Mariana
Ornelas (*)
Com o surgimento da Revolução Industrial nos séculos XVIII
e XIX, as pessoas passaram a trabalhar horas infinitas em fábricas.
A maioria dos trabalhadores era mulheres
e crianças, pois eram mais baratos. De facto, até à primeira metade do séc.
XIX, 70% da mão-de-obra utilizada na indústria era composta por mulheres e
crianças, com a finalidade de poupar nos salários. A abundante presença de
crianças explica-se também pela maior facilidade de imposição de disciplina.
O trabalho nas fábricas e o
desconhecimento legal de direitos elementares suscitaram entre os operários um
sentimento de insatisfação e de descontentamento, que se manifestou de modo
violento. Deste modo, na década de quarenta e cinquenta do século XIX surgiram
as primeiras lutas das trabalhadoras, sendo uma das primeiras queixas, a realidade
contra o desemprego em consequência das frequentes crises industriais. As
primeiras manifestações operárias que conhecemos na revolução industrial são
contra as máquinas, nas quais o operário via um competidor (máquina) que
favorecia a descida dos salários e provocava o desemprego, facto que não deixa
de ser muito interessante tendo em conta a nossa actualidade.
É neste contexto que surge a manifestação
do dia 8 de Março de 1857 esta foi uma das mais significativas, pois teve como
consequência a morte das 130 operárias tecelãs. Este acto totalmente desumano
nunca foi esquecido entre os trabalhadores/ras da época e foi um dos
acontecimentos que veio originar o 1º de Maio.
O
1º de Maio surgiu no seguimento de uma manifestação que ocorreu em 1886 na
cidade de Chicago, Estados Unidos da América. A manifestação tinha como
finalidade reivindicar a redução de trabalho para 8 horas diárias e teve a
participação de 500 mil trabalhadores, a maioria eram mulheres. Nesse dia,
devido a tal manifestação teve também início uma greve geral nos EUA.
No
dia 3 de Maio a polícia entreviu e consequentemente, morreram alguns manifestantes. No dia
seguinte, 4 de Maio,
uma nova manifestação foi organizada como protesto pelos acontecimentos dos
dias anteriores, neste dia, morreram mais doze pessoas e dezenas ficaram
feridas. Estes acontecimentos passaram a ser conhecidos como a Revolta de Haymarket. Três anos mais tarde, a 20 de Junho de 1889, a Internacional Socialista reunida em Paris decidiu convocar
anualmente uma manifestação com o objectivo de lutar pelas 8 horas de trabalho
diário. A data escolhida foi o 1º de Maio, como homenagem às lutas sindicais de
Chicago. Em 1 de maio de 1891 ocorre uma manifestação no norte de França
e o resultando é novamente a morte de diversos manifestantes. Esse novo drama
reforçou ainda mais o dia 1º de Maio como um dia de luta dos trabalhadores e trabalhadoras.
Meses depois a Internacional Socialista de Bruxelas
proclama o dia 1º de Maio como dia Internacional da reivindicação das condições
laborais.
É de realçar o papel da mulher em tais movimentos
sociais. A manifestação do dia 8 de Março foi um marco, tendo sido uma das primeiras
manifestações da Revolução Industrial, foi o início da luta dos direitos dos trabalhadores
e trabalhadoras.
As mulheres de acordo com
o relatório sobre a Situação da População Mundial em 2010, do Fundo das Nações
Unidas para a População (UNFPA), têm imensa resiliência e devido a tal facto
tentam ultrapassar as dificuldades em momentos de crise. O documento mostra
também que as mulheres que sobreviveram a momentos difíceis, trabalharam para
que as sociedades estejam futuramente mais preparadas para as proteger a si e à
sua família. No mundo as mulheres continuam a ser as principais agentes na
prestação de cuidados. Devido a tal facto, estas acabam por cuidar das pessoas
que foram vítimas de abuso e de confrontos sociais. Ao ver o sofrimento humano
acabam por querer lutar por um futuro melhor.
Este relatório demonstra o que
possivelmente as cerca de 70% das operárias sentiam nos meados do século XIX,
estas mulheres queria proteger-se e ter tempo para si, para a sua família e
para os seus filhos. Estas não queriam ver os seus filhos a trabalhar tal como
as mães infinitas horas nas fábricas.
A memória destas pessoas que lutaram por
uma sociedade melhor não deve ser esquecida, a suas mortes não poderão ter sido
em vão.
Para que as “Vozes de Maio” nunca sejam
esquecidas e nunca sejam caladas, as mulheres actuais deverão continuar a lutar
pelos seus direitos, pois infelizmente em momentos de crise, somos nós e as
crianças, as mais sacrificadas.
(*) Mariana Ornelas
Psicóloga da UMAR Açores / CIPA
Delegação
da Terceira
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 23 de Maio de 2012
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