terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Violência de género, saber e agir: Perspectivas actuais da investigação e intervenção feminista

Violência de género, saber e agir:
Perspectivas actuais da investigação e intervenção feminista

Maria José Magalhães*

Decorreu, em Angra do Heroísmo, nos dias 22 e 23 de Outubro, um encontro formativo da UMAR dedicado às perspectivas de investigação e intervenção mais recentes na violência de género. A desconstrução do pensamento misógino e dos comportamentos machistas e sexistas (na sua forma hostil ou subtil) constituiu-se como elemento central neste encontro formativo.
As perspectivas dominantes sobre a masculinidade e a feminilidade e sobre a violência de género nas relações de intimidade conduzem a análises inadequadas do problema e a uma intervenção ineficaz, podendo resvalar para a culpabilização das vítimas e a desculpabilização dos agressores. O sexismo e o machismo consistem em preconceitos que condenam antecipadamente as mulheres e justificam os homens violentos.
Neste encontro, reflectimos acerca de uma perspectiva feminista na compreensão da violência de género, na medida em que esta visão traz uma compreensão mais global e abrangente sobre este grave problema social: não o reduz a comportamentos individuais nem o restringe ao universo familiar, mas explica como a sociedade patriarcal está estruturalmente organizada para a submissão das mulheres no trabalho, na política, na arte, na ciência e, também, na família. Aqui, o feminismo mostra como a família não é uma ilha isolada do resto das relações sociais, é antes uma instituição na teia imbricada das relações interinstitucionais, de classe social, de etnia e de género, onde existe igualmente a hierarquia do poder de género.
O feminismo explica também como a socialização sexista (de todas e todos nós, mesmo das/os investigadoras/es e das/os técnicas/os) se exerce através da linguagem, da educação, da divisão sexual do trabalho, da genderização das profissões, da distribuição desigual das responsabilidades parentais e domésticas, da distribuição desigual dos cargos e do poder de decisão, atribuindo o espaço público aos homens, onde se espera deles competição, assertividade, afirmação, racionalidade, independência, progresso, cultura, e o privado às mulheres, onde lhes são atribuídos a sensibilidade, o cuidar, os afectos, a intimidade, a dependência. Esta divisão sexual do mundo constitui-se como crucial na criação de condições para os homens serem agressores e as mulheres vítimas. Esta separação do mundo em duas metades, além de ser um desperdício de talentos e bem-estar (quanto bailarinos, quantas engenheiras se perdem devido aos estereótipos), é também um campo minado na construção do amor, da paixão, da intimidade, da relação com o ou com a outra. Dela se espera que não pense em si, que seja altruísta, e que, por ser boa, tenha sucesso no espaço privado. Dele se espera que se centre nos seus objectivos (mesmo usando a força se necessário) e seja bem sucedido no espaço público.
Quando uma mulher se enreda num amor com um homem que, a certa altura, mostra indícios de vir a ser violento, tudo lhe diz e a empurra para ignorar os primeiros sinais e, o que é mais perigoso ainda, para investir na relação para que o agressor mude, porque lhe é muito difícil aceitar o fracasso nesta dimensão da sua vida – parece e vai mesmo ficando, também pelas estratégias do agressor, progressivamente isolada, sem amigos/as, família, muitas vezes sem trabalho… As investigações mostram, no entanto, que, faça a vítima o que fizer, o agressor não muda, e, se ela ainda tentar corresponder aos seus desejos, o ciclo da violência tende a agravar-se.
Finalizou-se o encontro com uma referência ao trabalho pioneiro das feministas no que se refere à intervenção com os agressores, apresentando alguns dos estudos que mostraram o impacto destes modelos de intervenção face aos modelos tradicionais. O feminismo, desde há mais de três décadas, vem clamando e desenvolvendo intervenção com homens agressores, até pela imperiosa urgência de romper com a continuidade dos processos de vitimização das relações de intimidade. Mesmo quando se consegue ajudar uma vítima é muito grande a probabilidade daquele agressor repetir o comportamento violento com a sua próxima namorada ou companheira. Por isso, esta intervenção tem de incidir nos pontos nevrálgicos das causas do comportamento violento daquele homem em concreto – a sua misoginia, machismo e sexismo.
Finalmente, este encontro permitiu a partilha de saberes, dúvidas, interrogações e pluralidade de perspectivas entre as diversas equipas da UMAR dos pólos, mostrando (a mim, particularmente) o dinamismo, a juventude, a alegria, a abertura e a inovação destas equipas. Ressalto ainda a profundidade de reflexão, o sentido de historicidade e a serenidade de Clarisse Canha e Maria José Raposo no enfrentamento dos novos desafios que nos/lhes estão colocados.

* Presidente da UMAR
Investigadora do Centro de Investigação e Intervenção Educativas
Docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto

Publicado na Página Igualdade XXI do Jornal Diário Insular de 28 de Dezembro de 2010

Necessitamos Voar


Para cada mulher forte cansada de aparentar debilidade,
há um homem débil cansado de parecer forte.

Para cada mulher cansada de ter que agir como tonta,
há um homem agoniado por ter que aparentar saber tudo.

Para cada mulher cansada de ser qualificada como “ser emotivo”,
há um homem a quem se tem negado o direito de chorar e ser “delicado”.

Para cada mulher catalogada como pouco feminina quando compete,
há um homem obrigado a competir para que não se duvide de sua masculinidade.

Para cada mulher cansada de ser um objeto sexual,
há um homem preocupado com sua potência sexual.

Para cada mulher sem acesso a emprego ou a um salário satisfatório,
há um homem que deve assumir o sustento de outro ser humano.

Para cada mulher que desconhece os mecanismos do automóvel,
há um homem que não aprendeu os segredos da arte de cozinhar.

Para cada mulher que dá um passo em direção à sua liberação,
há um homem que redescobre o caminho da liberdade.

NECESSITAMOS DE UMA NOVA HUMANIDADE

A Humanidade possui duas asas:
uma é a mulher, outra é o homem.
Enquanto as asas não estiverem igualmente desenvolvidas,
a Humanidade não poderá voar.

NECESSITAMOS VOAR!


Agora, mais do que nunca, a causa da mulher é a causa de toda a humanidade
(B. Boutros Ghali)

Publicado na Página Igualdade XXI do Jornal Diário Insular de 28 de Dezembro de 2010

16 Dias de Activismo Social Pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres


“16 Dias de Activismo Social Pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres” é uma campanha internacional que decorre entre os dias 25 de Novembro (Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra as Mulheres) e 10 de Dezembro (Dia Internacional dos Direitos Humanos). Pelo meio assinala-se o dia 1 de Dezembro (Dia Mundial de Luta contra a SIDA) e o dia 6 de Dezembro (quando ocorreu o Massacre de Mulheres em Montreal – Canadá), proclamado no Brasil como Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres.
A UMAR Nacional e a UMAR Açores também aderiram a esta campanha com várias actividades e iniciativas. Em S. Miguel realizou-se um debate sobre a Marcha Mundial das Mulheres no Congo “Entre a Violência e a Resistência”, com a presença de Judite Fernandes, Delegada da MMM Portugal. Fizeram-se “Sombras no Chão”, contornos de corpos desenhados no chão em memória das mulheres que sucumbiram vítimas de violência de género, e plantou-se uma árvore no parque da cidade de Ponta Delgada, em referência a todas as mulheres que sofrem maus-tratos em contextos de intimidade. No Faial assinalou-se estes dias com uma exposição, um colóquio e uma peça de teatro. Na Terceira também foram realizadas acções de rua, que consistiram essencialmente na sensibilização da população para esta causa. @s técnic@s da Delegação estiveram nas principais artérias de Angra e da Praia a falar com as pessoas e a distribuir panfletos e cartazes alusivos ao dia e ao âmbito de acção da UMAR Açores. É fundamental que mulheres e homens se unam na luta contra a violência pois só assim se pode conseguir um mundo mais justo.

