, e na RTP-Açores, o trabalho técnico e de imagem está muito mais associado ao mundo masculino, por isso, é natural que a maioria dos colegas, sejam homens. Confesso que me abstraio disso, sempre lidei com os colegas de igual para igual. Em reportagem ou em gravações, somos todos elementos de uma equipa, não há distinções, em função do género. Ao final de 17 anos no meio, é bem provável que tenha ganho o sentido pragmático dos homens. Não digo que não.
Como foi a sua integração? Quais as principais dificuldades que sentiu / enfrentou?
Vinha da experiência de um estágio integrado, na TVI, onde tive a oportunidade de colaborar com reportagens para o Jornal da Uma, na altura apresentado e coordenado pela Clara de Sousa e pela Ana Lourenço.
Da adrenalina da informação diária, passei, na RTP-Açores, a um ritmo mais calmo, como colaboradora do programa Arquipélago, apresentado e coordenado pelo José Gabriel Ávila. Fazia uma reportagem alargada, por semana, ao estilo da produção, que também aprecio. Só mais tarde passei a trabalhar para os noticiários.
Da forma que o mercado de trabalho está agora, posso dizer que fui uma privilegiada, porque deram-me a oportunidade de fazer o que gosto.
Alguma vez sentiu que, no exercício da sua actividade, não lhe era dada a devida credibilidade por ser mulher?
Já, mas aprendi a lidar bem com isso. Também me sei colocar em bicos de pés, quando é preciso. As mulheres, muitas vezes pecam, por não se revelarem à altura dos desafios. Para reivindicar direitos é preciso mostrar deveres. A legitimidade só se ganha quando se dão provas. Embora, continue a achar que o sexo feminino tem de esforçar-se 20 vezes mais, do que os homens, para derrubar preconceitos.
Já alguma vez sentiu que era discriminada pelo facto de ser mulher?
Sim. Mas não admira, numa sociedade ainda profundamente machista, é natural que essas situações aconteçam.
É preciso ver que a história da libertação da mulher é recente. As várias ondas dos movimentos feministas que levaram a alcançar direitos, como o direito ao voto, ou à igualdade no trabalho, têm menos de um século. As próprias mulheres não souberam lidar com isso, cairam muitas vezes em exagero. E os homens habituados a uma série de privilégios e mordomias, tiveram dificuldade em adaptar-se.
As sociedades não se transformam num click. Há formas de pensar e tradições que ficam arreigadas. E as principais responsavéis pela perpetuação da corrente machista, são as próprias mulheres. São elas que têm um papel determinante na educação dos filhos, são elas que lhe transmitem valores e princípios, e que podem contibuir para a mudança de mentalidades.
Como acha que são vistas as mulheres vítimas de violência doméstica pela sociedade em geral?
Infelizmente são ainda encaradas como um elo fraco. Daí, que algumas, levem demasiado tempo a ganhar coragem, para denunciar as situações de violência.
A sociedade não vê a questão como um problema social e muitas vezes alheia-se de tentar ajudar. Mesmo quando a Organização Mundial de Saúde começa a considerar a violência doméstica, uma “epidemia global”.  
Acha que as associações feministas desempenham um papel importante na nossa sociedade actual?
Sem estas associações, muitos casos de violência doméstica seriam silenciados. O facto de existirem, leva a que as vítimas denunciem os casos a tempo de não tomarem proporções extremas.
Acho que a UMAR tem tido um papel chave no acompanhamento das vítimas com apoio psicológico e a garantir a autonomia, com encaminhamento para as casas abrigo e na procura de emprego. No longo prazo, as campanhas de prevenção são as que maior peso têm na mudança de mentalidades. Acho que a UMAR tem sabido fazê-lo com eficácia.
O que é que gostava de ver mudar neste século?
Menos Economia, mais Humanismo, melhores Lideres.
 
Publicado na Página IGUALDADE XXI no Jornal Diário Insular de 24 de Agosto de 2013.
 

Porque também há monstros...


