Paula Lima
Paula Maria Ficher Lima, de 41 anos de idade,
natural da freguesia de São Mateus, foi a primeira mulher motorista de pesados
de passageiros na Empresa de Viação Terceirense, na qual trabalha há 7 anos.
Aos 30 anos, a motorista dos minibus travou durante 4 anos um longo percurso até conseguir
chegar ao seu local de trabalho, como a própria refere, “quando cheguei á EVT,
houve uma grande admiração quando pedi a inscrição e referi que esta era para
mim, disseram-me que não tinha experiência e que até ao momento nunca tinham
contido para trabalhar na empresa como motorista uma mulher. Ao longo de 4 anos
vi a entrar pessoas com experiencia igual à minha e, sempre que me dirigia à
empresa para saber da minha situação era sempre referido a minha falta de
experiência. Foi um percurso complicado mas com persistência e pressão de certa
forma da minha parte, após quatro anos de espera aceitaram-me e foi assim, que
consegui vencer esta batalha”.
A 21 de Junho de 2005, Paula
Maria Ficher Lima com 34 anos de idade, finalmente torna-se a primeira mulher a
entrar para a EVT como motorista de pesados de passageiros, mas refere, que
trabalhar num “mundo” maioritariamente masculino não é fácil, “pois, se já é difícil quando se é novo num
trabalho, então quando se é mulher, mais difícil se torna, mas, com cuidado no
diálogo, na perseverança e na exigência do respeito, consegue-se afirmar o
nosso espaço entre os outros. Desta forma, à que saber ouvir quem está há mais
tempo na profissão, aceitando as suas opiniões, ainda que estas sejam
divergentes das minhas e, é deste modo, que deixam de ver-me de certa maneira
como mulher e, passam a olhar como “um” colega cuja, a profissão é a mesma”.
Afirma, que apesar de ser a
primeira mulher a trabalhar como motorista na EVT, foi bem recebida pela
empresa e principalmente pelos passageiros, lembra-se da curiosidade e
admiração das pessoas, referindo que,“faziam
imensas perguntas e, muitas mulheres davam-me os parabéns, por ser a primeira
mulher motorista, era um orgulho, diziam elas”.
Segundo a entrevistada, uma das
suas principais dificuldades foi a farda, “sendo esta masculina tive de adaptá-la e até, de certo modo, criar a
minha própria farda de acordo com os padrões exigidos pela EVT, tentando de
certo modo torná-la mais feminina”.
No
exercício da sua profissão nunca sentiu que a sua credibilidade fosse colocada
em dúvida mas, infelizmente, já se sentiu muitas vezes discriminada por ser
mulher, referindo que, “é
pena que na nossa sociedade as mulheres sejam ainda discriminadas, uma vez que são dadas mais oportunidades de
trabalho aos homens”.
Para finalizar, à pergunta, como acha que são vistas as mulheres vítimas
de violência doméstica pela sociedade em geral, a entrevistada refere, “que
a nossa sociedade cada vez mais perde valores, a sua ignorância rege-se pelo
facto de não existir interajuda para com os outros. Estamos cada vez mais numa
sociedade que é conduzida apenas por juízos de valor. A prova disto é o
próprio“sistema” de proteção que envolve a vítima de violência doméstica, na
minha opinião, é a primeira a discriminar a própria mulher e, explico o porquê
de pensar assim, pelo facto de ser a vítima a ter de sair de casa e, em muitas
das vezes sem ninguém (amigo ou familiar) para a apoiar, outro exemplo,
encontra-se presente nas várias tentativas de denuncia feitas pela vitima que
faz com que muitas das vezes não sejam levadas a sério, entre outros exemplos
e, para isso não encontro nenhuma resposta social, apenas vejo, o apontar de um
dedo”.
Entrevista realizada por Lisete Medeiros
Publicado na página Igualdade XXI no jornal Diário Insular
de 19 de Dezembro de 2012.
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