Rita Ferreira

Publicado na Página Igualdade XXI do Jornal Diário Insular de 28 de Dezembro de 2010

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Eu escolhi viver…

25 de Novembro
Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher


Eu escolhi viver…


Eu sou uma mulher como todas as outras. E como muitas outras vi-me enredada na teia dos maus-tratos.
No início nem me apercebi do que estava a acontecer, era muito nova, tinha 20 anos, e deram-se alguns comportamentos que só depois compreendi o que significavam – a pressa para casar, para me ter sob o seu controlo, a critica constante da minha forma de falar, de proceder. Fazia-me sentir condicionada, com dúvidas em relação a mim própria. E o ciúme? Por acaso não me iludi com o mito do ciúme ser sinónimo de amor, como acontece com tantas jovens… desde o início percebi que o ciúme era sinal de insegurança da parte dele.
Ele bebia muito, e quando bebia era bastante agressivo verbal e psicologicamente. Por vezes parecia louco, de algo insignificante fazia uma tempestade num copo de água e eu tinha de me calar e de me submeter. Com o tempo o seu comportamento agravou-se, ele foi-se tornando cada vez mais violento verbalmente – as palavras eram de uma violência extrema, e feriam de forma brutal…
A agressão física veio muito mais tarde, mas a partir desse dia, percebi que nunca mais podia confiar nele. Para mim, amor é sinónimo de confiança e respeito, e isso perdeu-se a partir daquele dia em que me bateu pela primeira vez. Eu soube logo aí que o meu casamento iria acabar um dia, porque não podia permanecer com uma pessoa assim, o que eu não sabia é que ainda levariam muito anos até isso acontecer.
Vivíamos no estrangeiro, e eu tinha conhecimento dos recursos de apoio existentes, mas nunca os procurei… a vergonha levou a melhor. Queria esconder de todos a minha situação, não contava a ninguém, guardava tudo para mim. As minhas colegas de trabalho apercebiam-se, porque eu aparecia várias vezes magoada mas nunca perguntaram nada, não se falava sobre isso. É o mesmo que acontece quando vemos alguém com uma deficiência física que nos choca muito, mas não temos coragem de perguntar “Porque é que tu estás assim? O que é que te aconteceu?”.
Eu dizia ao meu marido que não aceitava o facto de ele me bater, nem de ele beber em excesso, ele respondia-me que tinha de aceitar, tal como as outras mulheres aceitavam, mas eu não me conformava! Cá dentro sentia uma revolta contra aquilo. Não merecia ser tratada assim!
Quando voltámos para a Terceira, pensei que ia ficar mais protegida, perto da minha família, a exercer a minha profissão… mas o comportamento dele piorava a cada dia, e o pavor era o sentimento predominante na minha casa. Eu odiava a minha casa. As nossas filhas também sentiam a tortura psicológica que dominava o dia-a-dia.
Saí de casa algumas vezes, mas aí surgiam os pedidos de desculpa e promessas de mudança, que me faziam regressar… e após breves períodos de bonança, as tempestades voltavam com agressões e ofensas cada vez mais graves. O problema do alcoolismo agravava-se e ele finalmente procurou ajuda. No entanto, mais tarde acabou por se tornar dependente de medicação, que alterava ainda mais o seu comportamento. Muitas vezes senti que corria perigo de vida, e o medo de morrer surgiu em várias situações, mas a esperança na mudança faziam-me ficar mais um dia, mais um mês, mais um ano…
O que mais me magoava era a atitude das outras pessoas: “Então? Ela não sabe o que quer!”, “Porque não o deixa?”, “Não se decide!”, “Se continua a apanhar é porque gosta”. Para mim estes comentários demonstram absoluta ignorância acerca do que é viver a violência conjugal e o condicionamento psicológico a que a mulher é sujeita ao longo dos anos. Não percebem que é muito difícil terminar um casamento, acabar com uma família, há muitas coisas em jogo, muitos factores pesam sendo o medo um dos principais, apesar do desejo absoluto de libertação.
Eu sentia-me doente física e psicologicamente, cheguei a ter reacções que mais tarde considerei que não eram normais. Numa ocasião, após uma agressão andei na rua a deambular sem destino, não sei por onde andei, mas sei que entrei num consultório e o médico analisou a minha ferida e fez um relatório. Saí de lá com o relatório na mão, escondi-o, e nunca mais me lembrei que tinha estado no médico. O desgaste e exaustão eram tais, que já não conseguia lidar com a situação. Já não me reconhecia, com a minha auto-estima completamente em baixo, já não aguentava mais, senti que tinha chegado ao fundo do poço…
Uma frase fez a diferença. Um dia uma amiga, que já tinha vivido a mesma situação disse-me: «Tu queres morrer ou queres viver? Se ficares, vais morrer às mãos dele.» Foi este o clique da mudança. Naquele dia tomei a decisão final, procurei um advogado, planeei a minha saída, e nunca mais voltei… foi o primeiro dia do resto da minha vida, a primeira vez que dormi sem medo em anos. Mas não foi o início da minha paz. Ainda fui perseguida, agredida na rua, e ameaçada de morte. Através das minhas filhas, soube que tinha adquirido armas para me matar. O divórcio foi litigioso, moroso e doloroso… um processo que se arrastou durante cinco anos. Finalmente consegui libertar-me, mas o alívio só surgiu quando ele morreu, devido a doença prolongada.
Sei que muitas mulheres vivem o mesmo. Este testemunho é também para que não se sintam sós, comecem a pensar nelas próprias e não neles. Não pode haver amor onde não há confiança e respeito. Sejam mais fortes que a vergonha, e o medo de dar o passo decisivo… procurem ajuda! Sozinha é muito difícil. Toda a mulher tem direito a viver com dignidade e em paz. Lembrem-se também dos filhos e filhas, que ficam afectados psicologicamente e que isso vai influenciar as suas relações no futuro. Refaçam a vossa vida, mas com cautela, porque o perigo de cair na mesma teia é muito grande. Só com tempo se consegue estabilizar e escolher a pessoa certa, que nos dê valor e nos respeite como pessoas válidas e merecedoras que somos.

M.

Publicado na página Igualdade XXI – Jornal Diário Insular de 25 de Novembro de 2010



SAIBA SE É UM POSSÍVEL AGRESSOR

25 de Novembro
Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher

FAÇA UM TESTE
SAIBA SE É UM POSSÍVEL AGRESSOR

É extremamente ciumento das pessoas que prestam atenção à sua companheira?

Tenta controlar os gastos financeiros, os actos e com quem se relaciona socialmente a sua companheira?

Procura transmitir-lhe medo através de determinados olhares ou por acções e gestos tais como: partir ou danificar objectos pessoais ou exibir algum tipo de arma?

Já ameaçou matá-la ou suicidar-se?

É sempre você quem toma todas as decisões?

Proíbe-a de ver ou falar com amigo/as e pessoas da família ou limita os seus movimentos e acções no exterior?

Culpa a sua companheira pelos seus actos violentos?

Já ameaçou matar os seus animais de estimação?

Vexa-a diante de outras pessoas, humilha-a, procura baralhá-la, levando-a a pensar que estará doida?

Impede-a de obter um emprego ou de poder continuar no emprego que tem?
Desincentiva-a a estudar?

Tira-lhe o seu dinheiro ou não lhe dá qualquer informação sobre as receitas e bens do casal?

Quando discutem ameaça tirar-lhe o/as filho/as?

A sua companheira torna-se demasiado calada quando você está por perto, com medo de o fazer zangar-se?

Cancela planos comuns no último momento sem dar justificações à sua companheira?

Tem necessidade de explicar à família ou aos/às amigo/as escoriações e marcas roxas que a sua companheira por vezes apresenta?

Publicado na página Igualdade XXI – Jornal Diário Insular de 25 de Novembro de 2010

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Quem tem medo dos feminismos?

ManuelaTavares
Investigadora em Estudos sobre as Mulheres
Membro da Direcção da UMAR

Encontro Formativo da UMAR Açores em Ponta Delgada - Setembro de 2010


Quem tem medo dos feminismos?
Este não é só o título das actas do Congresso Feminista 2008 organizado pela UMAR na Fundação Calouste Gulbenkian, que teve a participação de mulheres açoreanas. Esta pergunta procura também desconstruir uma ideia feita sobre um feminismo guetizado, marginalizado, onde só cabem algumas mulheres, vistas como “aquelas radicais que fazem dos homens o seu inimigo”. As feministas consideram que existe um sistema de desiquilíbrio de poderes entre mulheres e homens na sociedade e um modelo de uma masculinidade hegemónica que atinge as mulheres e também os homens que não se identificam com tal modelo.
No encontro formativo da UMAR/Açores realizado em Setembro, em Ponta Delgada, envolvendo mulheres do Faial, Teceira e S. Miguel foi possível debater os percursos históricos dos feminismos e os desafios que se colocam na actualidade. Uma das conclusões deste encontro foi a visão de que o feminismo é um movimento plural onde coexistem várias correntes. Deste modo, a amplitude dos feminismos implica a inclusão de todas as mulheres ou até de homens que têm a consciência das discriminações que ainda pesam sobre as mulheres.
Mas será que ainda tem sentido valorizar o feminismo como uma perspectiva de luta e de movimentação social, ou estaremos perante um paradigma ultrapassado? São os quotidianos das mulheres de diversos sectores sociais que nos mostram os desiquilíbrios de poder entre mulheres e homens, que ainda existem na sociedade, apesar do avanço no estatuto das mulheres nas últimas três décadas. Deste modo, a actualidade das lutas feministas pelos direitos e pela alteração das mentalidades resulta das situações vividas pelas mulheres, que sofrem violência, que são assassinadas por maridos, companheiros, ex-companheiros ou namorados, que são discriminadas no trabalho, que continuam a assumir duplas e triplas tarefas em casa e na família. A consciência da existência destas discriminações de género faz de cada mulher uma feminista, apesar das resistências que surgem em torno de um feminismo tácito, ainda não plenamente assumido. Constatamos, que cada vez um maior número de mulheres percorre os caminhos de um feminismo tácito para um feminismo assumido. E este caminho só pode resultar numa mais valia para toda a sociedade.

