Alison Neilson
Alison Neilson
Laurie, nasceu no Canadá a 7 de
Fevereiro de 1965, é pós-doutorada
pelo Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores e responsável
pelo projecto EDUMAR - Perspetivas Sobre o Mar e a Vida Marinha, Cetáceos e
Turismo nos Açores e Terra Nova. Tem trabalhado com as comunidades locais de
pescadores nos Açores para perceber como as pessoas interpretam o mar e como
este conhecimento é valorizado e utilizado em educação, política e
sustentabilidade. É coordenadora do RCE Açores (Centro Regional de Peritos em
Desenvolvimento Sustentável nos Açores, no programa da Nações Unidas para a
Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável).
Chegou aos Açores em Janeiro de 2008
depois de obter uma bolsa de pós-doutoramento para fazer trabalho de
investigação em educação ambiental, com a Dra. Rosalina Gabriel da Universidade
dos Açores em Angra do Heroísmo.
Admite que não sabia a localização correcta dos Açores, até
se mudar para cá. “É especialmente embaraçoso
porque mais tarde vim a descobrir que muito/as do/as emigrantes que residiam em
Toronto eram açoriano/as.“
O que mais gosta nos
Açores?
“Gosto do facto das
ilhas serem pequenas, assim é possível conhecer muitas pessoas tanto a nível
profissional como social. Quando conheço uma pessoa, esta acaba por conhecer
outra que eu também conheço, acabando por me querer apresentar a novas pessoas.
Por exemplo, quando estive no Pico há uns anos atrás, andei por uma parte da
ilha à boleia e enquanto falava com um casal sobre o meu trabalho, estes indicaram-me
o contacto de uma senhora que conheciam na Universidade dos Açores em São Miguel
que tinha feito um trabalho semelhante ao meu, sugerindo que eu entrasse em
contato com ela. Curiosamente, eu já tinha conhecido o marido dessa pessoa, também
ele investigador. Conhecemo-nos em várias ocasiões nas ilhas Terceira e Faial.
Para mim é um prazer conhecer pessoas de todas as ilhas.”
O que menos gosta
nos Açores?
“Às vezes torna-se
muito silencioso para mim. Eu adoro jantar fora e assistir a eventos culturais.
Durante o Verão existe movimento nas ruas à noite, mas durante o Outono e o Inverno
são poucas as pessoas que saem de casa.”
Como foi a sua adaptação.
Quais as maiores dificuldades?
“A língua, claro, foi
um dos principais obstáculos. A maior dificuldade é que muito/as açoriano/as,
especialmente na universidade, falam muito bem inglês. Isso permitiu sentir-me
confortável nas mais variadas situações, mas também fez com que abrandasse a
minha aprendizagem do português não permitindo que aperfeiçoasse a língua.
Trabalhar com comunidades onde poucas pessoas falam inglês, é desafiante, mas
serviu para improvisar as minhas competências linguísticas. Contudo, a língua
em si, não é o único meio de comunicação e isso é uma das principais razões pelas
quais eu tenho tido sucesso no meu trabalho junto das comunidades de pescadores
em particular. A minha habilidade em escutar, ver e estar com as pessoas,
promove o seu respeito e a sua compreensão.”
Alguma vez sentiu
que, no exercício da sua profissão ou noutra actividade que desempenhe, não lhe
era dada a devida credibilidade por ser mulher?
“Tenho tido muita
sorte e o facto de ser mulher não tem enfraquecido a credibilidade do meu
trabalho. De diferentes formas acabo por atingir os meus objectivos pois tenho
um doutoramento, falo inglês e sou relativamente bem paga comparando com o/as
outro/as habitantes da ilha.
Não acredito que
nenhuma das condições acima descritas me tornem melhor que as outras pessoas,
mas permitem que me salve do sexismo individual e da discriminação estrutural
que pode afectar outras mulheres.”
Já alguma vez sentiu
que era discriminada pelo facto de ser mulher?
“Raramente senti discriminação
por ser mulher. Contudo, estou ciente que à volta do mundo as universidades têm
falhado no modo como fornecem as mesmas oportunidades para as mulheres se
destacarem como professoras, investigadoras e administradoras.
Mesmo existindo
muitos programas que encorajam as mulheres, independentemente do país em que
vivemos, as mulheres em todo o mundo recebem, em média, 78% daquilo que os
homens ganham.
