sexta-feira, 18 de outubro de 2019

DESTAQUE DO MÊS DE JULHO DE 2019

Catarina Rocha Ribeirinha
 
 
É o nome da jovem de 16 anos natural da ilha Terceira, concelho de Angra do Heroísmo.
Frequenta o secundário na Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade e como todos os jovens da sua faixa etária tem sonhos e desejos. Ambiciona seguir para a faculdade quando terminar o liceu e continuar a jogar futebol.
Agora podemos questionar-nos: “O que é que a diferencia da maioria das jovens da sua idade?”  -  A Catarina joga futebol!
 
Como tudo começou
Eu comecei a jogar futebol na escola primária com 7 anos. Primeiro nos intervalos com os meus colegas e posteriormente aos 9 anos comecei a jogar no Boavista Clube da Ribeirinha com rapazes, devido à ausência de equipas femininas. Eu via os meus colegas a jogarem e um dia decidi experimentar, nesse momento eu senti algo que nunca tinha sentido, um sentimento inexplicável, uma alegria que me fazia acreditar que podia fazer tudo e isso motivou-me a alimentar esse sentimento.
 
 
Ser mulher num mundo, maioritariamente, masculino
Sinceramente, ainda há muita descriminação e falta de oportunidades para as mulheres. A aposta em termos monetários no futebol feminino não representa nem ¼ do que é gasto com o futebol masculino. Ser mulher num mundo masculino não é fácil. Como podemos afirmar que há igualdade no mundo se os números comprovam essas desigualdades? Uma rapariga que queira seguir o seu sonho de ser jogadora profissional com as condições que há, será muito difícil alcançá-lo. Eu tive de sair do Boavista porque já não tinha idade para jogar mais numa equipa masculina e a minha única opção para continuar a jogar foi ir para o futsal. Este ano joguei pela equipa feminina da Escola Secundária Jerónimo Emiliano de Andrade.
 
 
Medos e dificuldades
A maioria dos rapazes acolheram-me bem, tratavam-me como igual e sempre me respeitaram. No entanto, via-se que outros não gostavam que eu estivesse ali e achavam que por ser rapariga não sabia jogar e era inferior a eles. As principais dificuldades que sentia eram o medo de mostrar tudo o que sabia fazer pois em alguns casos se falhasse, posteriormente deixavam de me passar a bola.
 
Ganhar credibilidade, respeito e reconhecimento no mundo do futebol
Dentro do clube, todos me tratavam bem tanto os treinadores como a direção dando-me oportunidades e credibilidade. No entanto, houve uma vez em que um dos pais de um jogador perguntou porque é que a “rapariga” estava a jogar e o seu filho não. Ser uma mulher que joga futebol não é motivo de vergonha, mas sim de orgulho, porque estamos a representar todas as minorias e a mostrar que elas também têm talento e valor.
É bom saber que as pessoas reconhecem o nosso esforço, trabalho e dedicação. Contudo, não se vê muito reconhecimento aqui na ilha.
 
 
Como promover o futebol feminino
Eu gostava que fossem dados mais apoios, mais oportunidades, mais atenção ao futebol feminino de modo a termos possibilidades de no futuro representarmos grandes clubes e o nosso país. Nós também temos valor e temos capacidade de jogar tão bem quanto os rapazes.
 
Sobre ser mulher no século XXI
Ser mulher, hoje em dia, é mais fácil do que no passado. Os nossos direitos têm vindo a crescer, as mentalidades estão a desenvolver-se aos poucos e eu espero que no futuro as desigualdades tanto no desporto como em oportunidades no mercado de trabalho entre outras, sejam quase inexistentes.
 
O papel das associações feministas
Atualmente, as associações feministas têm um papel importante. É graças a elas que as mulheres têm conquistado mais direitos e marcado uma posição que lhes permite falar sem que as suas opiniões sejam consideradas irrelevantes. É importante que existam instituições cujos objetivos são a defesa do empoderamento das mulheres e da igualdade, a fim de alcançar um mundo melhor para as gerações futuras.
 
Sobre violência doméstica
As opiniões da sociedade quanto a este assunto dividem-se. Enquanto uns acreditam que essas mulheres estão a exagerar, existindo comentários como, por exemplo: “"se apanhou, era porque merecia", outros têm pena delas defendendo uma pena pesada para o agressor e a denúncia destas situações. Nenhum ser humano merece ser agredido tanto psicológica como fisicamente. O ditado   "entre marido e mulher não se mete a colher" não se deve aplicar a situações destas, é necessário denunciar esses casos, pois o sofrimento humano não deve ser ignorado. Por sua vez, deve-se realçar o papel das instituições que fornecem apoio e realizam campanhas de apoio à vítima.
 
Daqui a 10 anos…
Gostava de estar a jogar numa grande equipa porque é isso que me fará feliz.
 
Publicado na Página IGUALDADE XXI no Jornal Diário Insular de 16 de Julho de 2019

 

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