Publicado na Página IGUALDADE XXI do Jornal Diário Insular de 27 de Outubro de 2010

CASAMENTO PARA TOD@S...


Durante o último ano, assistimos a uma alteração muito importante na legislação portuguesa. De facto, até há poucos meses, o casamento apenas era permitido entre pessoas de sexo diferente, o que impossibilitava aos casais de gays e lésbicas poderem contrair matrimónio. Com a Lei n.º 9/2010, de 31 de Maio, esta situação inverteu-se e já é possível o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
A Constituição da República Portuguesa, no artigo 13.º, n.º 1, refere que todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei. Já o n.º 2 do mesmo artigo menciona que “ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual”. É verdade que a última parte deste número, referente à orientação sexual, só foi introduzida com a alteração constitucional de 2004, mas mesmo assim foram precisos vários anos para que se reconhecesse a possibilidade de pessoas do mesmo sexo poderem casar-se e assim “constituir família mediante uma plena comunhão de vida” (artigo 1577.º do Código Civil).
Na verdade, até ao presente ano apenas se admitia a possibilidade de gays e lésbicas viverem em união de facto, com os privilégios legais que a tal regime estão cometidos. No entanto, os direitos provenientes do casamento e que não podem ser adquiridos por nenhum outro tipo de contrato, como é exemplo a possibilidade de se ser herdeiro, estavam vedados aos gays e lésbicas, o que originava situações de casais que viviam em união de facto há inúmeros anos, partilhando verdadeiramente a sua vida, e que, aquando do falecimento de um dos membros do casal, o outro via-se com acesso interdito ao património do parceiro/a (só sendo possível a elaboração de testamento a favor do parceiro/a, mas como as limitações impostas pela nossa lei, que prevê a obrigatoriedade de uma parcela de bens serem atribuídos, em caso de morte, a certas pessoas: o cônjuge, os descendentes e os ascendentes).
Sendo Portugal um estado laico e estando previsto o casamento civil, em contraposição ao casamento católico, não fazia sentido que fosse o mesmo vedado aos casais de gays e lésbicas, pois a sua definição (de casamento) é ser um contrato celebrado entre duas pessoas, no qual as partes assumem determinados direitos e obrigações. Não havia uma justificação para que esse contrato tivesse de ser celebrado entre pessoas de sexo diferente, o que foi agora aceite e demonstrado (na verdade, quando perante a religião, como é a católica, percebemos, sem contudo concordarmos, que adstrito à noção de casamento esteja a de procriação, mas tal não pode ser motivo para o acesso ou não ao casamento civil). A sociedade evoluiu e, com ela, a concepção sobre determinadas institutos. É o caso do conceito de família que, até há alguns anos incluía um pai, uma mãe e filhos, e que, agora, pode incluir apenas um pai ou uma mãe, como dois pais ou duas mães. Assim, e porque associado ao conceito de família está o de casamento, este também tem de agrupar as diferenças existentes na nossa sociedade.
Além disso, socialmente o casamento é mais do que um contrato, sendo o reconhecimento de que uma pessoa escolheu outra para partilhar a sua vida. Não interessa qual o sexo da pessoa que se escolhe, o que interessa é ser-se um casal e poder-se demonstrá-lo perante todos, sem qualquer tipo de vergonha ou medo.
Assim, consideramos que o nosso legislador deu mais um passo na direcção de uma sociedade justa e igualitária, tentando-se que a sociedade portuguesa seja um lugar onde a discriminação seja apenas mais uma palavra no dicionário e não uma constante na vida das pessoas. Na realidade, algo que possa parecer com importância diminuta, para todos aqueles que até agora já podiam casar com aquela pessoa que escolheram para partilhar a vida e poder dizer com orgulho “este é o meu marido” ou “esta é a minha mulher”, é de especial relevância para quem não tinha esse direito.

Bárbara Guimarães (Jurista da Delegação da UMAR Açores na Ilha Terceira)

Publicado na página IGUALDADE XXI do Jornal Diário Insular de 27 de Outubro de 2010

terça-feira, 26 de outubro de 2010

As Mulheres e o Centenário da República

Carolina Beatriz Ângelo

Celebra-se este ano o centenário da República, implantada em 1910, ano em que teve também inicio a primeira vaga do feminismo em Portugal. Começou-se a exercer o dever e direito de cidadania que era eleger o presidente através de votação. Contudo, tal como outros, este direito estava interdito às mulheres, e muitas foram as sufragistas que lutaram para conseguir a igualdade. Entre elas, é importante recordar Carolina Beatriz Ângelo, a primeira mulher a votar em Portugal nas eleições para a Assembleia Nacional Constituinte a 28 de Maio de 1911. Na altura a lei determinava que podiam votar os cidadãos portugueses com mais de 21 anos, que soubessem ler, escrever e fossem chefes de família. Como estava viúva e era mãe, Carolina invocou a qualidade de chefe de família, preenchendo então todos os requisitos. Conseguiu que o tribunal lhe concedesse o direito a voto, uma vez que o plural “cidadãos portugueses” inclui masculino e feminino. Tratou-se de um acto arrojado, mesmo a nível europeu! Como consequência a lei foi alterada no ano seguinte, passando a dizer explicitamente que apenas os chefes de família do sexo masculino poderiam votar. Esta discriminação manteve-se e o sufrágio universal em Portugal só foi conquistado após o 25 de Abril de 1974.

Rita Ferreira

Publicado na página IGUALDADE XXI no jornal Diário Insular de 27 de Outubro de 2010

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Mulheres continuam a ser as grandes vítimas de violência

CLARISSE CANHA, LÍDER DA UMAR NOS AÇORES

A UMAR-Açores promove na ilha Terceira uma ação sobre violência de género. O tema é assim tão grave na nossa sociedade que justifique uma abordagem específica?
Começaremos por algumas referências ao Estudo sobre a Violência de Género nos Açores realizado em 2008 assim como o Plano Regional de Combate à Violência Doméstica (PRCVD). Este Plano considera que o "inquérito sobre a Violência de Género nos Açores" possibilitou um melhor conhecimento sobre a prevalência real do fenómeno na Região, bem como, confirmou que nos Açores, como em qualquer outro lugar, a violência doméstica, vitima diversos sub-universos de pessoas, sejam adultas ou crianças, sejam do sexo masculino ou feminino. Atendendo que, no entanto, as mulheres continuam a ser o grupo onde se verifica a maior parte das situações de violência doméstica, assumindo-se assim, claramente, como uma questão de violência de género.
A escolha deste tema para este Encontro Formativo tem a ver com o facto de que a violência de género é uma realidade que afeta, com grande peso, a nossa sociedade. A consciência do problema leva-nos a intervir no sentido da sua erradicação, assim como no plano do apoio às vítimas, neste caso as mulheres, as mulheres vitimas de violência de género, sobretudo a violência doméstica.
O Encontro Formativo "Violência de Género: Saber e Agir" - Perspetivas atuais da intervenção e investigação em violência de género, do dia 22 de outubro, na Terceira, vai pois debater esta problemática do ponto de vista da intervenção, aprofundando conhecimentos (saber) e a intervenção (agir).
Quais as principais formas de violência de género identificadas nos Açores e a que causas principais estão associadas?
Nos Açores uma das principais formas de violência de género acontece no âmbito da família e nas relações de intimidade - a violência doméstica.
A UMAR está a desenvolver um projeto sobre igualdade e diversidade, no qual se enquadra a temática da violência de género. Que entraves principais ainda hoje se detetam na nossa sociedade no respeito pela diversidade e na promoção da igualdade?
O Projeto Igualdade e Diversidade pretende promover formação, debate e reflexão sobre as questões da igualdade de género, através de Temas e Encontros Regionais em 3 ilhas: São Miguel, Terceira e Faial. A iniciativa na Terceira, inclui o Encontro Formativo do dia 22 de outubro, aberto às pessoas interessadas que se podem inscrever. No dia seguinte, dia 23, decorre um encontro de reflexão da UMAR-Açores onde nos vamos debruçar sobre a experiência da UMAR na área da violência doméstica - violência de género no espaço doméstico.
A UMAR vem a trabalhar desde há vários anos as questões relativas à promoção da mulher. A evolução tem sido positiva ou nem por isso?
A evolução das últimas décadas sobre a igualdade entre as mulheres e os homens deu-se a nível das leis, da realidade e das mentalidades, numa grande caminhada protagonizada por movimentos sociais como o movimento feminista, abrindo-se caminhos e novos espaços de intervenção. A afirmação dos direitos das mulheres e da igualdade entre homens e mulheres (igualdade de género) requer ainda mais ação, pelo que projetos como este continuam a fazer falta para aprofundar os caminhos com vista a uma sociedade justa e igualitária.

Entrevista Publicada no Jornal Diário Insular de 14 de Outubro de 2010

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Encontro Violência de Género: Saber e Agir a 22 de Outubro em Angra do Heroísmo



No âmbito do Projecto da UMAR Açores Igualdade e Diversidade realiza-se no próximo dia 22 de Outubro de 2010, Sexta-Feira, o Encontro Violência de Género: Saber e Agir - Perspectivas actuais da intervenção e investigação em violência de género.