Este facto não é tão
pronunciado como a diferença de salário e de respeito entre homens e mulheres
em outros sectores, como a pesca, mas eu acredito que qualquer diferença em
qualquer sector é ridícula em 2013.
Infelizmente, a
diferença existente entre os sexos em termos de remuneração e condições em
todos os sectores só vai piorar com a crise económica actual, a mulher será o
primeira a ser demitida como provavelmente será a última a ser contratada e
quaisquer medidas que se implementem com o intuito de melhorar as desigualdades
salariais vão fazer com que se acabe com os salários sendo estes congeladas e
reduzidos.”
Já alguma vez sentiu
que era discriminada pelo facto de ser imigrante?
“Não, nunca fui descriminada
por ser imigrante, mas penso que isso estará relacionado com a minha cor de
pele, a minha formação e a minha língua. “
Como acha que são
vistas as mulheres imigrantes pela sociedade açoriana?
“Eu acho que não seria
justo para mim, descrever como é que a sociedade açoriana vê as mulheres
imigrantes, especialmente porque a minha experiencia é diferente das outras imigrantes
que não trabalham.”
Gostava de exercer
outra profissão?
“Estou muito contente
com a minha profissão, pois esta permite-me diversificar. Desde que trabalho na
área da educação é habitual ensinar e liderar todos os tipos de workshops que
possam existir. A investigação permite-me viajar por todas as ilhas, bem como questionar
qualquer tipo de dúvida em diferentes alturas. O meu trabalho está sempre
aberto a mudanças, enquanto investigo acabo por ser obrigada a adquirir novas competências
e a fazer coisas diferentes, por isso não tenho necessidade de mudar pois a
minha profissão já inclui oportunidades de mudança.”
Quais são os seus
objectivos (pessoais / profissionais) a curto prazo?
“Tenho escrito alguns
artigos baseados na minha investigação, mas ao mesmo tempo tenho trabalhado num
livro que se foca em entrevistas realizadas nos Açores com o objectivo de compreender
o mar. Este livro será nas duas línguas, inglês e português e pretende ser do
interesse dos habitantes das ilhas, bem como de investigadores de outras
universidades.
Espero convidar
várias pessoas a contribuir para o livro, bem como as que foram envolvidas
nesta investigação, pois os conteúdos das entrevistas têm implicações para a
educação, política, e a biodiversidade, entre outras coisas.
Também espero
encontrar outras formas para que todo este trabalho ajude a servir as
comunidades dos pescadores em particular, levando-me assim a promover pesquisas
e projetos de extensão comunitária.”
Em que outros
projectos está envolvida actualmente?
“Além do trabalho de
pesquisa, foram envolvidos voluntário/as na criação e coordenação de uma rede informal
para a educação e para o desenvolvimento sustentável. Desde 2009 que o RCE
Açores foi reconhecido pela Universidade das Nações Unidas como um Centro
Regional de Especialização de Educação para o Desenvolvimento Sustentável e
envolve várias organizações na ilha Terceira e outras ilhas.
Um dos principais
objectivos é apoiar a educação transformadora, o que significa dois sentidos de
aprendizagem entre idosos e jovens, professor e aluno e aprender com as formas
tradicionais, bem como aprender a partir de várias perspectivas, tais como as mulheres,
cujas vozes não podem ser sempre honradas em algumas situações.
Nós fomos mais activos
em 2010, ano da biodiversidade, mas, desde então, diminuiu a ajuda de
estagiários voluntários do programa Leonardo da U.E.. Actualmente temos dois
estagiários do Reino Unido, Maio Xanthe e Crump Liz que estão na Terceira desde
Dezembro de 2011 e, entre outras coisas, vão de porta em porta a realizar entrevistas
com o objectivo de perceber o que é importante para os moradores, fazendo com
que estes tenham conhecimento das actividades do RCE. Tanto Xanthe como Liz
falam português e todos juntos pretendemos dar apoio a um suporte de
aprendizagem sobre sustentabilidade aqui nas ilhas. Actualmente, há uma RCE
Açores no facebook com uma versão online de pesquisa.”
Miguel Pinheiro e Sara Ataíde
Publicado na página Igualdade XXI no jornal Diário Insular de 27 de Fevereiro de 2013
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