Catarina Rocha Ribeirinha
É o nome da jovem de 16 anos
natural da ilha Terceira, concelho de Angra do Heroísmo.
Frequenta o secundário na Escola
Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade e como todos os jovens da sua faixa
etária tem sonhos e desejos. Ambiciona seguir para a faculdade quando terminar
o liceu e continuar a jogar futebol.
Agora podemos questionar-nos: “O
que é que a diferencia da maioria das jovens da sua idade?” - A
Catarina joga futebol!
Como tudo começou
Eu comecei a jogar futebol na
escola primária com 7 anos. Primeiro nos intervalos com os meus colegas e
posteriormente aos 9 anos comecei a jogar no Boavista Clube da Ribeirinha com
rapazes, devido à ausência de equipas femininas. Eu via os meus colegas a
jogarem e um dia decidi experimentar, nesse momento eu senti algo que nunca
tinha sentido, um sentimento inexplicável, uma alegria que me fazia acreditar
que podia fazer tudo e isso motivou-me a alimentar esse sentimento.
Ser mulher num
mundo, maioritariamente, masculino
Sinceramente, ainda
há muita descriminação e falta de oportunidades para as mulheres. A aposta em
termos monetários no futebol feminino não representa nem ¼ do que é gasto com o
futebol masculino. Ser mulher num mundo masculino não é fácil. Como podemos
afirmar que há igualdade no mundo se os números comprovam essas desigualdades?
Uma rapariga que queira seguir o seu sonho de ser jogadora profissional com as
condições que há, será muito difícil alcançá-lo. Eu tive de sair do Boavista
porque já não tinha idade para jogar mais numa equipa masculina e a minha única
opção para continuar a jogar foi ir para o futsal. Este ano joguei pela equipa
feminina da Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade.
Medos e dificuldades
Como promover o
futebol feminino
A maioria dos rapazes
acolheram-me bem, tratavam-me como igual e sempre me respeitaram. No entanto,
via-se que outros não gostavam que eu estivesse ali e achavam que por ser
rapariga não sabia jogar e era inferior a eles. As principais dificuldades que
sentia eram o medo de mostrar tudo o que sabia fazer pois em alguns casos se
falhasse, posteriormente deixavam de me passar a bola.
Ganhar credibilidade, respeito e reconhecimento no mundo do futebol
Dentro do clube,
todos me tratavam bem tanto os treinadores como a direção dando-me
oportunidades e credibilidade. No entanto, houve uma vez em que um dos pais de
um jogador perguntou porque é que a “rapariga” estava a jogar e o seu filho
não. Ser uma mulher que joga futebol não é motivo de vergonha, mas sim de
orgulho, porque estamos a representar todas as minorias e a mostrar que elas
também têm talento e valor.
É bom saber que as
pessoas reconhecem o nosso esforço, trabalho e dedicação. Contudo, não se vê
muito reconhecimento aqui na ilha.
Eu gostava que fossem
dados mais apoios, mais oportunidades, mais atenção ao futebol feminino de modo
a termos possibilidades de no futuro representarmos grandes clubes e o nosso
país. Nós também temos valor e temos capacidade de jogar tão bem quanto os rapazes.
Sobre ser mulher no século XXI
Ser mulher, hoje em
dia, é mais fácil do que no passado. Os nossos direitos têm vindo a crescer, as
mentalidades estão a desenvolver-se aos poucos e eu espero que no futuro as
desigualdades tanto no desporto como em oportunidades no mercado de trabalho
entre outras, sejam quase inexistentes.
O papel das
associações feministas
Atualmente, as
associações feministas têm um papel importante. É graças a elas que as mulheres
têm conquistado mais direitos e marcado uma posição que lhes permite falar sem
que as suas opiniões sejam consideradas irrelevantes. É importante que existam
instituições cujos objetivos são a defesa do empoderamento das mulheres e da
igualdade, a fim de alcançar um mundo melhor para as gerações futuras.
Sobre violência doméstica
As opiniões da sociedade quanto a este
assunto dividem-se. Enquanto uns acreditam que essas mulheres estão a exagerar,
existindo comentários como, por exemplo: “"se apanhou, era porque
merecia", outros têm pena delas defendendo uma pena pesada para o agressor
e a denúncia destas situações. Nenhum ser humano merece ser agredido tanto
psicológica como fisicamente. O ditado
"entre marido e mulher não se mete a colher" não se deve
aplicar a situações destas, é necessário denunciar esses casos, pois o
sofrimento humano não deve ser ignorado. Por sua vez, deve-se realçar o papel
das instituições que fornecem apoio e realizam campanhas de apoio à vítima.
Daqui a 10 anos…
Gostava de estar a jogar
numa grande equipa porque é isso que me fará feliz.
Publicado na Página
IGUALDADE XXI no Jornal Diário Insular de 16 de Julho de 2019
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