A Formadora será a Professora Doutora Maria José Magalhães, Presidente da UMAR, Investigadora do Centro de Investigação e Intervenção Educativas da FPCE - UP e Docente da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto.

O encontro formativo realizar-se-á na ESEAH - Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo na Sala n.º 1, na Canada dos Melancólicos das 9:30h às 12:30h e das 13:30h às 17:30h.

Aceitam-se inscrições, através do fax: 295 217 861 ou e-mail: umarterceira@gmail.com, até ao próximo dia 18 de Outubro de 2010 (2ª feira) tendo em conta a capacidade da sala.

Inscrevam-se e divulguem.

UMAR Açores / Cipa – Delegação da Ilha Terceira
Edifício da Recreio dos Artistas - Rua da Rosa s/n 1º Andar
9700 Angra do Heroísmo
Telefone: 295 217 860 / Fax: 295 217 861 / Telemóvel: 968687479
E-mail: umarterceira@gmail.com

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Jovens mais sensíveis para a discriminação





"Crescer sem Discriminar" é um programa que a UMAR acaba de lançar para sensibilizar as crianças e jovens nas escolas para a problemática da discriminação. Rita Ferreira, psicóloga da UMAR, considera que ainda há muito por fazer nesse domínio.

A UMAR-Açores tem um novo programa denominado "Crescer sem Discriminar" que se destina aos alunos do ensino básico e secundário. Quais são os objetivos desse programa que visa a promoção da cidadania e igualdade?
O objetivo principal deste programa é sensibilizar os alunos e alunas para a não discriminação das pessoas independentemente do seu género, etnia ou cultura, orientação sexual ou situação de deficiência.
A ênfase é dada na questão do género, uma vez que é esta a especificidade da UMAR e se trata de uma questão transversal a todas as outras.
Uma pessoa imigrante, pertencente a uma minoria sexual ou portadora de deficiência sofre mais discriminação se for mulher do que se for homem.
Este programa surge do alargamento das áreas de intervenção do Centro de Informação, Promoção e Acompanhamento de Politicas de Igualdade, entidade gerida pela UMAR-Açores, na Terceira.

De que modo a que as escolas podem receber o vosso programa. Quais as ações que estão programadas?
O nosso programa tem sido divulgado nos órgãos de comunicação social e junto das escolas. Está adaptado para diversos contextos de ensino: básico, secundário ou até profissional.
Quem estiver interessado, pode contactar-nos e solicitar a realização do programa integralmente ou apenas algumas sessões conforme as necessidades do público-alvo.
Estão programadas quatro sessões sobre prevenção da discriminação em função do género, orientação sexual, etnia ou cultura e deficiência. Poderá ser realizada uma sessão extra, dirigida a educadores, professores, pais ou mães, encarregados de educação, onde explicamos o trabalho que será desenvolvido com os educandos.

As crianças e jovens são hoje mais tolerantes com a diferença e para a igualdade ou há ainda um longo caminho a percorrer nesse sentido?
Verifica-se que ainda há um caminho longo a percorrer porque fenómenos como o bullying são disso exemplo. As crianças são por vezes bastante cruéis umas com as outras e em determinadas situações, mesmo que subliminarmente, passam comportamentos de discriminação.
Outro fenómeno que se verifica é a grande incidência de violência no namoro, o que se pode de certa forma relacionar com a violência de género.
A intervenção no sentido da prevenção da discriminação e promoção da igualdade é uma área premente, e a população jovem por revelar maior abertura e recetividade apresenta-se como um público-alvo prioritário e privilegiado para a intervenção.

Outro programa desenvolvido pela UMAR destinado a crianças e jovens das escolas tem como temática a educação sexual. Como está a decorrer esse programa?
Este programa de Educação Afectivo-Sexual tem vindo a ser implementado desde o ano letivo de 2007/2008 e veio de certa forma dar uma resposta que não existia nas escolas, apesar da Educação Sexual estar prevista na legislação, desde 1984.
Trata-se de um programa bastante completo, uma vez que veio introduzir além da educação sexual por si só, a componente afetiva, de sentimentos, de desenvolvimento emocional, a componente de igualdade de género, tentando desconstruir já junto das crianças estereótipos sexistas ainda muito presentes na sociedade e também a componente de prevenção do abuso sexual de menores.
Ao longo dos últimos três anos letivos recebemos inúmeras solicitações para realizar o programa, primeiro nas escolas primárias com o primeiro ciclo, depois adaptando e alargando ao terceiro ciclo, ensino profissional e outros contextos como a Associação Cristã da Mocidade (ACM), junto de uma população-alvo com necessidades especiais.

Situação das mulheres

Sendo a UMAR uma associação vocacionada para a proteção dos direitos das mulheres como se caracterizar a situação da Terceira nesse domínio tendo em conta a vossa experiência?
A UMAR é uma associação vocacionada para a defesa dos direitos das mulheres e para o seu empoderamento enquanto pessoas. Temos também como missão alertar para as situações de discriminação, promovendo uma maior consciência social e dar visibilidade ao papel da mulher nas várias áreas da sociedade, como é por exemplo o trabalho das mulheres na pesca.
Relativamente à situação da Terceira, verificamos que a maioria das mulheres ainda permanece muito centrada na esfera privada do lar, da família, de modo que há um longo caminho ainda a percorrer para que a sua participação na esfera pública da sociedade terceirense se assemelhe à dos homens.
Outra das nossas vertentes é intervir na problemática da Violência de Género e Violência Doméstica, uma vez que recebemos mulheres vítimas no nosso Centro de Atendimento, a quem prestamos apoio jurídico, psicológico e social.
Também chegamos a receber situações de discriminação no trabalho. Na Terceira, verificamos que ainda há uma grande incidência de violência doméstica sobre as mulheres, o que se trata na verdade de uma questão de violação de direitos humanos.
Neste sentido, é importante trabalhar na prevenção e na sensibilização para a denúncia, uma vez que se trata de um crime.

Entrevista Publicada no Jornal Diário Insular de 3 de Outubro de 2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Destaque do mês de Setembro de 2010

DRA. CÁTIA OLIVEIRA

Formada na área de Psicologia pela Universidade Clássica de Lisboa, a Dra. Cátia Borges Jaques Branco Oliveira de 29 anos de idade, é actualmente, a psicóloga responsável pela valência da SCMPV - Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória Casa de Abrigo Solisvita.
Antes de integrar a Casa Abrigo, em Janeiro de 2006, a Dra. Cátia, realizou, no ano de 2004/2005, um estágio curricular no Hospital de Santa Maria em Lisboa, na área de psiquiatria, que perdurou “até surgir a oportunidade de regressar à ilha Terceira e vir trabalhar para a Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória”.
Nunca havia ponderado trabalhar na área da violência doméstica, pois não tinha muita experiência, “tive apenas um caso de violência doméstica durante o meu estágio curricular”, portanto trabalhar neste âmbito, revelou ser um “grande desafio pessoal e profissional”. No entanto, diz não notar qualquer diferença em trabalhar num mundo maioritariamente feminino, “é normal”.
Quando iniciou o seu trabalho, a principal preocupação foi desenvolver uma atitude empática com cada vítima, pois “percebi que, para as ajudar a definir um novo percurso pessoal, seria essencial ouvi-las e acreditar nas suas histórias de vida”. Considera portanto, que, para trabalhar nesta área, é necessário adquirir certas competências profissionais e pessoais para que se possa “auxiliar e transmitir valores como auto-estima e auto-confiança e fazê-las acreditar que têm força suficiente para contornar os acidentes de percurso que tiveram na sua vida”.
Relativamente ao trabalho realizado em rede, pelas diversas entidades parceiras, a Dra. Cátia salienta que tem havido esforço “na promoção da comunicação e na proximidade com outros serviços e instituições extra-rede, apesar de existir um longo caminho a percorrer”.
Em relação à sociedade em geral, ainda há um olhar de censura sobre as mulheres vítimas de violência doméstica, que são vistas, muitas vezes, como “coitadinhas e infelizes”. Apesar de existir um grande número de cidadãos com conhecimento destes casos, estes/as “tendem a justificar um comportamento injustificável do agressor”, pois “é mais fácil dizer que a senhora levou porque se “portou mal”, do que tentar ajudá-la a encontrar outra forma de vida”.
O facto de ser mulher, é visto por esta como uma mais-valia na realização das suas funções, visto que, “quebra à partida a barreira do género, promovendo-se desde já uma maior abertura e predisposição por parte destas mulheres em transmitir as suas histórias de vida”, havendo assim “uma espécie de identificação com a outra parte e de esperança de crença na sua vivência e não de descrédito nem de julgamento ou de marginalização”.
Para finalizar, esta ressalta a credibilidade deste projecto, pois “para se poder ajudar estas pessoas tem que se acreditar nelas e na sua capacidade de mudança”. “O que se pretende com este projecto Casa Abrigo, é que pelo menos um, dois, três dias possamos garantir que ninguém lhes vai fazer mal, e que se elas escolherem deixar a vida que tinham podem e conseguem ter uma vida sem violência”.

