sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Destaque do Mês de Setembro de 2012


Rosa Silva, a terceirense das rimas
 

Natural da freguesia da Serreta, Rosa Maria Correia da Silva, conhecida por Azoriana, a terceirense das rimas, tem 48 anos e é assistente técnica de estatística na Secretaria Regional da Saúde. A sua grande paixão é a poesia que aliou à blogosfera, sendo responsável pelos espaços www.azoriana.blogs.sapo.pt e www.silvarosamaria.blogs.sapo.pt
A 2 de Abril de 2011 publicou o seu primeiro livro, intitulado Serreta na Intimidade, onde se podem ler vários poemas da autora.
 
 
“Dizem que sou poeta e passei a acreditar que sim.”

 
Como começou e o que a motivou a escrever poesia?
Após ter conhecimento da blogosfera, o ter assunto para escrever assiduamente e a descoberta de rimar e tornar-se repentista. Dizem que sou poeta e passei a acreditar que sim.
Já cantou ao desafio. Tendo em conta que é uma atividade associada maioritariamente ao masculino como foi a sua integração?
A integração foi fácil porque foi o masculino que me convidou e me aceitou bem. As dificuldades prendem-se com algum desconhecimento desta minha vertente e o facto de não ser convidada para eventos em palco, uma vez que a maior parte das cantorias são feitas em bares ou em convívio de amigos. Propriamente em palco foram poucas vezes que atuei.
Alguma vez sentiu que, no exercício da sua profissão ou noutra atividade que desempenhe, não lhe era dada a devida credibilidade por ser mulher?
A mulher nem sempre tem a mesma aceitação que o homem talvez por ainda viver num meio pequeno, como é o das ilhas. Aos poucos, vai se integrando em tarefas que até há bem pouco eram exclusivas dos homens. Não sei bem da conversa de “bastidores” mas, pela frente, acho que tenho credibilidade pelo facto de desempenhar com convicção o que quer que me seja pedido, seja tarefa feminina seja do tipo masculina. Desde pequena que fazia parte integrante de tarefas domésticas onde prevalecia o masculino: malhar com mangual o feijão, tremoço, favas; ir à frente da vaca para fazer o rego para as sementeiras, etc.
Acha que as associações feministas desempenham um papel importante na nossa sociedade actual?
Sim. É preciso fazer valer os direitos e deveres das mulheres, sobretudo das mais frágeis.
Como acha que são vistas as mulheres vítimas de violência doméstica pela sociedade em geral?
Eu vejo-as com necessidade de muito apoio para se libertarem de um modo de vida que não é benéfico para ninguém. Eu própria já passei por isso e, graças à UMAR consegui libertar-me de um mau modo de vida.
Gosta de ser mulher?
Gosto porque fui esposa, mãe e não há nada melhor que ver o fruto de uma união… Mas tenho pena de não ter vivido as bodas de prata de um casamento que quisera para sempre e que não o foi… Tenho pena de ter descoberto o Amor fora de um tempo que queria tê-lo. Nunca é tarde para amar e muitas vezes é graças à UMAR que eleva o ser MULHER. Nunca desistam de ajudar a Mulher frágil pela violência que acontece porque o mundo está a padecer de valores.

 
CANTINHO DO CÉU

Nasci num cantinho do céu!
Por entre beijos das flores e acenos dos passarinhos.
Cresceu em mim uma vontade de voar
Quis saber se no mundo tudo era igual ao meu cantinho
Mas nem sempre a resposta era uníssona.

Fui para outros lugares
Até naveguei pelos mares
E experimentei a sensação dos pássaros
Estive perto das nuvens
E foi aí que me apercebi que o pontinho onde eu nasci
Perdia-se na imensidão global.

Então para saberem que ele existe,
Por vezes sob um tecto de nevoeiro
Mas com a Luz de uma Mãe com séculos de Amor,
Comecei a falar dele à luz do meu conhecimento.
De repente, percebo que, afinal, este cantinho,
Da minha infância e juventude,
Se avista mais longe do que eu imaginava
E está presente em mim
Faz parte de mim
Mesmo estando ausente dele,
E atraiu o encanto do mundo.

Agora posso dizer:
Nasci no cantinho do céu,
Na pequena serra, Serreta.

Rosa Silva, Azoriana
 
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 20 de Setembro de 2012

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