Todos nós de uma forma geral, temos determinados cuidados com a nossa propriedade evitando comportamentos de risco. Fechamos sempre a porta da nossa casa à chave, verificamos as janelas, instalamos alarmes, colocamos grades nas janelas, construímos muros altos, celebramos contratos com seguradoras.
Tudo para protegermos os nossos bens patrimoniais.
E porquê? Porque existem pessoas que não respeitam o direito de propriedade dos outros, ou seja, porque há ladrões.
Devemos ser obrigados a ter estes comportamentos? Obviamente que não.
Mas, como todos nós sabemos, a proteção dos nossos bens patrimoniais é fundamental para afastar qualquer hipótese de furto ou roubo e por isso evitamos comportamentos de risco, como deixar o veículo automóvel com uma janela aberta ou a casa sem proteção adicional, como será o caso de um alarme.
No entanto, em relação à nossa integridade física e à nossa liberdade sexual, não temos tantos cuidados.
           Saímos à noite para festas e outro tipo de divertimentos e não nos preocupamos com as horas a que iremos voltar para casa, com os lugares que frequentamos, com as pessoas que conhecemos e com os caminhos que percorremos para casa.
           Não evitamos determinados comportamentos de risco, nomeadamente, não temos o cuidado de escolher os lugares para onde nos vamos divertir, avaliando as pessoas que os frequentam. Não temos o cuidado de escolher o melhor caminho para casa, evitando determinadas ruas e optando por vir a pé sozinhos ou na companhia de uma pessoa que acabamos de conhecer...
           Devemos ser obrigados a ter estes comportamentos? Obviamente que não.
           Mas, como também todos nós sabemos, existem pessoas que não respeitam a nossa integridade física e a nossa liberdade sexual.
           Se dedicamos tanta energia a proteger eficazmente a nossa propriedade, porque há ladrões, porque não fazemos o mesmo em relação à nossa integridade física e à nossa liberdade sexual?
          Porque se há ladrões, também há monstros...

Xénia Leonardo, jurista da UMAR
 
Publicado na Página IGUALDADE XXI no Jornal Diário Insular de 24 de Agosto de 2013.
 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

DESTAQUE DO MÊS DE JULHO DE 2013

MARIA BETTENCOURT
 
Fotografia: Candi Bettencourt
 
Maria Garcia Gil Bettencourt tem 19 anos, o 12º ano de escolaridade e vive com a música desde sempre. No entanto considera a profissão de música como a “da miséria”…
 
Não se lembra de nenhum dia em concreto em que decidiu que queria cantar. Foi uma coisa que esteve sempre presente, já desde criança. A minha mãe cantava, o meu pai cantava e tocava, e depois todos os outros Bettencourt que de uma maneira ou outra me influenciaram. A sério comecei em 2007, com 13 anos.
 
Como é trabalhar num mundo maioritariamente masculino?
Sinceramente, é uma coisa que nunca me fez muita confusão. Para mim é normal. Talvez pelo hábito. É verdade que não há muitas mulheres em bandas, principalmente nas nossas ilhas, mas felizmente o número está a crescer. Também tenho tido sorte com as pessoas com quem partilhei o palco até hoje. Sempre me fizeram sentir como uma igual. A banda sempre me tratou como uma mulher, mas fez-me sentir como “one of the guys”. Quando subo ao palco, esqueço-me que sou a única rapariga no meio de 5 homens. Faço o meu trabalho o melhor possível. A principal dificuldade é, muitas vezes, ter de ouvir comentários menos agradáveis vindos principalmente do público masculino. Umas vezes dá-se resposta (vá, a maior parte das vezes. Não sou de ficar calada) outras, esses comentários entram por um ouvido e saem por outro. E há também o facto de levar mais tempo a arranjar-me. O pessoal todo com pressa, são homens, não querem saber de maquilhagem, e eu a tentar fazer o meu eyeliner o mais perfeito possível.
 
Sobre violência doméstica, pensa que muita gente acha que é uma coisa que a mulher deve aceitar. E não é. A vida pertence-lhe e deve ser ela a decidir o seu próprio destino. A igreja teve grande influência na ideia de submissão da mulher ao homem. Felizmente, as coisas estão a mudar e a evoluir para melhor. Mas há ainda muito a fazer para mudar este preconceito. Basta olhar para os números de mulheres vítimas de violência doméstica.
 
Releva o papel de associações como a UMAR Açores, pois é importante divulgar este problema (violência doméstica), sensibilizar as pessoas e abrir os olhos à nossa sociedade. Trabalhar para um futuro melhor. 
 
Que bandas a influenciam mais e porquê?
Em primeiro lugar, os Beatles. Não me lembro de não os conhecer. É a banda dos Bettencourts. Acho que não há ninguém na família que não goste deles. Depois os grande Led Zeppelin, os Queen e os Aerosmith. Todos liderados por grandes vocalistas que são um verdadeiro exemplo para mim. E da actualidade, os Paramore. São sem dúvida os que mais me influenciam. São liderados por uma rapariga, uma das mais energéticas e poderosas que vi em palco até hoje. Tenho muito respeito pela Hayley e pelo exemplo que ela dá a qualquer mulher que queira seguir a sua vida na música. Ela é a prova viva de que, actualmente, a mulher pode ter sucesso num mundo maioritariamente composto por homens e, para mim, destaca-se de todas as outras vocalistas que andam por aí agora.
 