Carla Garcia

Publicado na Página Igualdade XXI - Diário Insular de 18 de Setembro de 2010.

UMAR Açores marca presença no Festival Azure 2010

Stand UMAR Açores / Cipa + APF – Festival Azure 2010

No âmbito do plano de actividades para o ano de 2010 a UMAR Açores / CIPA – Centro de Informação Promoção e Acompanhamento de Políticas de Igualdade em parceria com a APF – Associação para o Planemaneto da Família, marcou presença no Festival Azure 2010 que se realizou na zona de lazer de São Braz, Praia da Vitória, nos dias 26, 27 e 28 de Agosto.
Sensibilizar para a violência de género, promoção de uma sexualidade responsável, bem como o incentivo à não descriminação em função da orientação sexual e deficiência, foram os principais temas expostos no stand das Associações.

Miguel Pinheiro

Publicado na Página Igualdade XXI - Diário Insular de 18 de Setembro de 2010.

Livros Publicados

A UMAR (continental) – União de Mulheres Alternativa e Resposta – e a UMAR Açores – Associação para a Igualdade e Direitos das Mulheres – tem editado algumas publicações sobre as mulheres, em várias áreas da sociedade. Assim sendo, temos disponíveis para venda as seguintes publicações:
• Inclusão Percursos para a Igualdade – IPI – Uma experiência de valorização em Rabo de Peixe e São Mateus. Mulheres. Seu papel e saberes nas comunidades piscatórias, nos Açores.
• Estamos cá. Existimos. As mulheres na pesca nos Açores.
• As mulheres e a República.
• A mulher e o trabalho nos Açores e nas Comunidades. Volume V – História e Sociedade.
• A mulher e o trabalho nos Açores e nas Comunidades. Volume VI – Empreendedorismo e Diversidade.
Temos também disponíveis para consulta e empréstimo, muitas outras publicações que fazem parte do Centro de Documentação do CIPA (Centro de Informação, Promoção e Acompanhamento de Politicas de Igualdade). Faça-nos uma visita!





Publicado na Página Igualdade XXI - Diário Insular de 18 de Setembro de 2010

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Crescer Sem Discriminar

Novo programa da UMAR Açores



Crescer Sem Discriminar, é o novo programa de intervenção / sensibilização para o ano lectivo de 2010/2011 da UMAR Açores – Associação para a Igualdade e Direitos das Mulheres, enquanto entidade gestora do CIPA – Centro de Informação Promoção e Acompanhamento de Políticas de Igualdade.
Orientado para diferentes contextos desde o ensino básico ao secundário, passando pelo técnico profissional, este pretende sensibilizar o/as aluno/as e formando/as para a não discriminação em função da deficiência, etnia/cultura, género e orientação sexual.
Depois da experiência de sucesso com o programa de Educação Afectivo Sexual em parceria com a Escola Superior de Enfermagem de Angra do Heroísmo, a Associação pretende assim inovar o trabalho que tem vindo a fazer junto de diferentes instituições ao longo dos últimos quatro anos lectivos.
Planeado para quatro sessões de 90 minutos cada, o programa poderá ser realizado parcial ou integralmente em função das necessidades das instituições que o solicitem.
Para saber mais informações pode contactar a UMAR Açores no Edifício da Recreio dos Artistas na Rua da Rosa 1º Andar em Angra do Heroísmo ou através do telefone 295 217 860 ou e-mail umarterceira@gmail.com.

Publicado na Página Igualdade XXI - Diário Insular de 18 de Setembro de 2010

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Destaque do mês de Agosto de 2010

PROFESSORA TERESA VALADÃO

Licenciada em História e Filosofia via ensino, com Formação em Desenvolvimento Pessoal e Social e Mestrado em Estudos sobre as Mulheres e coordenadora do Clube de Teatro Orpheu, a Professora Maria Teresa Valadão Caldeira Martins, de 44 anos de idade, em parceria com a UMAR – Açores e com a Associação Cultural Burra de Milho foi convidada, pela professora Tânia Fonseca, a desenvolver uma peça de teatro, subordinada ao tema da violência doméstica, no namoro e nas escolas. Intitulada “Medo de Mim… Pavor dos Outros”, foi dramatizada em algumas freguesias da Ilha Terceira e revelou ser um sucesso.
A peça procurou sensibilizar o público para um problema social grave, em que cada pessoa tem o direito e o dever de ter uma atitude de prevenção e denúncia. Segundo a autora da peça, cada vez mais as pessoas têm desenvolvido uma maior consciência sobre a questão da violência.
Olhando para trás, aceitar este convite foi para a Professora Maria Teresa como um “desafio, muito diferente do que tínhamos feito até então”. Foi o “embarcar numa aventura que revelou ser muito agradável”. Para além de que o trabalho em parceria “foi outro desafio”.
Define este trabalho como algo “bastante complexo”, pois “trabalhar o tema da violência é algo extremamente vasto”. Apresentar um trabalho deste género ao público em geral, requereu alguns cuidados nomeadamente, no que respeita à linguagem, à apresentação das personagens e à mensagem que se pretendia passar às pessoas. “A linguagem teve de ser bastante acessível, e a peça necessitou de um fio condutor em que cada personagem tinha que embarcar uma personagem típica, um padrão típico, um perfil típico, tanto de vítima como de agressor, porque interessava fazer as duas perspectivas”. “Nós queríamos que as pessoas vissem e sentissem e acima de tudo, que reflectissem sobre todo o ciclo de violência”. “Queríamos que fosse transmitida uma grande mensagem”. “Foi muito complicado pôr tanto sentimento em cena”, mas foi um “desafio incrível” e “os alunos fizeram um trabalho extraordinário”.
Pode-se dizer que esta peça foi realmente capaz de captar a atenção dos espectadores e levar à reflexão. Segundo a Professora, no final de cada peça, era abordada por espectadores que lhe diziam terem-se identificado com algumas das personagens. Outras confessaram-lhe “eu estava a sentir e a viver cada momento daquela peça como se fosse a minha própria vida”. Recebeu um feedback muito positivo, que foi de encontro ao objectivo da peça. Sentiu que este trabalho “não tinha sido em vão”, pois “com situações destas tem de se ser muito concreto e muito fiel àquilo que se transmite”.
Relativamente a estas problemáticas da violência, esta pensa que quando se trata de denunciar estes casos “torna-se complicado, porque ainda há muito medo”, Segundo a Professora, muitas vezes estas situações ocorrem junto de casais que já convivem há muitos anos. No entanto, acha que neste momento “as pessoas estão a ficar mais despertas”. Para tal também tem contribuído o trabalho e a ajuda das várias associações e dos meios de comunicação social. O aumento das denúncias é, “por um lado lamentável, porque significa que o número é considerável, mas por outro lado significa que a pessoa começa a ganhar mais coragem para transmitir o que se passou”. Do ponto de vista da entrevistada, é notório nas vítimas de violência uma maior capacidade para se afirmarem, revelando-se menos “alheias às situações” que vivenciam.
Tratando-se a nossa Associação, de uma associação feminista, tivemos curiosidade em saber um pouco sobre o seu Mestrado em Estudos sobre as Mulheres. Justificou a sua escolha explicando que achou “extremamente inovador quando vi o perfil das disciplinas” e “tinha um corpo fabuloso de docentes”. Durante dois anos a professora Teresa, deslocou-se todas as semanas a Lisboa para fazer o seu mestrado, pois metade da semana dava aulas na Terceira. Foi um enorme esforço, mas confessa que valeu a pena todo o seu sacrifício, pois “foi um grande desafio que eu gostei”, “trabalhámos de tudo, desde a época pré-clássica, até mesmo à actual, abordando os vários tipos de violência (…) as várias formas de pensamento sobre a mulher, as conquistas, a evolução, o que se foi ou não fazendo, foi muito interessante”.
Devido à sua formação e conhecimento relativamente a toda a evolução da mulher até aos dias de hoje, bem como a sua experiência, observa que actualmente existe “mais algum posicionamento” da mulher na sociedade, mas ainda “numa luta muito grande”. “Vemos que a nível do mercado de trabalho (…) a mulher, indiscutivelmente, ganhou muito, surgiram novas profissões que começa a exercer, mas é uma luta contínua e constante que tem ainda uma grande batalha pela frente”.
Em relação à sociedade em geral, considera que esta encara a mulher de uma forma “expectante sobre o que é que irá fazer, sobre o que é que é capaz de fazer e como é que irá fazer”. No entanto, “quando vêem, as provas de que é capaz, a sociedade aí é impecável”.
Esta pensa, que não é por medidas radicais nem extremistas que se consegue alcançar os direitos, como aconteceu em muitos movimentos feministas ao longo dos séculos. “Acho que é pela qualidade do que se faz, essencialmente pelo papel de intervenção correcto, eficaz e dinâmico que se chega a alguma coisa”. Defende outras formas de conquista de direitos que passam pelo “diálogo, a palavra e a intervenção através de projectos concretos, eficazes e com qualidade ”.
A atitude das mulheres perante uma situação de discriminação revela ainda, na sua opinião, dificuldade em defenderem e lutarem pelos seus direitos. “Às vezes é difícil tomar a iniciativa”, mas “hoje em dia temos os programas EQUAL que já começam a lutar por essas questões de igualdade de expressividade da mulher”.
A mudança de mentalidades é um processo demoroso, principalmente no que respeita a questões relacionadas com a emancipação do sexo feminino. De acordo com a nossa entrevistada, “nós sabemos que a economia sofre transformações mais rápidas, mas as mentalidades demoram muitos anos, ou séculos a transformarem-se”.
Finalizou-se esta interessante conversa questionando a nossa entrevistada sobre a mensagem que gostaria de deixar aos nossos leitores/as sobre a questão da violência. Para esta é necessário “começar primeiro por perceber bem a sociedade e analisar as suas problemáticas. Olhar para as situações e perceber quem as vive, pois são condições extremamente graves e aflitivas, das quais se torna muito difícil, para as próprias pessoas, de saírem. São pessoas que necessitam de facto de uma grande ajuda, de uma grande compreensão e que lhes seja restituída a sua dignidade". Por fim, elogia o trabalho que é feito por todas as associações que, na sua opinião, actuam de uma forma “extremamente activa e dinâmica”.

