MARÍLIA CORDEIRO
Por Mariana Ornelas
(*)
Marília Fátima Martins Cordeiro,
natural da ilha Terceira, vinte e nove anos de idade é uma das mulheres
Bombeiras Voluntárias da ilha Terceira.
Licenciada em Ciências da Educação,
Marília trabalha actualmente como monitora de Inserção Social na Associação
Cristã da Mocidade da Ilha Terceira (ACM).
Quando perguntei qual teria sido a
razão de voluntariar-se para os Bombeiros, esta respondeu logo de imediato que
a sua motivação foi a dinâmica da profissão e o “bichinho que tinha dentro de
si que a chamava para ser bombeira”.
De facto, o que mais me impressionou ao conhecer a Marília foi o
entusiasmo com que esta falava da sua vida enquanto Bombeira. Apercebi-me
instantaneamente, que a Marília era uma Bombeira por vocação. Nem as
dificuldades que enfrentou, após a sua aceitação nos Bombeiros Voluntários move-a
de atingir o seu sonho.
Quando a Marília entrou para os Bombeiros em 2003, as infra-estruturas
não estavam preparadas para receber mulheres. Não existiam vestuários nem
balneários para as mulheres, logo estas tinham que despir-se e vestir-se sem o
mínimo de privacidade, facto que causava grande
transtorno. No final de 2003,
criaram-se as infra-estruturas necessárias para as mulheres, no entanto os
vestuários continuam a ser demasiado pequenos em comparação com os dos homens.
Além das dificuldades estruturais, também existem as da profissão e as
culturais, facto que a Marília não quis deixar de realçar. “Quando se é uma mulher Bombeira, é necessário ser muito persistente e
ter muito amor e vocação pela profissão, pois esta é muito dura fisicamente e
acabamos por abdicar de alguns momentos com a nossa família, visto passarmos
muitas horas a trabalhar. Para além disso, a sociedade em geral ainda associa
esta profissão ao masculino, a aceitação a nível da população é difícil, as
pessoas acham muito estranho ver uma mulher Bombeira”.
Apesar de haver um maior número de mulheres no ramo a vida de bombeira é muito
difícil levando a que muitas acabem por desistir. A falta de apoio familiar,
muitas horas e dias de trabalho, a população não estar sensibilizada para ver
uma mulher bombeira, a nível pessoal a maioria dos namorados ou maridos não se
sentirem bem com o facto da sua mulher trabalhar num mundo maioritariamente
masculino, são as principais razões que a Marília apontou para o facto de
muitas das suas colegas terem abandonado tal profissão.
Marília, também sentia algumas destas
dificuldades, tendo-as ultrapassado, com o profissionalismo que é exigido à
profissão, ignorando preconceitos ou suposições. Integrou-se na equipa
procurou o seu espaço e entregou-se de corpo e alma à dinâmica de trabalho.
Durante este processo, refere que nunca se sentiu discriminada pelos colegas, sempre
houve muito companheirismo.
Neste momento e devido à sua vocação força de vontade e profissionalismo,
a sua credibilidade nunca foi posta em causa. Os seus colegas masculinos muitas
vezes acabam por deixa-la actuar como forma de
demonstrar o seu voto de confiança. Esta
refere “ Se formos profissionais não
surge quaisquer problemas nesta ou em alguma profissão”.
Ao longo da entrevista,
Marília sempre realçou o quanto se sente feliz pelo facto de nunca ter
desistido, esta menciona “ Sinto-me muito
feliz, nunca deixarei esta profissão, mesmo quando tiver filhos nunca
desistirei. A família Bombeiros Voluntários torna-se a nossa segunda família. Esta
família ensinou-me imenso, demonstrou o que era o companheirismo, a confiança
uns nos outros e valores. Ser bombeira é uma aprendizagem dura mas externamente
gratificante. O enriquecimento
pessoal é enorme, os valores que aprendemos nesta profissão são para toda uma
vida”.
(*) Mariana Ornelas
Psicóloga da UMAR Açores / CIPA
Delegação da ilha Terceira
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 22 de Junho de 2012
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