sexta-feira, 21 de setembro de 2012

O apoio psicológico à mulher vítima de violência doméstica


Quando nos chega uma mulher que está num relacionamento onde sofre violência conjugal, verificamos que esta na maior parte das vezes se encontra debilitada psicologicamente. E porquê? Porque as circunstâncias em que vive potenciam o desenvolvimento de instabilidade emocional e daí por vezes surjam sintomas de ansiedade, depressão e mesmo stress pós-traumático.  

Estar num relacionamento em que o companheiro é ciumento, controlador, possessivo, agressivo, leva a que um sentimento de insegurança e medo se instale, condicionando toda a vida da pessoa. Ser humilhada, insultada, ameaçada e desvalorizada constantemente, faz com que a auto-estima sofra danos muito difíceis de reparar.

É preciso em primeiro lugar ouvir esta sobrevivente que se encontra face a face connosco depois de ter dado o difícil passo que é reconhecer o problema e procurar ajuda. E compreender aquilo por que passou. Não é necessário para tal ter vivido as mesmas circunstâncias, mas sim tentar pôr-se no lugar da pessoa e perceber que os seus sentimentos são legítimos, e mais do que mostrar simpatia, é essencial criar empatia. Aí se fundamenta a aliança terapêutica, através da qual será desenvolvido o processo de recuperação da estabilidade psicológica e emocional.

Em segundo lugar deve ser devolvida voz activa à mulher que se nos apresenta. Damos a conhecer os vários recursos existentes, exploramos as várias hipóteses de acção, mas a última palavra cabe sempre a ela. Deve reconhecer que é capaz de tomar decisões sobre a sua vida, quando muitas vezes isso lhe foi privado. O conhecimento dos seus direitos e do seu valor enquanto pessoa potencia o empoderamento da mulher, levando a que esta admita que não se deve deixar maltratar, pois quem gosta não faz sofrer: “quanto mais me bates, menos gosto de ti”. 

É impossível viver uma situação de violência doméstica e não sofrer qualquer impacto com isso. A pessoa pode é ser mais ou menos afectada, dependendo de inúmeros factores: as características e duração do relacionamento abusivo, as próprias características de personalidade da vítima, uma vez que esta pode ser mais resiliente e ter recursos individuais para lidar com as adversidades, assim como o facto de ter uma boa rede social de suporte, o que também constitui um factor protector.

Muitas vezes a mulher não reconhece mas sente uma grande dependência emocional, dificuldade em imaginar e mesmo em concretizar uma vida autónoma e porque não dizer, sozinha. A ideia de “cara metade” e “alma gémea”, dá a entender que uma pessoa só está incompleta, o que não corresponde de todo à verdade. A pessoa, mesmo sem parceiro/a é capaz de viver a sua vida e desenvolver todo o seu potencial e mesmo ser feliz, porque não? A sabedoria popular dá alguns conselhos duvidosos: “entre marido e mulher não metas a colher”, mas também os dá muito acertados “antes só que mal acompanhado/a”!
 
Rita Ferreira
Psicóloga UMAR Açores / CIPA
 
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular de 20 de Setembro de 2012
 
 

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