Carla Garcia


Publicado na página Igualdade XXI do Jornal Diário Insular de 1 de Setembro de 2010

PODER MUDAR

(Imagem retirada de http://www.freewebs.com/)



Durante, sensivelmente, 3 meses, na UMAR – Açores, Delegação da Terceira, decorreu o Programa de Intervenção em Grupo para Mulheres Sobreviventes de Violência Doméstica, intitulado “Poder Mudar”. O mesmo, constituído por 14 sessões, realizadas semanalmente, com duração variável de 2horas, resultou da colaboração entre feministas e profissionais de 5 países (Estónia, Portugal, Itália, Reino Unido e Hungria) que participaram no Projecto Daphne “Survivors speak up for their dignity – supporting victims and survivors of domestic violence, 2007 – 2009”, promovido pela Comissão Europeia. Tendo sido adaptado pelas técnicas da UMAR, este Programa visou, sobretudo, a promoção da auto – estima das participantes, assumindo que as mesmas trabalhando em conjunto num espaço seguro, amigável e livre de juízos de valor, mudam as suas vidas para melhor.
Os assuntos abordados e trabalhados centraram-se, principalmente, nos direitos, necessidades, estereótipos de género, limites, emoções e assertividade.
Entre entradas e saídas, o grupo contou com a presença comprometida de mulheres, surpreendentemente, todas na casa dos 50 anos de idade e casadas com parceiros abusivos aproximadamente 3 décadas.
O projecto de vida destas mulheres incluía a conjugalidade e a maternidade como principais fontes de realização pessoal; sonho comummente partilhado pelo género feminino e promovido pelas sociedades judaico – cristãs mais devotas. Após investirem “mundos e fundos” na relação e darem literalmente tudo de si, chegou o dia em que se colocaram em 1º lugar e decidiram, com firmeza, começar a calcetar a sua própria estrada, processo extremamente difícil, sobretudo para uma mulher, dado que calcetar não é ofício associado ao género feminino, o que, por sua vez, poderá atrair inúmeros olhares menos empáticos.
Durante anos estas mulheres foram tratadas como seres de 2ª categoria, tanto familiar como socialmente, disseram-lhes que não valiam nada, que eram incapazes, que eram culpadas por todo o mal que existe no planeta, espancaram-lhes o corpo e a mente; inevitavelmente a sua auto – estima foi mutilada. Mas, como verdadeiras sobreviventes que são, cá estão, a lutar por uma vida mais digna.
Na primeira pessoa referem que a frequência deste programa teve um efeito bastante positivo sobre si: “aprendi a ser eu, como sou e não como os outros querem que eu seja”, “aprendi a gostar mais de mim, antes sentia-me como um trapo, um objecto que era usado e deitado fora, agora já não… agora já sou capaz de dizer «Ei! Eu também sou gente».”
A necessidade de encontrar respostas às questões: “Porquê a mim? O que fiz para merecer isto?” infelizmente não pôde ser satisfeita, mas sim apaziguada com a sabedoria e o amadurecimento que o sofrimento traz. Realmente não é possível encontrar resposta porque nada justifica a violência, apenas se pode recorrer à experiência como um dos mais fortes aliados para não se ver aprisionada na espiral dos maus-tratos novamente.
A partilha das suas histórias de vida com outras mulheres que já passaram por situações semelhantes revelou-se catártica e terapêutica por si só, ajudou-as a sentirem-se compreendidas e a ultrapassar a sensação de “caso único” ou de que teriam alguma perturbação, quando na verdade se tratam de pessoas perfeitamente normais que passaram por situações de vida anormais, com todas as consequências que isso pode acarretar.
Relativamente às mudanças percepcionadas, de um modo geral, todas se sentem mais confiantes: “Tenho que defender o meu «eu»”, “não posso pôr sempre os outros em primeiro lugar”, “agora sei que tenho de defender os meus direitos”.
Talvez não estejam completamente ultrapassados os sentimentos de culpa, vergonha, raiva, tristeza, medo… mas estas “mulheres-coragem” caminham no sentido da progressiva recuperação da sua auto-estima. Visivelmente mais “empoderadas”, conhecedoras dos seus direitos, das suas necessidades, dos seus limites, das suas emoções e também de formas mais assertivas de ser e agir, manifestam um lampejo de esperança: “aprendi que há uma vida para a frente, tenho que procurá-la”.

Rita Ferreira / Raquel Fontes


Publicado na página Igualdade XXI do Jornal Diário Insular de 1 de Setembro de 2010

sexta-feira, 2 de julho de 2010

I VIVEIROS FEST 2010



No âmbito das actividades desenvolvidas pela RAICSES / MR – Rede de Apoio Integrado ao Cidadão em Situação de Exclusão Social / Mulher em Risco da qual a UMAR Açores faz parte, realizou-se um convívio / churrasco no passado dia 3 de Julho com o/as utentes e filho/as das Casas Abrigo (Abrigo Amigo, Domus Spei e Solisvita). A iniciativa decorreu no parque de merendas dos Viveiros e teve o apoio da Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória e Confederação Operária Terceirense. Do programa de actividades desenvolvido, destaque para a realização de jogos tradicionais e espectáculos de fado e cantoria, culminando com um almoço e entrega de ofertas a todo/as o/as participantes. Ficam os nossos agradecimentos, em nome da RAICSES / MR, à fadista Patrícia Rodrigues acompanhada à viola por Carlos Lima e ainda aos cantadores José Amaral e José Eliseu. Muito obrigado e bem hajam.

Programa
9H30 – Concentração (Viveiros)
10H15 – Jogos Tradicionais
11H30 - Fados / Cantoria
12H30 – Almoço
13H30 – Convívio / Entrega de Ofertas aos Participantes


Publicado na página Igualdade XXI do Jornal Diário Insular de 1 de Setembro de 2010

