A UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta
apela à mobilização para a Greve Feminista Internacional do 8 de março,
realçando o caráter simbólico desta greve.
Nós mulheres temos mil e uma razões para reclamar
direitos e para lutar pela nossa liberdade e autonomia.
Tanto no passado como no presente, as mulheres foram
e são as mais fustigadas pelos diversos sistemas de opressão e exploração. Por
isso, denunciamos discriminações e diferentes formas de violência a que nos
sujeitam, mostrando a força que nós, mulheres, podemos e devemos ter nas
sociedades.
No dia 8 de março, ao quebrar as rotinas de todos os
dias nas muitas e muitas tarefas que usualmente fazemos, quando saímos do
trabalho, alterando quotidianos que nos são impostos socialmente e que limitam
os nossos percursos de vida, desde a nossa idade mais precoce, é uma forma de
dizer “Basta!” e de estarmos solidárias com as mulheres do mundo inteiro.
Esta e outras paragens simbólicas por parte das
mulheres que se podem fazer nos locais do trabalho têm um grande significado,
pois possibilitam demonstrar que estamos unidas na luta contra as desigualdades
e discriminação de género que nos oprimem.
QUEREMOS viver sem violência e acabar com os
assassinatos de mulheres - femícidios
QUEREMOS ter uma Justiça não sexista e misógina que
pare de atuar constantemente em defesa e desculpabilização dos agressores e na
culpabilização das mulheres.
QUEREMOS uma verdadeira igualdade salarial, ter
condições de acesso a trabalho não precário, sem discriminações, sem assédio
sexual e moral; exigimos o cumprimento do direito de igualdade das pessoas
trans no acesso ao emprego e ao trabalho, tal como decretado na lei nº28/2015.
EXIGIMOS o direito a um projeto de vida digno e
autónomo onde a gravidez ou o cuidado com descendentes e ascendentes não sejam
argumentos escondidos para despedimento ou discriminação.
EXIGIMOS respostas públicas para o incremento de
serviços e redes de apoio, tais como creches, lares, cantinas e apoio
domiciliário. Por ano, em média, cada mulher perfaz 16 semanas e 40 h de
trabalho gratuito, que nem sequer nos é reconhecido nesta sociedade onde se
mantém a divisão sexual do trabalho.
RECLAMAMOS espaços livres de assédio quer seja no
trabalho, no espaço público ou dentro das nossas próprias casas. O lugar da
mulher é onde ela quiser!
QUEREMOS uma educação pública e gratuita não
reprodutora de estereótipos e papéis de género, com currículos pedagógicos que
visibilizem a História e as Lutas das Mulheres.
EXIGIMOS Instituições do Ensino Superior em que não
sejam legitimadas praxes académicas humilhantes, que reproduzem uma cultura
heteronormativa e misógina, encorajando a violência sexual, o racismo, o
classismo e a LGBTQIA+fobia. Queremos uma Academia em que todas (alunas,
professoras e funcionárias) possamos ter as nossas identidades e orientações
sexuais livres de assédio e machismo.
REIVINDICAMOS direitos para todas as mulheres:
imigrantes, refugiadas, presas, mulheres de todas as etnias e nacionalidades,
mulheres de todas as idades e com diferentes corpos, mulheres com diferentes
orientações sexuais e identidades de género, mulheres que prestam serviços
sexuais, mulheres com diferentes capacidades.
QUEREMOS ter leis da habitação que concedam a todas
as mulheres o direito fundamental de acesso a um local adequado para viver
dignamente. Exigimos políticas que protejam arrendatárias e residentes de
ameaças de ordens de despejo, que tantas vezes resultam em tristes cenários de
mulheres, crianças e idoso/as na rua sem alternativa de uma habitação digna.
QUEREMOS igual acesso aos cuidados de saúde e
bem-estar.
EMPENHAMO-NOS na construção de uma sociedade mais
consciente e informada, menos consumista, baseada numa cultura da imagem,
pressionada socialmente pelos media e indústrias culturais, promotoras da
hipersexualização dos corpos das mulheres e de um ideal de beleza-padrão
irreal.
LUTAMOS por um mundo no qual a preservação do Planeta
e a sustentabilidade ambiental sejam priorizadas, em detrimento da sobre
exploração dos recursos naturais e da poluição ambiental levada a cabo por
grandes corporações transnacionais, de forma a evitar que os efeitos alterações
climáticas e da destruição dos ecossistemas destruam a nossa qualidade de vida,
desde já tão precária. As mulheres que dependem directamente dos recursos
naturais como as indígenas, as camponesas e as pescadoras de certas regiões do
mundo, são as mais afectadas pela destruição ambiental.
QUEREMOS um mundo sem guerras, sejam elas militares,
económicas, territoriais ou religiosas. Insurgimo-nos contra os conflitos
armados, nos quais mulheres e crianças são tantas vezes utilizadas como armas
de guerra. Solidarizamo-nos com os povos ocupados militarmente, oprimidos e
massacrados e com aqueles que resistem. Contra o extermínio social e cultural
dos povos indígenas!
Não queremos ser mulheres que subjugam e exploram
outras mulheres. Recusamo-nos a reproduzir as desigualdades raciais, de género
e de classe que nos acorrentam a todas.
Insurgimo-nos contra a ascensão ao poder de políticos
e governos de direita e ultraconservadores em cada vez mais países do mundo. Na
Europa os perigos para um grande recuo nos direitos das mulheres já se fazem
sentir com o crescimento e subida ao poder de partidos fascizantes.
O dia 8 de março também é, por isso, um dia de
protesto contra os populismos, os movimentos neo-fascistas e as tendências
reaccionárias que assolam a Europa e todo o mundo.
CONTAMOS CONTIGO, no dia 8 de março, para te juntares a outras mulheres,
numa maré feminista de protesto por todo o país.
Publicado na Página
IGUALDADE XXI no Jornal Diário Insular de 8 de Março de 2019