Publicado na Página IGUALDADE XXI no Jornal Diário Insular de 24 de Julho de 2013.
 


Rock nacional 100% feminino

ANARCHICKS e PEGA MONSTRO

  ANARCHICKS

PEGA MONSTRO

 
Em Portugal existem actualmente dois projectos no activo constituídos só por elementos femininos, as Anarchicks e as Pega Monstro. As primeiras com idades entre os 20 e os 34 anos, são constituídas pela Helena no baixo, sintetizador e voz que é veterinária de profissão, a Catarina assume a bateria, enquanto a Ana (estudante do ensino superior) é a guitarrista e baixista em alguns temas. A voz principal é a de Priscila Devesa designer gráfica de profissão. "Look What You Made Me Do" foi o primeiro trabalho, um EP com quatro músicas, lançado em 2012 através da internet pela editora online da baixista da banda, Helena. Actualmente, as Anarchicks já assinaram com a editora Chifre e lançaram a 21 de Janeiro de 2013, o álbum "Really" cujo o primeiro single pode ser ouvido no espaço http://chifre.org/anarchicks-restraining-order
 
As Pega Monstro, dupla de irmãs lisboetas (Júlia Reis na bateria e Maria Reis na guitarra) estrearam-se em 2011 no que toca a discos com o EP O Juno-60 Nunca Teve Fita, que conta com cinco canções. No início de 2012 lançaram o seu primeiro álbum pela editora Cafetra Records intitulado Pega Monstro que inclui doze faixas musicais (pode ser ouvido consultando o espaço http://pegamonstro.bandcamp.com). "Carocho", "Não te metas comigo, Bro", "Homem das obras" e "Lisboa-Porto" são algumas músicas que podemos encontrar.  Desde o início do ano de 2012 que esta dupla não tem parado de mostrar ao público o seu trabalho, desde Lisboa, Porto, Londres e Barcelona e inclusive no festival Nacional de Paredes de Coura as Pega Monstro são imparáveis.

Publicado na Página IGUALDADE XXI no Jornal Diário Insular de 24 de Julho de 2013.



segunda-feira, 17 de junho de 2013

Crescer Sem Discriminar

 
Programa de sensibilização da UMAR Açores

 
Crescer Sem Discriminar é um programa de intervenção / sensibilização que está a ser implementado na ilha Terceira desde Setembro de 2010 pela UMAR Açores / Cipa.
Orientado para diferentes contextos desde o ensino básico ao secundário, passando pelo técnico profissional, pretende-se sensibilizar o/as jovens estudantes para a não discriminação em função da deficiência, etnia/cultura, género e orientação sexual.
Planeado para quatro sessões de 60 ou 90 minutos cada, o programa é realizado parcial ou integralmente em função das necessidades das instituições que o solicitam.
Ao longo dos últimos dois anos e meio realizaram-se 273 sessões de sensibilização nas escolas Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade, Secundária Vitorino Nemésio, Básica e Secundária Tomás de Borba, Básica e Integrada Francisco Ornelas da Câmara, Básica e Integrada dos Biscoitos, EB 1,2,3/JI de São Sebastião – Francisco Ferreira Drummond, EB/JI de Santa Bárbara, EB/JI das Doze Ribeiras, EB/JI da Conceição, EB/JI de São Mateus, EB/JI do Posto Santo, EB/JI das Fontinhas, EB/JI da Fonte do Bastardo, EB/JI do Porto Judeu, EB/JI de São João de Deus, EB/JI da Carreirinha, EB/JI do Porto Martins, EB/JI de Santa Rita, EB/JI da Casa da Ribeira e creche jardim-de-infância “O Ninho” na freguesia do Porto Judeu.
As temáticas trabalhadas foram a igualdade de género (105 sessões), a não discriminação em função da orientação sexual (69 sessões), a não discriminação em função da deficiência (53 sessões) e a não discriminação em função da etnia e cultura (46 sessões).
Foram alvo de intervenção 3631 estudantes, 1828 do sexo feminino e 1803 do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 3 e os 21 anos, de diferentes graus de ensino, nomeadamente do 2º ao 12º anos de escolaridade, turmas Profij e Uneca, bem como turmas de Oportunidades níveis I, II e III.
Para saber mais informações sobre este programa pode contactar a UMAR Açores no Edifício da Recreio dos Artistas na Rua da Rosa 1º Andar em Angra do Heroísmo ou através do telefone 295 217 860 ou e-mail umarterceira@gmail.com
 
Publicado na Página IGUALDADE XXI no Jornal Diário Insular de 15 de Junho de 2013.
 