Destaque do Mês de Junho de 2010

Instrutora de Condução Marisa Borges

A UMAR – Açores, enquanto Associação que demanda, entre outras coisas, intervir na sociedade no sentido de ultrapassar os estereótipos relacionados com a questão do género, procurou saber como se dá a integração da mulher num mundo maioritariamente masculino como é o caso do trabalho nas Escolas de Condução. Assim, foi entrevistada a Sr.ª Marisa de Fátima Ávila Forjaz Coelho Borges, de 34 anos de idade, que nos contou a sua experiência como instrutora na Escola Ilha 3, desde 2003.
Marisa tinha a ideia de que esta área era “muito mais fácil, que era só passear”, mas, quando iniciou o seu trabalho como instrutora, percebeu que “afinal não é nada disso, mas é muito giro”, como qualquer outra profissão, requer muito trabalho, neste caso, “não fisicamente, mas mais a parte psicológica”, uma vez que esta área implica lidar diariamente com as diferentes personalidades dos seus instruendo/as, mas com o passar do tempo “vai-se moldando às pessoas”.
Relativamente à questão de trabalhar com colegas maioritariamente do sexo masculino a instrutora Marisa afirma “não tenho problema absolutamente nenhum, para mim é igual”. Ao longo da sua carreira sempre teve uma boa relação com os seus colegas “tenho sorte com os colegas que tenho ao meu redor, eles ajudam imenso, nós somos uma equipa”, “se eu já tivesse tido esse problema já não estava cá a trabalhar”.
Em relação aos seus/as instruendos/as, refere que já passou por uma situação em que se sentiu descriminada, pelo facto de ser mulher. Numa determinada altura um dos seus alunos revelou sentir-se mal por ter aulas de condução com uma mulher. “Eles às vezes vêm com uma ideia de que como eu sou mulher, não vou ensinar tão bem”, mas as mulheres também têm a mesma atitude “já houve mais problemas com mulheres do que com homens, como por exemplo dizerem que só querem ter aulas com homens”.
De qualquer forma, situações destas não a aborrecem. Por vezes, ouve comentários de que “as mulheres são um perigo e ainda por cima podem ensinar, vão criar ainda mais perigos para a estrada”, mas considera que hoje em dia já são comentários feitos por brincadeira. O que a deixa realmente incomodada são as atitudes dos outros condutores face ao carro de instrução, e que denota como uma grande desvantagem nesta profissão. Reconhece que este provoca o embaraço do trânsito, no entanto as pessoas, “não têm respeito absolutamente nenhum”, “esquecem-se que já aprenderam, buzinam, mandam bocas”. “Esquecem-se que vão ter filhos mais tarde e que vão passar pelas mesmas situações. Quem está a conduzir não pode andar a grandes velocidades”.
Marisa recorda situações caricatas que revelam que “as pessoas não são cívicas”. Numa situação com um taxista, este saiu do carro no meio de uma rotunda “ veio chamar nomes à aluna e dizer que lhe ia bater…”, porque a instruenda travara bruscamente o carro parando dentro da rotunda. Outras vezes, vão atrás do carro de instrução “eu vejo pelo espelho retrovisor, eles mandam bocas, levantam as mãos e depois metem a cabeça de fora do vidro e começam a dizer coisas”. Também por parte de alguns peões, acontecem situações pouco correctas da parte destes, “quando vêem que o carro é da instrução metem-se logo porque sabem que o instrutor está ali e que vai ter de parar”. A instrutora afirma com descontentamento que frequentemente assiste a situações em que ”não há respeito!”. “Os portugueses têm esse problema, eles ouvem, a gente avisa, não façam isso, mas depois quando têm a carta na mão esquecem-se de muito do que aprenderam”. Por este motivo, apela a todos para que tenham um pouco mais de respeito por quem está a aprender.
Mas como qualquer outra profissão, ser instrutora de condução também tem as suas vantagens. Na sua perspectiva a principal é ver a evolução do aluno, “pegar numa pessoa que não faz ideia do que era conduzir e a partir de uma certa altura começar a ver os frutos”. Todavia, por vezes, é difícil fazer com que este “mude a sua maneira de estar, porque conduzir não é uma brincadeira, é uma coisa séria”, e há que haver uma postura de “muita responsabilidade”.
Em relação à sociedade em geral, considera que as pessoas ainda têm a ideia de que esta profissão é só para homens, “mas não é”. Baseia esta opinião no facto de, no inicio da sua actividade, perceber que por vezes, os/as seus alunos/as duvidavam do que dizia, “parece que quando ouvem um homem a falar que é mais verdade do que aquilo que uma mulher está a falar”, e, “às vezes até me experimentavam, e faziam perguntas para ver se eu realmente sabia o código de estrada”. Ao princípio estas situações deixavam-na um pouco afectada emocionalmente, mas agora diz já não ter problemas desses. Julga também que, as pessoas não deveriam duvidar do conhecimento de uma mulher só porque trabalha numa área que socialmente se entendeu como sendo mais masculina do que feminina, “lá por ser mulher não quer dizer que não saiba mais ou igual que um homem”. O conhecimento e a competência para ensinar não está relacionado com o sexo mas com a capacidade das pessoas para se aplicarem e dedicarem ao seu trabalho, tal como outro colega qualquer tem “ meses em que não tenho um aluno que reprove no exame”.
O testemunho da instrutora Marisa, como outros que temos vindo a apresentar é o retrato da capacidade das mulheres para vingar num mundo considerado como “masculino”. Qualquer cidadão/a pode trabalhar naquilo que quer e gosta, não importa o sexo, pois ambos têm a capacidade para aprender da mesma forma.
Felizmente homens e mulheres são diferentes e é nessa diferença que devemos encontrar a riqueza e a força para trabalharmos unidos, ultrapassando as dificuldades crescentes com as quais a nossa sociedade se depara actualmente. Alimentar preconceitos que não fazem qualquer sentido, apenas contribui para aumentar o desrespeito e o afastamento entre as pessoas, não promovendo assim, o avanço da nossa sociedade.

Carla Garcia

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 2 de Julho de 2010

Medo de Mim… Pavor dos Outros…

Quatro Ribeiras - 8 de Maio de 2010

Quatro Ribeiras - 8 de Maio de 2010


Assim foi designada esta peça criada e encenada por Teresa Valadão. Representada pelos alunos e alunas do Grupo de Teatro Experimental Orpheu de 2ª Geração, da Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade, subiu à cena entre 08 de Maio e 05 de Junho. Almejando chegar junto das pessoas, a divulgação da peça foi feita porta a porta e os palcos de várias freguesias da ilha receberam este projecto. Referimo-nos à Sociedade Recreativa das Quatro Ribeiras, Carmina Galeria de Arte Contemporânea, Sociedade Recreativa Sebastianense, Teatro Angrense, Sociedade Filarmónica das Doze Ribeiras e Sociedade Progresso Lajense. Foi também apresentada no Seminário intitulado “Violência nas Relações Íntimas Juvenis”, integrado nas comemorações do Dia do Comando Regional da PSP.
Esta iniciativa, promovida pela Direcção Regional da Igualdade de Oportunidades, foi co-produzida pela Associação Cultural Burra de Milho e pela UMAR Açores/CIPA (Centro de Informação, Promoção e Acompanhamento de Politicas de Igualdade).
Tendo como principal objectivo a sensibilização dos jovens e do público em geral para a questão da violência doméstica, e em especial os maus-tratos no namoro, esta peça abordou diversas situações de opressão, mas também de libertação, mostrando que é possível sair do ciclo do abuso.
De forma bastante criativa, integrando coreografias em diversos momentos, a representação destes jovens actores e actrizes na peça “Medo de Mim… Pavor dos Outros” cativou os/as espectadores/as.

Rita Ferreira

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 2 de Julho de 2010

Acção de Formação “Aperfeiçoamento de Competências Pessoais, Sociais e Profissionais”

Decorreu de 13 de Abril a 28 de Maio uma acção de formação intitulada “Aperfeiçoamento de Competências, Pessoais, Sociais e Profissionais” na qual a UMAR Açores contribuiu, através dos módulos Igualdade de Oportunidades e Cidadania e Entrevistas e Currículos Profissionais. Esta iniciativa orientada para utentes em fase final do seu processo de autonomização de diferentes instituições, foi desenvolvida no âmbito do trabalho da RAICSES / MR - Rede de Apoio Integrado ao Cidadão em Situação de Exclusão Social / Mulher em Risco coordenada pela Instituto de Acção Social e teve o apoio da SCMPV - Santa Casa da Misericórdia da Praia da Vitória, Confederação Operária Terceirense e da Casa da Saúde do Espírito Santo. A iniciativa decorreu nas instalações da SCMPV, com a supervisão de um técnico daquela instituição. No passado dia 28 de Maio teve lugar o encerramento desta acção com a presença do Sr. Francisco Ferreira Provedor da SCMPV, onde se entregaram os certificados de formação, culminando com a realização de um convívio com formando/as, formadore/as e responsáveis pelas instituições da RAICSES / MR.

Miguel Pinheiro

Publicado no Jornal Diário Insular - IGUALDADE XXI - de 2 de Julho de 2010

terça-feira, 8 de junho de 2010

Destaque do Mês de Maio de 2010

Professora Alice Silveira

"A verdadeira solidariedade começa onde não se espera nada em troca."
(Antoine De Saint Exupery )

