ANA OLIVEIRA
Ana Cristina Simões de Oliveira
tem 35 anos e frequenta o 3º ano do curso de Eng. Agrónoma na Universidade dos
Açores, trabalha como auxiliar de educação, é instrutora no ginásio Best Of
Health Club e é atleta, atividade no âmbito da qual aceitou dar-nos o seu
testemunho.
Como começou e o que a motivou a praticar atletismo?
Tive
a minha iniciação desportiva aos 13 anos de idade como atleta federada, desde
sempre adorei correr, e de todas as modalidades desportivas que experimentei, o
atletismo foi a modalidade pela qual me apaixonei, por ser uma modalidade
desportiva mais individual, foi aí que me enquadrei. Desde a escola primária
que a hora da ginástica/educação física era aquela hora fantástica.
Como é praticar uma atividade desportiva maioritariamente associada ao
masculino?
Nem
sempre foi fácil, como menina e muitas vezes correr mais do que os rapazes
levava a alguns comentários menos agradáveis, mas era isso que me desafiava. Em
relação aos meus colegas de treino, nunca senti qualquer tipo de descriminação,
muito pelo contrário. O problema mesmo é de quem vê as coisas de fora, o facto
de correr/treinar maioritariamente com rapazes, fazem-nos uma rotulagem nem
sempre muito simpática, e quando digo isto, não vem só do sexo masculino, mas
também, e grande parte do sexo feminino. Hoje a corrida está na moda, mas nem há
muitos anos atrás, a corrida era vista por quem não tinha nada que fazer da
vida. Muitas mulheres me diziam que tinha de "arranjar" uma
casa para tomar conta, que correr é coisa de homens não de mulheres, que ter
"músculos" é feio, não é coisa de mulheres.
Claro
que nem sempre os homens gostam de ter uma colega de treinos que consiga correr
tanto quanto eles, mas no meu caso, tenho muito a agradecer por me ajudarem a
evoluir como atleta.
Já alguma vez se sentiu
discriminada pelo facto de ser mulher?
No que toca ao desporto sim,
há inúmeras situações desagradáveis como por exemplo, os prémios monetários
nunca são iguais para ambos os sexos. Uma situação extremamente desagradável
aconteceu há alguns anos, numa prova com exactamente a mesma distância em que
eu e o meu colega (homem) fomos ambos vencedores, e o meu colega recebeu um
prémio monetário no valor de 250 euros, e eu como vencedora do sexo
feminino tive o prémio de valor monetário de zero euros. Sim, é lamentável!! Ainda
hoje em dia, quando concorremos a determinados trabalhos somos à partida
excluídas por sermos mulheres. Se erramos em alguma coisa, é porque somos
mulheres...
Sobre as Mulheres
vítimas de violência doméstica
Infelizmente as mulheres vítimas
de violência doméstica, são vistas como umas "coitadas", muitas das
vezes a sociedade até acha que a mulher"merecia" o que teve, ou
porque não obedeceu, ou porque não fez, ou porque única e simplesmente
acham que a mulher não corresponde aos padrões que a sociedade de hoje
ainda impõe.
É
muito importante haver associação feministas como a UMAR Açores, quando
uma mulher procura ajuda, é porque provavelmente já passou por muito, agressões
físicas, verbais, deixam marcas para toda uma vida. Nem sempre mulheres que
passam por este tipo de violência tem a capacidade de encontrar uma solução
sozinhas, é necessário intervir, é necessário ajudar, é fundamental saber que
não estão sozinhas, têm alguém que as defende.
Não
podemos deixar que seja mais uma, não somos "coisas", não somos
objectos, somos seres humanos!!
Para
terminar a Ana refere que é importante que homens e mulheres vivam tratando-se de
igual para igual. Se eles podem, nós também. Nunca devemos baixar a cabeça,
nunca nos resignarmos e principalmente não permitirmos que nos façam sentir um
ser fraco ou inferior.
Publicado na Página IGUALDADE XXI no Jornal Diário
Insular de 8 de Março de 2017