Quando nos chega uma
mulher que está num relacionamento onde sofre violência conjugal, verificamos
que esta na maior parte das vezes se encontra debilitada psicologicamente. E
porquê? Porque as circunstâncias em que vive potenciam o desenvolvimento de
instabilidade emocional e daí por vezes surjam sintomas de ansiedade, depressão
e mesmo stress pós-traumático.
Estar num relacionamento em que o
companheiro é ciumento, controlador, possessivo, agressivo, leva a que um
sentimento de insegurança e medo se instale, condicionando toda a vida da
pessoa. Ser humilhada, insultada, ameaçada e desvalorizada constantemente, faz
com que a auto-estima sofra danos muito difíceis de reparar.
É preciso em primeiro lugar ouvir
esta sobrevivente que se encontra face a face connosco depois de ter dado o
difícil passo que é reconhecer o problema e procurar ajuda. E compreender
aquilo por que passou. Não é necessário para tal ter vivido as mesmas circunstâncias,
mas sim tentar pôr-se no lugar da pessoa e perceber que os seus sentimentos são
legítimos, e mais do que mostrar simpatia, é essencial criar empatia. Aí se
fundamenta a aliança terapêutica, através da qual será desenvolvido o processo
de recuperação da estabilidade psicológica e emocional.
Em segundo lugar deve ser devolvida
voz activa à mulher que se nos apresenta. Damos a conhecer os vários recursos
existentes, exploramos as várias hipóteses de acção, mas a última palavra cabe
sempre a ela. Deve reconhecer que é capaz de tomar decisões sobre a sua vida,
quando muitas vezes isso lhe foi privado. O conhecimento dos seus direitos e do
seu valor enquanto pessoa potencia o empoderamento da mulher, levando a que
esta admita que não se deve deixar maltratar, pois quem gosta não faz sofrer:
“quanto mais me bates, menos gosto
de ti”.
É impossível viver uma situação de
violência doméstica e não sofrer qualquer impacto com isso. A pessoa pode é ser
mais ou menos afectada, dependendo de inúmeros factores: as características e
duração do relacionamento abusivo, as próprias características de personalidade
da vítima, uma vez que esta pode ser mais resiliente e ter recursos individuais
para lidar com as adversidades, assim como o facto de ter uma boa rede social de
suporte, o que também constitui um factor protector.
Muitas vezes a mulher não reconhece
mas sente uma grande dependência emocional, dificuldade em imaginar e mesmo em
concretizar uma vida autónoma e porque não dizer, sozinha. A ideia de “cara
metade” e “alma gémea”, dá a entender que uma pessoa só está incompleta, o que
não corresponde de todo à verdade. A pessoa, mesmo sem parceiro/a é capaz de
viver a sua vida e desenvolver todo o seu potencial e mesmo ser feliz, porque
não? A sabedoria popular dá alguns conselhos duvidosos: “entre marido e mulher
não metas a colher”, mas também os dá muito acertados “antes só que mal
acompanhado/a”!
Rita Ferreira
Psicóloga UMAR Açores / CIPA
Publicado na Página Igualdade XXI no Jornal Diário Insular
de 20 de Setembro de 2012
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