Com formação na área do ensino (1º Ciclo), a professora Maria Alice Costa Silveira, teve sempre o “bichinho da actividade física” portanto, quando surgiu a oportunidade de realizar uma formação na área de Educação Física, não hesitou, tendo leccionado nessa área até 2006.
Para além do ensino, esteve sempre ligada à actividade física através de diferentes modalidades desportivas, pois, foi sempre uma área que a “fascinou”, confessa. Foi jogadora da 1ª equipa de basquetebol feminino do Lusitânia e integrou numa equipa açoriana que participou nos famosos Jogos Sem Fronteiras, uma experiência que descreve como “fantástica”. Mais tarde, entrou no mundo da patinagem de velocidade onde, foi treinadora, durante 7 anos, assim como seleccionadora nacional, durante uma época desportiva, outra experiência que a marcou pela positiva.
Desde 13 de Dezembro de 2005, é presidente da APACDPV – Associação de Pais e Amigos da Criança com Deficiência da Praia da Vitória, uma área com a qual nunca havia tido anteriormente, um contacto directo, mas afirma que “tem sido um desafio muito interessante”. O CAO – Centro de Actividades Ocupacionais da APACDPV, situa-se numa antiga escola primária nas Amoreiras – Santa Rita. Esta foi totalmente adaptada e reformulada, em equipamentos e na sua estrutura, estando o espaço “fantástico, muito acolhedor e simpático”, onde se realizam inúmeras actividades. No entanto, revela que há a “necessidade de aumentar para dar cobertura a outros utentes que estão em casa”, por este motivo, de momento, a direcção está a caminhar num novo projecto, o de “crescimento”.
“Toda a gente tem a ideia de que um deficiente não é capaz de fazer nada e ver o crescimento e ver as capacidades destes utentes a fazerem coisas extraordinárias e a progredirem tem sido uma experiência muito gratificante”, afirma. Confessa que por vezes acaba por se esquecer do tempo e ficar por lá todo o dia, pois “eles contagiam-nos”, “é mesmo viciante”. Na sua perspectiva, considera que ainda há muita discriminação por parte da sociedade para com esta população. Por vezes, nota “quase que uma repulsa e aquele género do coitadinho”, atitudes estas que a incomodam bastante. Põe esta razão, convida a todos a irem conhecer “as actividades deles, o bem-estar que nos conseguem proporcionar”. Apela à sensibilidade dos cidadãos dizendo que “as pessoas não têm que ter pena, esse sentimento não faz bem a ninguém”, pelo contrário “convivam com eles, falem com eles que eles irão responder-vos, eles adoram”.
De salientar, que as actividades e os eventos em que participam os/as utentes da APACDPV são publicados mensalmente, no jornal “O Amigo”. ”Eles têm imensas actividades, temos muito bom acompanhamento e estão muitíssimos bem, felizes da vida”. Sente que existe uma grande união entre todos. Para além disso, para esta direcção, é muito gratificante o reconhecimento dos pais pelo “bom trabalho que se tem feito”, devido, principalmente, à “equipa fantástica” que trabalha com os/as utentes, fazendo com que todos gostem do trabalho que realizam e “sinceramente, acho que eles merecem que as pessoas se dediquem a que este trabalho tenha sido feito”.
Como pessoa dinâmica e humanitária que é, o seu desejo de dar de si ao outro não poderia ficar por aqui. Para além deste trabalho, a professora dedica-se também ao voluntariado, há aproximadamente 4 anos. Às Segundas e Quartas-feiras, faz voluntariado na Academia da 3ª Idade, na Santa Casa da Misericórdia de Angra do Heroísmo, com aulas de psicomotricidade. Nunca havia trabalhado com este tipo de população e descreve a experiência como sendo “formidável”. É uma aula muito movimentada “quer física, quer mental, quer socialmente”, em que se conversa sobre tudo, “nós partilhamos as dores, as alegrias, é um grupo extraordinário e o bem que esta academia traz às pessoas que a frequentam”. Convidada pela Liga dos Amigos do Hospital, faz também voluntariado às Quintas-feiras na urgência do Hospital de Angra do Heroísmo, “outra experiência magnífica”.
Para esta ser voluntária “é ter tempo disponível! Há quem precise de nós? Vamos!”. Apesar de achar que existem muitas pessoas a fazer voluntariado, considera que a sociedade ainda tem de ser “mais solidária”, visto que “se todos nós dermos um bocadinho, a sociedade fica menos agressiva, menos violenta, e eu acho que faz bem quer a quem recebe, quer a quem dá”, é uma questão de “pensar um bocadinho nos outros, às vezes somos um bocadinho egoístas”, mas se as pessoas experimentarem “vão ver o resultado desse impulso e vão ver como depois sentem vontade de fazer mais alguma coisa”.
Em tom de curiosidade, quisemos saber o que a motiva para se dedicar tanto ao voluntariado. Não nos soube dizer! Segundo ela não costuma pensar nisso, “é necessário, eu tenho disponibilidade, vou, sem pensar na motivação, sem pensar no porquê de… não sei”. Após a reforma sentiu a necessidade de continuar a trabalhar e a dar de si. Foi à procura e descobriu a possibilidade de realizar voluntariado nestas áreas e agarrou a oportunidade. Diz, sentir-se “feliz, gosto muito” é uma sensação “extraordinária”.
Caros/as leitores/as, considero que um testemunho como este nos levará a todos à reflexão. O desejo genuíno de ser útil a quem, por vezes, já nada mais possui senão a boa vontade de um estranho, poderá ser um passo para tornar a nossa sociedade mais humana e menos materialista.

Carla Garcia

Publicado na Página Igualdade XXI do Jornal Diário Insular de 5 de Junho de 2010

Associação Cristã da Mocidade recebe Programa de Educação Afectivo – Sexual promovido pela UMAR


A UMAR Açores, Delegação da Terceira, enquanto entidade gestora do CIPA – Centro de Informação, Promoção e Acompanhamento de Políticas de Igualdade, labuta, sobretudo, pela promoção da igualdade de oportunidades dos grupos mais vulneráveis socialmente. Sempre com vista a fomentar a igualdade de género na comunidade, este ano, 2010, a Associação tem vindo a alargar as suas intervenções às seguintes populações: pessoas com necessidades especiais, minorias étnicas e sexuais.
Assim sendo, entre os dias 12 e 29 de Abril, implementou-se, na Associação Cristã da Mocidade da Ilha Terceira, o Programa de Educação Afectivo – Sexual. Este abrangeu um universo de 16 utentes, com idades compreendidas entre os 23 e 46 anos. Os objectivos prenderam-se, sobretudo, com a promoção da autonomia e da responsabilização; para que uma vivência mais realista e positiva da sexualidade seja, efectivamente, possível.

Publicado na Página Igualdade XXI do Jornal Diário Insular de 5 de Junho de 2010

AGRADECIMENTO

Decorrida a Feira “Viva à Diversidade”, gostaríamos de prestar os nossos sinceros agradecimentos a tod@s @s que nos ajudaram na concretização desta iniciativa:

- Secretaria Regional do Trabalho e Solidariedade Social – Direcção Regional da Igualdade de Oportunidades;
- Secretaria Regional da Agricultura e Florestas - Direcção Regional do Desenvolvimento Agrário;
- Secretaria Regional da Ciência, Tecnologia e Equipamentos;
- Filarmónica Recreio de Santa Bárbara;
- Cartor Construções;
- Copitu Publicidade;
- Antena 1 Açores;
- Escola Profissional da Praia da Vitória;
- Bombeiros Voluntários de Angra do Heroísmo, em especial aos bombeiros Mário Costa e Jorge Silva;
- Santa Casa da Misericórdia dos Altares;
- Culturangra – Entidade Empresarial Municipal;
- Restaurante “A Africana”;
- Grupo de Expressão Corporal da ACM (Associação Cristã da Mocidade);
- Grupo de Hip Hop Manos da Casa de Saúde de S. Rafael;
- Grupo de Dança Funaná da AIPA (Associação dos Imigrantes nos Açores);
- Tuna Académica Sons do Mar;
- Luís Gil Bettencourt e a sua banda.

A tod@s @s parceir@s:
ACM – Associação Cristã da Mocidade;
AIPA - Associação dos Imigrantes nos Açores;
AMPA / IT – Associação de Mulheres de Pescadores e Armadores da Ilha Terceira;
APACDAH – Associação de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente de Angra do Heroísmo;
APACDPV – Associação de Pais e Amigos de Crianças com Deficiência da Praia da
Vitória;
APDAH – Associação Portuguesa de Deficientes de Angra do Heroísmo;
APF – Associação para o Planeamento da Família;
CSES – Casa de Saúde do Espírito Santo;
CSSR – Casa de Saúde de S. Rafael;
DRC – Direcção Regional das Comunidades;
RAICSES / MR – Rede de Apoio Integrado ao Cidadão em Situação de Exclusão Social / Mulher em Risco;
Grupo “Liberdade e Igualdade” – Ana, Miriam e Patrícia, alunas da Turma 12ºE da Escola Secundária Vitorino Nemésio;
Grupo “Free Hugs” – Mariana, Maria e Maithé, alunas da Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade.


Muito obrigado e bem-hajam!


Publicado na Página Igualdade XXI do Jornal Diário Insular de 5 de Junho de 2010

terça-feira, 1 de junho de 2010

Imagens FEIRA VIVA À DIVERSIDADE

Inauguração Oficial


Labirinto Sensorial

Mostra Gastronómica - Ucrânia

Abraços Grátis (Free Hugs...)



UMAR Açores/Cipa + APF + Par Inter Pares Igualdade

Direcção Regional das Comunidades

Instituto São João de Deus - Casa de Saúde de São Rafael

Ass. de Pais e Amigos da Criança com Deficiência da Praia da Vitória + Ass. Portuguesa de Deficientes

Espaço de Snoezelen - Associação de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente de Angra do Heroísmo


Mostra Gastronómica - Guiné e Cabo Verde


Rede de Apoio Integrado ao Cidadão em Situação de Exclusão Social / Mulher em Risco

Casa de Saúde do Espírito Santo

Associação de Mulheres de Pescadores e Armadores da Ilha Terceira


Grupo de Expressão Corporal - Associação Cristã da Mocidade

Grupo de Expressão Corporal - Associação Cristã da Mocidade


Ténis de mesa em cadeira de rodas


Demonstração de Boccia - Casa de Saúde do Espírito Santo + Casa de Saúde de São Rafael

Hip Hop MANOS - Casa de Saúde de São Rafael

Hip Hop MANOS - Casa de Saúde de São Rafael

Funáná - Grupo de Dança da AIPA - Associação dos Imigrantes nos Açores

Tuna Académica Sons do Mar - Universidade dos Açores

Luís Gil Bettencourt & Amigos