ANA ISA CABRAL
Fotografia António Bettencourt
Nunca me senti descriminada por ser mulher, apenas por ser jovem e
talvez irreverente. Contudo, acho que foi a minha irreverência que me trouxe
onde estou hoje.
Ana Isa dos Santos Cabral tem 29 anos e é
licenciada em comunicação social e cultura. Profissionalmente exerce funções de
assessora de imprensa e é presidente do TAC – Terceira Automóvel Clube.
Como
começou e o que a motivou a organizar provas de automobilismo?
Comecei
a envolver-me nas organizações com 16 anos. O meu irmão mais velho e alguns
amigos que tínhamos em comum colaboravam com o TAC na vertente da segurança, o
que de certa forma me influenciou a aceitar envolver-me neste mundo. Em abril
de 2004, fiz segurança pela primeira vez numa edição do Rali Sical, tendo
acompanhado muito de perto todos os aspetos que envolviam a prova, em especial
aquela, que ficou marcada por uma grande mudança nos ralis açorianos. Ganhei o
gosto pela modalidade na mesma hora e a partir daí fui ganhando igualmente a
confiança das organizações por ser motivada, empenhada e com vontade de fazer
sempre mais, o que me trouxe a esta posição agora.
Como
é colaborar com um desporto maioritariamente associado ao masculino?
Eu
integro-me muito bem e posso garantir que no mundo do automobilismo não existe
discriminação por género. Muito pelo contrário. É um mundo onde melhor me
sinto. A minha integração correu bem desde o início e nunca tive qualquer tipo
de problema relacionado com isso com as pessoas envolvidas nesta área. Sempre
me senti muito acarinhada e apoiada pelos homens e mulheres no mundo dos ralis.
Todas
as dificuldades que enfrentei ao longo deste anos no TAC nunca estiveram
relacionadas com falta de integração ou qualquer tipo de discriminação.
Alguma
vez sentiu que não lhe era dada a devida credibilidade por ser Mulher?
Sim.
Quando fazia segurança nos ralis isso aconteceu-me algumas vezes. Eu era
demasiado pequena para conseguir impor o respeito desejado que aquela função
exige e muitas vezes não era levada a sério pelo público pelo facto de ser
mulher. Essa foi uma das razões que me levou a deixar de fazer segurança na
estrada e passar a assumir outras funções no clube. A partir daí, nunca mais
passei por qualquer situação semelhante.
Sobre
as Mulheres vítimas de violência doméstica
Se
por um lado, acho que a sociedade em geral olha para essas mulheres com pena,
também acho que nos dias de hoje a sociedade tem uma grande facilidade de
julgar alguém que seja vítima de violência doméstica por não apresentar queixa
e por se sujeitar a isso, antes de tentar colocar-se no lugar do outro e
perceber os motivos que levaram a essa situação. Cada caso é um caso, há
inúmeras situações diferentes e não podemos generalizar.
Na
minha opinião, quem passa por casos de violência doméstica deve ser tratado com
respeito, pois são situações muitos complicadas e encaradas de forma diferente
por cada um que por elas passa. Contudo, também acho que a sociedade ainda tem
alguma dificuldade em identificar tipos de violência como a emocional ou a
social, em que a pressão psicológica e a perturbação e invasão da vida privada
são muitas vezes piores do que a agressão física. Neste contexto, o trabalho desenvolvido por associações como
a UMAR Açores contribui para a educação em relação não só à violência
doméstica, mas principalmente na defesa dos direitos das mulheres e na promoção
da igualdade de género. É muito importante estar próximo das pessoas, não só
para dar resposta a todas aquelas que necessitam, como para defender aquele que
é um direito e um dever de todos os cidadãos. A formação nesta área é
fundamental e só é possível graças à mensagem que a UMAR Açores e outras
instituições do género incutem na sociedade, porque infelizmente, ainda
encontramos pessoas nos dias de hoje que ainda não sabem respeitar a igualdade
de género.
O
que aconselharia a outras Mulheres que gostariam de assumir um papel
determinante na sociedade?
Que
ousem arriscar. Quando as nossas capacidades são colocadas à prova, somos
capazes de tudo para superar, até descobrirmos que afinal conseguimos ir mais
além do que imaginávamos. Não podemos ter medo de falhar, porque sabemos que
errar é humano, mas nunca poderemos ter medo de tentar. Trabalhar todos os dias
para se ser melhor e para alcançar os nossos objetivos. Não criar expetativas
para não ficar dececionado, mas esperar sempre o pior para ficar surpreendido
quando acontece o melhor. Estar rodeado de pessoas de quem gostamos e que
acreditam em nós é o melhor segredo para o sucesso, pois o apoio é fundamental,
principalmente nos piores momentos.
No
meu caso, tenho orgulho de ser uma mulher na posição de presidente do TAC
porque sei que sou respeitada pelos homens e mulheres envolvidos neste meio.
Publicado no jornal Diário Insular de 18 de Novembro
de 2016
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