Os homens pais


Actualmente, os homens pais revelam alguns comportamentos e opiniões que ilustram saudáveis transformações no âmbito das responsabilidades masculinas. Contudo, muito do discurso e atitudes ainda se alicerçam no modelo patriarcal, onde alguns homens continuam a entender o seu papel de pais apenas como responsáveis pelo que é material e moral na família, esquecendo-se demasiadas vezes, da necessidade de partilhar, com as mulheres, as restantes responsabilidades com o/as filho/as.

Desta forma acabam por perpetuar o modelo tradicional, orientando o trabalho masculino para a produção e o feminino para a reprodução biológica. Na prática, nem todos reconhecem que ao longo do processo educacional do/as filho/as, a proximidade física e afectiva do pai é extremamente importante.

Observam-se contudo “paternidades” mais envolvidas afectivamente nos cuidados prestados, indicador de que muitas das relações familiares actuais têm vindo a modificar qualitativamente o significado do ser pai. Esta realidade, ainda distante do desejável, indica algumas mudanças positivas na qualidade das relações parentais, bem como na vivência de uma “nova” masculinidade, abdicando assim do modelo dominante de masculinidade e paternidade que implica prejuízos nas relações entre homens e mulheres e consequentemente entre pais e filho/as.

Por outro lado, para que se adopte uma parentalidade mais participativa, também é necessário reajustar mentalidades, responsabilizando e incentivando os pais a participarem mais activamente na prestação de cuidados aos/às filho/as, proporcionando-lhes assim experiências mais afectivas. O ser pai deve ocupar um lugar substancialmente diferente do actual nas questões relacionadas com o trabalho, a educação e a saúde.

A necessária mudança terá de passar, inevitavelmente, por um novo paradigma social, rompendo com o passado, de forma a acelerar um processo que a todo/as beneficiará enquanto sociedade. Desta forma poderemos contribuir para alcançar relações mais igualitárias entre mulheres e homens, alterando positivamente as gerações futuras.

Publicado na Página IGUALDADE XXI no Jornal Diário Insular de 15 de Junho de 2013
 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

CO-ADOÇÃO - Legalizar a realidade

Fonte da imagem: amor-entre-iguais.blogspot.com
O  Projeto de Lei n.º 278/XII, estabelece a possibilidade de co-adoção pelo cônjuge ou unido de facto do mesmo sexo. Recentemente  constata-se o aumento do número de casais do mesmo sexo, que constituem família, seja através da adoção plena por um dos parceiros, seja de uma forma dita natural.
Estas crianças, que estão a ser educadas por pais do mesmo sexo, não têm proteção jurídica, pelo simples facto de apenas um dos parceiros ter um vínculo biológico ou legal em relação à criança.
Foi visando solucionar esta situação, que o referido projeto de lei foi apresentado a discussão na passada sexta-feira, 17 de Maio - Dia Internacional da Luta contra a Homofobia -, propondo-se estabelecer um regime que torne segura a proteção jurídica das referidas situações monoparentais.
A adoção singular, ou seja, por um dos parceiros  já é permitida, sem discriminar devido a diferente orientação sexual do adotante, mas a discriminação existe relativamente à adoção conjunta por um casal do mesmo sexo.
Esta modalidade de adoção está legalmente bloqueada pelo artigo 3º, da Lei n.º 9/2010, de 31 de Maio e pelo artigo 7º, da Lei n.º 7/2001, de 11 de Maio.
Este projeto de lei, pretende acima de tudo acautelar o futuro e a segurança de crianças que nasceram e que vivem com famílias do mesmo sexo, sendo apenas ligadas biologicamente ou por adoção a um dos elementos do casal.
Está em causa prevenir situações, em que uma crinça vive cinco ou mais anos, numa família homoparental, morrendo o pai ou mãe biológica, essa criança será afastada do outro e entregue à família do pai ou mãe falecido.
Para evitar estas situações, permite-se que no caso de um casal unido pelo matrimónio ou unido de facto do mesmo sexo e sendo um dos elementos do casal progenitor de uma criança possa o outro membro do casal não progenitor, por sentença judicial, co-adotar a referida criança.
A co-adoção é irrevogável, desde que outra parentalidade, não esteja estabelecida.
O projeto que  foi votado na passada sexta-feira e aprovado na generalidade, passará a permitir a co-adoção por parte do cônjuge ou unido de facto do pai ou mãe da criança, desde que não exista outra parentalidade anteriormente estabelecida.
Foi um passo no sentido de legalizar uma realidade, importante e intrépido, atendendo a que vivemos numa sociedade em que a homofobia e a discriminação ainda acompanham, todos os que têm uma orientação sexual divergente da maioria.
Xénia Leonardo – Jurista UMAR Açores
Publicado na Página IGUALDADE XXI no jornal Diário Insular de 24 de Maio de 2013